Os dois mitos
Assente a poeira do PREC e até 2005, existiam em Portugal dois mitos, no que ao Primeiro-Ministro dizia respeito.
Um, ideológico: o Primeiro-Ministro ou seria de direita ou seria de esquerda.
O outro, de natureza pessoal: o Primeiro-Ministro seria uma pessoa com uma formação académica e profissional digna de nota e reconhecida (curso superior clássico em Universidade de prestígio), carreira, formação sólida e diversificada, fluente em línguas, versado em matérias e conhecimentos vários.
A par da sua formação académica de excelência, também era aconselhável que do ponto de vista do carácter, cumprisse os "requisitos mínimos" commumente aceites.
Tanto assim foi que tivemos um Primeiro-Ministro que, embora nele se verificassem os dois pressupostos enunciados (de direita e com formação académica de relevo, completada em Inglaterra, e sem que houvesse quaisquer objecções do ponto de vista do carácter), ainda assim sempre foi olhado de lado por muitos por causa da sua modesta origem social.
Esses dois mitos cairam por terra em 2005.
Passámos a ter um Primeiro-Ministro que adoptou medidas típicas de direita e de esquerda, adoptando-as de acordo com as circunstâncias, sucessiva e indistintamente, de tal forma que se acabou com o primeiro mito.
Quanto ao segundo mito, o da excelência da formação académica e de um percurso profissional, o domínio de vários saberes, línguas, etc, a situação é pública e todos a conhecemos.
Aquilo a que estamos a assistir de uma forma genérica,é a chegada ao poder de pessoas para quem a política, e a posse do poder, é a única profissão que tiveram, têm ou terão.
Aliás, também o PSD teve um candidato a disputar a liderança de quem podemos dizer sensivelmente o mesmo no que se refere à ausência de verificação desses dois mitos.
Não me parece que seja por acaso que isto sucede. Ou que sejam episódios. Ou que seja uma moda passageira. E muito menos que tudo voltará ao "normal".
Os tempos mudaram definitivamente e vão aparecer mais casos semelhantes, isto já é "normal", isto passou a ser a "normalidade".
O que significa que temos de encarar a política e os políticos à luz de outras perspectivas, já não à luz desses dois mitos.
Fingir que ainda se verificam, e juntos na mesma pessoa, é um erro fatal para quem está no combate político e tem o mesmo interesse de dar murros em ponta de faca.
4 comentários:
Mitos ligeiros em pais pequeno.
Ouça, mas isto é "normal" para quem?
Por muito menos do que aquilo que tem vindo a público fez-se cair o governo de Santana ( que aliás é outro exemplo acabado de alguém que obedece aos seus critérios ).
Realmente muito me espantou a mansidão bovinaa que assisti quando os factos da licenciatura se tornaram públicos. Agora já muito menos me espanta. Sabe porquê? Emigrei.
Antes isso do que ver o meu país a afundar-se no lodo.
Tenho pena mas a situação continuará sem remédio. Não alimente grandes esperanças. Emigre.
Caro Carlos Cidrais,
Para onde emigrou? Gostava de saber. Se encontrou um sitio que vale a pena talvez me tente....
Por acaso ando a pensar "emigrar", mas porque com o MEC aqui no blog, fiquei com vergomha de escrever.
Aliás, peço-lhe que nunca escreva a seguir a mim para não se tornar óbvia a diferença.
Seria como saír para a "night" com uma amiga muito gira, nem pensar!
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