terça-feira, 22 de junho de 2010

A utopia, a festa e a parvoíce


Estive recentemente em Paris, Marselha e Aix en Provence e, nos três destinos, deparei-me com o uso da bicicleta como transporte municipal. Basta um pequeno cartão (a primeira meia hora é grátis favorecendo a rotatividade), parques com bicicletas nas esquinas mais frequentadas, uma rede de ciclovias, faixas de autocarro à disposição e pode dizer-se que a utopia funciona.
Erro. Funciona em Paris e em Aix.
Os planíssimos e longos quarteirões de Lutécia tornam-se percorríveis com a agradável sensação de liberdade, cabeça ao vento, cenários e luzes sem filtros de vidro. Dia e noite, a cidade revela-se, magnífica e próxima. Dá-nos um sentimento de pertença. Transporta-nos para um filme idílico do qual somos protagonistas sem esforço.
Em Aix en Provence, é menor o contraste. As ruinhas e praças com fontes da capital medieval do Sul de França, muitas sem acesso de carros, tornam este transporte numa solução natural, antiga, retomada, sem novidade. As distâncias são muito curtas e o expediente do cartãozinho parece desnecessário. Mas também se repete a agradável sensação de pertença e sossego de pernas.
Mas em Marselha, bastam os ligeiros declives que emergem do porto e do centro da cidade para tropeçar, em cada esquina, naquele investimento paralisado. Já não falo na subida à Igreja de Notre Dame, também cidade, ou no passeio pela marginal a que chamam Corniche. É claro que lá andam alguns furiosos do pedal, com capacete, licras, costas vergadas ao volante e ao suor. Mas não é nada disso que nós, mortais com alegria de viver, queremos para as nossas vidas.
Moral da História: Lisboa é ainda mais acidentada do que Marselha. Deixou-se forrar por quilómetros de ciclovias socialistas que prometem maranhar pelas sete colinas. Deixem-se ficar pelo rio e pelas Avenidas do século XX. O resto é impenetrável. Diz-me quem sabe que se pode estudar um sistema complementar de bicicletas e transportes públicos aplicado em cidades acidentadas do Norte europeu. Não vejo quais, não vejo como.
(PS: Soube entretanto que estas comodíssimas bicicletas são construídas no Norte de Portugal)

6 comentários:

miguel vaz serra.... disse...

"Ele" ha gente para tudo,e nos podemos usar as de montanha como para os lados da Covilha :)

paulo disse...

Já agora como uma pequena contribuição,aquelas bicicletas cinza muito giras e que estão presas a uma barra central, são, na realidade, produtoras de energia. Têm um dinamo integrado, um pequeno acumulador/bateria e o cidadão no fim da seu trajecto descarrega para a rede a energia que produziu. Catita não? Só estranho como ainda não se lembraram de algo parecido no nosso país, com a vontade de nos sacarem tudo...

Inez Dentinho disse...

Um espanto!

Táxi Pluvioso disse...

Mas as portuguesas ficarão com óptimas pernas (se usarem a bicla em Lisboa). bfds

miguel vaz serra....... disse...

Por uma vez concordo com o "ainda" PM: http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1603369
Ou se desfaz o Governo ou deve calar-se bem caladinho...Isso de agradar a gregos e troianos ja nao pega...Hoje em dia Portugal QUER ideias BEM claras...Estamos a ficar passados de moda,estamos?hummm
Isabel II ha uns anos queixou-se do mesmo!

Marota disse...

Taxi Plovido, duvido que fiquemos com as pernocas bonitas ;) acho que ficamos é com elas cheias de nódoas negras ou pernetas a 100%. Com o civismo que rege nas estradas portuguesas, já estou a ver um cenário à la Stephen king. Cumps da Marota