Tudo ou nada
Morreu Margarida Marante.
Nos anos 80 era a mais gira, a mais nova, a mais esperta e a mais influente jornalista da única televisão portuguesa.
Nos anos 90, acrescentou poder ao sucesso anterior. Foi a figura central da informação da primeira televisão privada. A mais vista e a mais assertiva. Com Emídio Rangel, Margarida Marante formava uma dupla respeitada ou temida no País. Nas suas mãos cairam ministros e coligações políticas. Na sua antena revelaram-se candidatos e entenderam-se bastidores. Na sua expressão encontrava-se parte das respostas que ficavam por dar.
Nem sempre concordava com o seu protagonismo mas sempre suspeitei que podia haver aí alguma pena de o não ter. Lembro-me ainda do dia em que ela procurou chegar perto de João Paulo II, na Universidade Católica, em 1982, e foi afastada por um segurança que disse: «No, no, no, no!». O Papa viu e respondeu: «Si, si, si!» deixando-a profundamente comovida.
Muito depois, a vida mudou. E o País não permitiu que a estrela perdesse momentaneamente o brilho. Somos severos com os importantes.
Há vários anos que encontrava Margarida Marante no supermercado ou na rua. Quero crer que não nos conheciamos o suficiente para lhe dizer que as pessoas não dependem do reconhecimento público. Mas não disse.
Margarida deixa três filhos e a memória justa de quem nos tentou dizer mais do que sabíamos na construção de uma democracia imperfeita.
1 comentários:
Querida Inez
Uma mulher nova que deixa 3 filhos. Era pouco mais velha que eu.
O resto aí fica. No que se viveu,disse e aconteceu.
Não concordo com a sua frase de "Somos severos com os importantes".
( a não ser que esteja a referir-se aos que o são por honestidade )
Metade, diria até, mais de metade dos importantes, até alguns no poder, deviam estar na cadeia e...aí andam a cortar o bacalhau.
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