quinta-feira, 16 de abril de 2009

O último post

Este é o meu último post no meu primeiro blog, o “Geração de 60”. Sinto-me muito infeliz por ir embora. E um bocadinho feliz por saber que estou livre e posso, agora, fazer tudo o que me apetecer, a começar por não escrever nem mais uma linha nos próximos 7 anos.
Outros valores se levantaram, não necessariamente mais altos. Ainda por cima, tinha acabado de convidar o Miguel (sim, o MEC) e o João (claro, o JPC), e ao abrigo de uma resma de artigos de caserna que regem as relações de rapazes da nossa idade frequentadores de tasquinhas onde se come um decente peixe grelhado e nunca escalado, eles entendem que devem sair também. Pelos inconvenientes causados aos meus adorados companheiros de blog e aos meus dois recentíssimos convidados, apresento-me a Sua Majestade a blogosfera, como o velho Egas, de corda ao pescoço. Conto com a Sua infinita misericórdia.
A questão – sair ou não sair – nem é estética, nem política, nem moral. O mundo está sério, dramático e a pedir tanta acção que o lema que me trouxe para o “Geração de 60” – chatices não! – já olha para mim de lado, e com ar sarcástico e ameaçador. Faço-lhe a vontade e vou sentar-me no meu cantinho hedonista. É que não me apanham, nem a escrever comentário anónimos.
O que interessa é que o “Geração de 60” continua. Já não tenho nada que me meter, mas arrisco-me a profetizar que, respondendo a estes tempos de perplexidade presente e futuro de solvabilidade incerta, o blog vai ser directo e contundente como nunca, focando-se no seu propósito cívico inicial. Para mim, ter convivido com as pessoas talentosas, brilhantes e generosas que o constituem, foi “one hell of a ride” – e se, como espero, um destes meus co-bloggers chegar a primeiro-ministro, garanto-vos que Portugal ficará decente e honestamente servido.
Mas não quero, nem é assim tão apaixonante, adivinhar o futuro. Se há paixão é sempre no passado e, ao longo destes dois anos, os meus camaradas do “Geração de 60” deram-me tudo: ternura, emoção, gentileza e sincera amizade. Meço as palavras e recordo o que pouco recomendável Bukowski disse num dos seus raros dias de sobriedade: “That’s what friendship means: sharing the prejudice of experience.
Devo ao Pedro Norton o convite. O Pedro foi cúmplice mesmo nas quando tropecei em disparatadas divagações, poupando-me a desmentidos e contraprovas que arrasariam a reputação do mais pintado dos engenheiros, quanto mais a minha. Eu ia falar do “La Chunga”, infame cabaret da coxa que estamos sempre a apontar à cabeça um do outro, mas isso seria roubar um mote que lhe é querido e que, estou certo, ainda dará brilho a uma dezena dos muitos posts que há-de escrever.
Vou-me embora, já a morrer de saudades, mas com um baú recheado de recordações calorosas. As almas conspirativas podem estar descansadas: as partilhas vão ser fáceis e ninguém pedirá pensão de alimentos.
Viva o “Geração de 60”. Até sempre.

Good-night? ah! no; the hour is ill
Which severs those it should unite;
Let us remain together still,
Then it will be good night.

24 comentários:

ludovico disse...

Uma desagradável surpresa... Pouco se mostraram aqui os grandes espíritos MEC e JPC mas os "soul gestures in southern blue" do MSF foram, sempre, objecto de devida fruição. E continuarão a ser apreciados, independentemente da latitude onde se produzam.
Um desejo formulado à aparente reestruturação do G60: que não seja igual às do SLB em Julho...

Táxi Pluvioso disse...

Essa é boa, mais uma partida no nevoeiro das barbas brancas. Então o presidente Baráque já não trouxe claridade e certezas ao mundo? Com sangue português na Casa Branca compete aos portugueses escreverem epopeias e não retirarem-se numa actividade indefinida.

Happiness...

Anónimo disse...

Pela minha parte dois comentários bastam:
1 - Obrigado
2 - Pode ser o fim da participação do MSF nesta aventura mas «I think this is the beginning of a beautiful friendship».
Até sempre

Gonçalo Pistacchini Moita disse...

Meu querido Manuel Fonseca:
Não farei aqui, publicamente, as declarações de amizade eterna que recatadamente fiz em privado. Assumo, no entanto, publicamente, que fiz declarações de amizade eterna em privado. E que eram sinceras. E que a pena é muita. E que a dor é grande. E que o geracaode60.blogspot.com, seja no passado, no presente, ou no futuro, não será nunca mais o mesmo que aquele que até hoje foi e era e poderia ter sido. Entre nós, ficam o conhecimento e a amizade feitos aqui e em alguns jantares, que, pela minha parte, não esquecerei e pelos quais viverei para sempre obrigado.
Um grande abraço
Gonçalo

dj duck disse...

Meus Caros Amigos e Amigas,
O blog não vai terminar pois não?
Abraços e Beijinhos
dj duck

Manuel S. Fonseca disse...

Estou para aqui num pranto desalmado, mas não quero deixar de agradecer, enternecido, as despedidas do ludovico, táxi, pedro e gonçalo.
Ao dj duck, quero dizer que não vejo nenhuma razão para o blog acabar. Mais do que nunca, o Geração de 60 faz sentido e deve ser uma referência.
Entretanto, na atrapalhada agitação das despedidas, reescrevi o post directamente no blogger e saiu com 3 gralhas que quero corrigir.
No párágrafo 3, onde se lê comentário anónimos, deve ler-se "comentários anónimos".
No parágrafo 5, quando falo do Bukowski, a frase correcta é "o que O pouco recomendável Bukowski".
E no parágrafo 6, onde se lê "O Pedro foi cúmplice mesmo nas quando..." peço-vos que leiam só "O Pedro foi cúmplice mesmo quando..."
Obrigado e mandem mais miminhos.

MIA disse...

Querido Manuel
Então aqui seguem mais uns mimos.
As tuas "divagações" vão fazer falta. MAs de certeza que outras também terás durante esses "7 anos" afastado de qualquer tipo de post. ;)
Aguardarei o próximo "Primeiro post".

Beijinho grande
Maria Inês

Sofia Rocha disse...

O Manel foi um estalajadeiro hospitaleiro e amigo.
Agora decidiu ir correr mundo. Deixa-nos as chaves para tomarmos boa conta da casa.
Boa viagem, dê notícias.
Obrigada por me ter recebido tão bem.
Um abraço.

joão wemans disse...

Aproveito estes últimos instantes para partilhar umas linhas do nosso Fernando Pessoa, escritas em 1934, que li ontem:

As coisas que errei na vida
São as que acharei na morte,
Porque a vida é dividida
Entre quem sou e a sorte.

As coisas que a sorte deu
Levou-as ela consigo,
Mas as coisas que sou eu
Guardei-as todas comigo.

E por isso os erros meus,
Sendo a má sorte que tive,
Terei que os buscar nos céus
Quando a morte tire os véus
À inconsciência em que estive.


Com um abraço deste Amigo que sou

João Wemans

Anónimo disse...

Faço votos que concorde comigo, e que (re)considere, de facto a maior gralha em branco por corrigir é a data, este post não pertence ao dia 16 (está lá um 6 a mais), mas ao dia 1 de Abril.

Quanto ao MEC e ao JPC, por mim, não querem ou não gostam de escrever aqui, - num Blog de ideias e considerações manifestamente útil ao país - não escrevam, problema deles, felizmente o que não falta a este país é bloggers e escritores inteligentes e talentosos ...

Com os melhores cumpts.,
CCInez

Anónimo disse...

Bem, eu estou que não posso. Amizades assim são raras, rapazes. Um diz que está muito infeliz por deixar de escrever num blogue, e outro diz que a dor é grande por vê-lo deixar de escrever num blogue e faz-lhe juras de eterna amizade. Acabei de ler ontem a Filha do Arcediago, do Camilo, e confirmo que comparado com o comentário do Gonçalo, as cartas do pintor pobre têm nenos lirismo do que o caderno do deve a haver do comerciante corno da rua das flores. sursun corda. O post de despedida do Manuel é estiloso, tem peixe grelhado, é lindo, como dizem as meninas, mais linda ainda a fotogafia com os tons cinzento blasé da praxe, mas não percebi nada. Já disse que está lindo? Está lindo. O MEC andou por aqui enfadado, mandou umas bocas, muito elogiadas, com montes de pilhéria, joly good, old boy, e saiu mais enfadado do que entrou. O outro golden boy, o JPC, nem apareceu. Num blogue colectivo com comentários? Tá bem, tá... o MEC criou a sua corte no pastilhas, chocou ai a sua gentry, mas já se deixou disso. O JPC.Nem.Uma.Palavra.Para.A.Canalha.E o Manuel vai-se embora, Comer.Peixe.Grelhado.Adeus.

Pedro

Vasco M. Grilo disse...

Um grande abraço Manuel. Fica a esperança de o conhecer em pessoa um destes dias. Não sou um grande apreciador de peixe grelhado mas estarei sempre pronto a debicar uns prosaicos tremoços na sua companhia.
Até sempre.

Manuel S. Fonseca disse...

À MIA que veio com mimos, à Sofia que já me vê em desenfreado nomadismo, aos comentadores reais e constantes que são o João Wemans e CCInez, ao Vasco que espero tratar tu cá, tu lá entre imperiais e tremoços, quero agradeço a generosa simpatia. Ao cáustico e camiliano Pedro anónimo, a casa já não é minha, mas volte sempre.

Anónimo disse...

no estrangêro as esquinas são angulosas, the faces of people strange... inviting to authism.

Anónimo disse...

bem ajas rapaz, e nunca te esqueças: non postare piú en blogs con kommnts anonimus

Anónimo disse...

Você é um good sport, Manuel, mas olhe que ainda estou enjoado com a fotografia, arghh. Quanto a voltar sempre, não me tente... mas isto teria mais piada com o JPC, hihihi

Pedro

Miguel Poiares Maduro disse...

Caro Manel,

As chaves ficam debaixo do tapete. Volta sempre: de visita ou para residir novamente. Terás sempre o quarto que mereces: a suite principal.
O resto, em parte já foi dito em privado mas muito mais terá de ser dito num jantar apropriado com muitas lágrimas e gargalhadas à mistura.
Um grande abraço e obrigado por tudo
Miguel

Minderico disse...

Tá mal. Mas afinal o que se passa com o Manuel?

Anónimo disse...

non recto regardare piu

Manuel S. Fonseca disse...

Ó Miguel, tomei boa nota do prometido e pantagruélico repasto.Sem prejuízo da reserva de direito de admissão aos jantares do blog, espero que haja convívios abertos a ex-membros.
Minderico, ando em fase de contenção. Não sei porquê, nem para quê, mas alguma coisa há-de acontecer. Como já sabia, e agora pode comprovar, a saída do Pnet foi só o resultado deste meu "altered state".
Mas, como se diz no comentário do último anónimo acima, não vale a pena olhar para trás, até porque "In rebus humanis, nihil firmum".

Anabela G. disse...

Anda aqui uma pessoa distraída com a vida real e leva assim um estalo destes. MSF: no G60 os seus escritos eram como chocolate com pimenta (uma delícia!): muita sabença temperada com aquele quê que só alguns conseguem por muitas cátedras que ostentem.
Venham lá esses posts, em forma de crónica, livro ou o que quiser. E onde quiser.

joão wemans disse...

Este elogio merece resposta...

JW

Manuel S. Fonseca disse...

Mas que sereia que a Annnna me saíu. Sinto-me um Ulisses liberto das amarras. Amanhã, meto-me na carro e, de velas desfraldadas, vou até Guimarães procurá-la nas ameias do castelo. Se me dá licença, mando-lhe um beijo.

cjt disse...

felicidades, até breve.