terça-feira, 22 de maio de 2012

Quem gosta da inovação?

Mais um dos lugares comuns da nossa época. Quem gosta da inovação? Toda a gente. E como de costume, quando todos aplaudem, é muito possível que estejam a dizer coisas diversas e com diversas intenções.




Há uns anos havia uma série de televisão britânica em que todos os ministros concordavam com a igualdade entre homens e mulheres, salvo no respectivo ministério, que tinha sempre boas razões para não a aplicar. A relação que muita gente tem com a inovação é da mesma natureza.



Vejamos em primeiro lugar o que não é inovação.



Muitas vezes vejo criaturas apresentar um “paper vindo dos Estados Unidos” que mostra a últimas inovações seja em que matéria for, e estão muito entusiasmados com ele. Seja para mera contemplação, seja para o aplicar, quem segue esta via não faz inovação. Apenas segue a inovação dos outros. Se para seguir as melhores práticas, outras práticas, piores ou não, não interessa. Pode ter sentido de melhoria, de aprendizagem, admite-se. Mas o que interessa é que não é um inovador. Apenas segue a inovação dos outros. Inovadores são os outros. Aqueles são apenas seguidores.



Também não é cultivar a inovação fruir das inovações alheias. Usar telemóveis, computadores, o que seja, não é inovar. É apenas fruir da inovação alheia. E quanto mais se integram essas inovações na vida das pessoas menos se caracterizam pela inovação. Apenas se incrustam na trivialidade quotidiana das pessoas. Estes são apenas fruidores.



Fica então por saber o que é gostar da inovação, estar pronto para ela. Significa basicamente três coisas.



Em primeiro lugar aceitar o processo de inovação dentro a sua organização. E esse processo tem um nome simples: estranheza. A inovação dirige-se para o futuro, ou seja, para o vazio, ou para o infinito de possibilidades, o que no caso vem a dar ao mesmo. Querer inovação é aceitar estranheza por uma razão básica. Se os conceitos de base, se o percurso nos forem familiares, não se está a inovar. Nem tudo o que é estranho é inovador, mas tudo o que é inovador começa por ser estranho.



É a velha expressão de Hadamard “pensar ao lado”. Hadamard dizia que as grandes revoluções na ciência eram feitas por pessoas que pensavam ao lado. Se uma organização não está aberta para quem pensa ao lado, não inova. Apenas segue a sua rotina, as práticas mais conhecidas. Vive a sua vidinha.



Em segundo lugar, significa querer transdisciplinaridade. Transdisciplinaridade não é multidisciplinaridade. Esta é a apenas uma conjunção. Transdisciplinaridade significa estar aberto a outras disciplinas, ser capaz de comunicar com elas. As inovações em todas as áreas foram sempre feitas por pessoas que ligaram duas ou mais matérias muito afastadas entre si. Heisenberg verificou-o e os exemplos são múltiplos. Quem dedicou uma vida inteira apenas a estudar direito, ou economia ou gestão não é um inovador.



Nas nanotecnologias inova-se porque se ligam física, matemática, química, engenharias, biologias, virologia. Euler inova porque relaciona na sua célebre equação a trigonometria, a álgebra e os números complexos. Os computadores resultam da confluência da lógica matemática com a física quântica. Toda a inovação é relacionação do distante.



Em terceiro lugar, inovação implica indiferença perante os títulos. Quem distingue administrador de administrativo não inova. Uma boa ideia é boa independentemente de quem a emite. Um país, uma organização, que dêem muita importância aos títulos, nunca serão inovadores. Os títulos são sempre o congelamento de um passado. Mostra o nome do que uma pessoa fez. Nada nos diz sobre o seu futuro.



O maior professor catedrático de física do mundo, Planck, chama um simples funcionário de um escritório de patentes da Suíça. Dá-se o caso de este se chamar Einstein. Os países nórdicos inovam mais que a Europa do sul. Porquê? Precisamente porque são mais indiferentes aos títulos sejam académicos, sejam empresariais, sejam organizacionais. Uma ideia é boa ou má, não é dourada ou o seu contrário.



Por isso, quem diz que gosta de inovação ou que acha muito importante a inovação está a desejar que os outros façam coisas novas, eventualmente estará a fazer mero discurso de rotina, mas não é alguém que esteja disposto a introduzir inovação nas suas esferas de actuação. Já se alguém disser outra coisa, talvez seja realmente alguém aberto à inovação. Essa outra coisa é simples: aceito a estranheza, quero a transdisciplinaridade, sou indiferente aos títulos.









Alexandre Brandão da Veiga



2 comentários:

Fábio Araújo disse...

Parabéns! Ótimo blog, belas postagem.
Estou seguindo.
Este é o meu blog: Pres. Médici Noticias do dia a Dia http://noticiapresiddentemedici.blogspot.com.br/
se poder por favor per uma passadinha e seu comentário

miguel vaz serra....... disse...

Inovar......... Deixo uma cartinha se me dá licença.
É para a Chanceler alemã:

"Sehr geehrte Frau Merkel.
Sou um cidadão português. Portugal fica na Península Ibéria e faz fronteira com o Oceano Atlântico e o Reino de Espanha.
Gostaria de a ajudar com a Geografia do seu País.
Berlim não fica na Rússia, é a Capital do seu País. Fica do lado direito do mapa do mesmo, perto sim mas da Polónia.
Como fronteiras tem mar, Holanda, Suíça, Áustria, Republica Checa, Dinamarca, França, Bélgica e claro, como esquecer, a Polónia .
Não tem Rússia alguma perto nem pouco mais ou menos. Para chegar a território Russo tem que atravessar pelo menos um País já que eles mantêm ali uma ilhazinha apertadíssima entre a Polónia e a Lituânia, vá-se lá saber porquê.
Agra entendo muita coisa. Se soubesse bem História e Geografia saberia onde está a Grécia e a dívida imensa que a Alemanha tem à mesma vinda dos tempos das duas grandes guerras, ambas começadas no seu território e que o seu País nunca pagou.
Atenciosamente
Miguel Vaz Serra"