Il Primo Saggio
Entramos finalmente. Atrasados. Ofegantes. Ocupamos duas pequenas cadeiras de pau. Em torno, semblantes apreensivos e alguns olhares quase hostis. O ar, pesado, húmido. Tenso.
Dou a mão a minha mulher e lanço-lhe um último e furtivo olhar. Uma ruga que nunca vi está ali, profunda e rasgada sobre a sua fronte. Suspiramos nervosamente. Síncronos. Estamos ainda a tempo de abandonar a sala.
O primeiro e o segundo começam bem e acabam melhor. Magníficos na arte e elegantes na pose.
Por fim o momento esperado. Levanta-se e aproxima-se descontraído. Faz uma vénia e senta-se com as mãos sobre os joelhos. Quando depois de cinco intermináveis segundos finalmente as levanta e as posiciona precisas sobre o marfim, sustenho a respiração e fecho os olhos. Cravo as unhas na mão que aperto. Esqueco-me da câmara que trouxe no bolso.
Já cá fora fumo fremente o primeiro cigarro após uma longa semana de abstinência.
Estou orgulhoso de mim próprio.
Só falhou três das dezoito notas de “Il Cavalluccio di Legno” de um tal James Bastien.
Sobrevivi corajosamente ao primeiro recital de piano do meu filho.
1 comentários:
Parabéns, Vasco! Pelo pianista e pela descrição. Foi (quase) como se estivéssemos lá e, por isso, agradeço a partilha.
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