Descarrilar
««- Mãe, quando chegamos?
- Ainda demora, aguenta, é a vida.
- O que é a vida, Mãe?
- A vida era nós as duas numa piscina, sinal que a Mãe era rica e não precisava de ir trabalhar.
- Oh Mãe, então isto não é vida?
- Não, Filha, isto não é vida».
Esta conversa, no banco de trás da 1ª classe / conforto do Alfa Faro - Lisboa, entre uma criança de três anos e a sua Mãe, deu-se no exacto dia em que saíram novos números sobre o desemprego em Portugal. A miúda era um amor, fazia uma conversa inteligente, animada, sem incomodar. Mas tive vontade de me levantar e de chamar todos os nomes que me ocorressem àquela Mãe. «Burra! Incompetente! Ingrata! Preguiçosa! Alienada! Mimada! Limitadíssima! A cair de parva!», e mais que viesse. Como é possível, com o País no estado em que está, ir para o trabalho depois de umas férias no Algarve e não dar Graças a Deus pelo emprego e pela possibilidade de passar uns dias na praia?! Como se desperdiça uma pergunta destas? «A vida era nós as duas numa piscina sinal que a Mãe era rica e não precisava de trabalhar».
Não vamos lá assim.
O amor salva, o trabalho regenera, a produtividade destribui, a ambição mobiliza e a educação prepara.
5 comentários:
Bom dia,
Fazia que não passava por aqui.
Mas aquela de estar junto ao Mar e preferir a peiscina deixa muito a desejar.
Esta mãe devia ter feito alguma pedagogia positiva, dando graças por tudo que têm, numa fase em que há tanta pobreza e desemprego.Mas a sua ambição não deixa de ser positiva, porque provavelmente irá lutar por aquilo que deseja, inclusivé quem sabe encontrar um melhor emprego, apostar em ser uma empresária de sucesso, é sempre bom querer mais, com bom senso e inteligencia, ficar contente com o que já se adquiriu na zona de conforto,não é muito aconselhável!!
Agradeço os comentários.
Lutar pelo que se deseja ter não é lutar pelo que se deseja ser. Nada levamos. Nem os faraós.
O idealismo deve existir declarado, através da conquista do poder como uma batalha nada prosaica.
Penso que a vantagem de votos Obama se deu pela recolha de idealismos patentes e latentes.
Mas nestas coisas lembro-me sempre do livro sobre o estado social português, compilado por António Barreto, segundo o qual Filomena Mónica dizia, no seu capítulo, que nos anos 60 a ambição deixou de ser um pecado. Será que voltou a sê-lo?
Caro Prada, reconheço esse texto. Fui eu que o escrevi, não fui? Ou estou a fazer confusão?
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