quarta-feira, 8 de abril de 2009

II. O que é a História?

O que se dá hoje em dia é uma mistura de fenómenos antigos com modernos. De antigo, o facto de todo o analfabeto se entender como especialista em História. Nunca a estudou, mas dedica-se “apenas” ao que de mais difícil esta tem: a síntese histórica. A Europa é isto e não é aquilo. Por sua sorte a História da Europa é curta e pouco rica, por isso qualquer edição do Reader’s Digest ou revista económica pode dizer em quarenta palavras tudo sobre a matéria.

De novo apenas o de que todo o destituído, não apenas se sente autorizado a falar na matéria, mas igualmente quer impedir que pessoas autorizadas falem. Ou tapando os ouvidos, ou mandando-as calar. Aprendeu no liceu umas banalidades e quer impor essas banalidades pouco verdadeiras como paradigma do mundo.

Do que se esquece é desta sementezinha que fez a História. A História é investigação. Não sabe História quem antes não a investigou, não foi atrás dele, não se perdeu nos seus imensos meandros e não encontrou referências no meio desse magma imenso de vidas humanas já passadas. Em nenhuma matéria se sabe se não se investigar, se não se estudar. Mas a História traz no seu próprio nome esta corveia.

A verdade é que não é de causar espanto que muitos destes desprovidos sejam anti-históricos. São contra a investigação, umas vezes atacando experiências genéticas, em geral atacando qualquer procura. Estão cheios de certezas absolutas, a começar pela de que elas não existem, e querem impedir os outros de procurar o saber.

A História, pela sua própria origem, implica procurar fora de si. Mas procurar o quê? A coisa poderia ter corrido de outra maneira, mas cristalizou-se e não por acaso, no ser humano. A História natural, expressão que durante milénios e pelo menos até ao século XX ainda se encontrava (ainda há restos dessa expressão nos museus de História Natural), cedeu cada vez mais o seu lugar à História sem mais. A História dos homens.

E que verificamos nessa História dos homens? Que as coisas mudam, e que os graus de mudança são diversos consoante as culturas, as épocas ou dentro da mesma época e cultura, consoante os estratos dessa mesma cultura. A economia, a tecnologia, as relações de parentesco, as estruturas de poder, os traços de mentalidade não têm a mesma fluidez, obedecem as constantes e variáveis diversas.

1 comentários:

joão wemans disse...

Muito obrigado por mais esta reflexão sobre a História.
Sendo analfabeto na matéria, tenho no entanto um ponto em meu favor, na medida em que tem estimulado a minha procura - a curiosidade.
De leituras da obra de Franco Nogueira recordo uma frase que diz isto: de todos os factores que mudam, ao longo dos tempos, o que menos muda é o Homem.

João Wemans