I Em nome da matemática
O lugar comum é o de que a sociedade do futuro é uma sociedade de conhecimento. Nem vou discutir esta questão agora. Aceito a premissa. Mas quando os jornalistas nos querem falar da sociedade de conhecimento, que mostram eles? Máquinas e tecnologias. Ora, as máquinas e as tecnologias não são conhecimento. São um resultado ou um instrumento desse conhecimento.
Só há uma sociedade de conhecimento quando se esteja pronto a enfrentar, discutir e estudar os elementos desse conhecimento. Por isso falar em nome da matemática é infinitamente mais importante que falar em novas tecnologias ou máquinas.
Confesso que há três coisas que admiro nos matemáticos, que estão intimamente ligadas entre si: o génio, a noção de hierarquia e a probidade.
Mas a matemática está inquinada de uma vizinhança de malentendidos e de lugares comuns que são particularmente agastantes.
A matemática são fórmulas.
Realmente? Algumas das obras mais fundamentais para a História da matemática não têm uma única fórmula. A lição inaugural de Riemann em que pela primeira vez se destrinça na geometria a métrica e a topologia. Os textos de Frege sobre os fundamentos da matemática.
Fórmulas é a colecção Shãun da MacGraw Hill, o exemplo máximo do que não é a matemática. Fórmulas, exercícios resolvidos, exercícios por resolver. Fórmulas, exercícios resolvidos, exercícios por resolver. Trabalho mecânico em que nada há de matemática em sentido próprio e na sua grandeza.
O que subjaz a este lugar comum é algo bem diverso. É a ideia de que matemática não é cultura. Nada mais falso. A matemática é uma forma superior de cultura, mesmo uma forma superior de poesia. Mais ainda: se em todas a áreas existem diversas modalidades de criadores, a matemática apresenta-os na maior paleta de diversidade. Há matemáticos artistas, como Euler e Poincaré, mais intuitivos, aglutinadores, encontrando em cada recanto que tocam problemas, caminhos e soluções matemáticas. Há filósofos, como Pascal e Leibniz, que a cada passo matemático vêm implicações filosóficas e teológicas e vice-versa. Há matemáticos eruditos, como Hilbert e Lindemann.
A matemática é séria.
Será? Não me parece que o seja, nesta acepção enfadada. Só há pouco tempo descobri o delta de Kronecker. Confesso que ignorava o que fosse. O cenário é muito frequente na matemática. Surge uma definição que parece absolutamente arbitrária e a despropósito. E qual a primeira consequência? A propriedade de “sifting”, de peneira. Quando a vi ri-me com gosto. Porque só os matemáticos têm esta arte de nos levarem a implicações simultaneamente evidentes e inesperadas. A literatura contemporânea quando é inesperada é tonta e quando é evidente é enfadonha. Bem podiam os artistas contemporâneos retirar lições dos matemáticos.
Os matemáticos têm um sentido da narrativa, do drama, mesmo da situação cómica, que poucos têm na nossa época, tão destituída de sentido de humor. Melhor faríamos se aprendêssemos com a sua falta de “seriedade”, na acepção popular.
Só há uma sociedade de conhecimento quando se esteja pronto a enfrentar, discutir e estudar os elementos desse conhecimento. Por isso falar em nome da matemática é infinitamente mais importante que falar em novas tecnologias ou máquinas.
Confesso que há três coisas que admiro nos matemáticos, que estão intimamente ligadas entre si: o génio, a noção de hierarquia e a probidade.
Mas a matemática está inquinada de uma vizinhança de malentendidos e de lugares comuns que são particularmente agastantes.
A matemática são fórmulas.
Realmente? Algumas das obras mais fundamentais para a História da matemática não têm uma única fórmula. A lição inaugural de Riemann em que pela primeira vez se destrinça na geometria a métrica e a topologia. Os textos de Frege sobre os fundamentos da matemática.
Fórmulas é a colecção Shãun da MacGraw Hill, o exemplo máximo do que não é a matemática. Fórmulas, exercícios resolvidos, exercícios por resolver. Fórmulas, exercícios resolvidos, exercícios por resolver. Trabalho mecânico em que nada há de matemática em sentido próprio e na sua grandeza.
O que subjaz a este lugar comum é algo bem diverso. É a ideia de que matemática não é cultura. Nada mais falso. A matemática é uma forma superior de cultura, mesmo uma forma superior de poesia. Mais ainda: se em todas a áreas existem diversas modalidades de criadores, a matemática apresenta-os na maior paleta de diversidade. Há matemáticos artistas, como Euler e Poincaré, mais intuitivos, aglutinadores, encontrando em cada recanto que tocam problemas, caminhos e soluções matemáticas. Há filósofos, como Pascal e Leibniz, que a cada passo matemático vêm implicações filosóficas e teológicas e vice-versa. Há matemáticos eruditos, como Hilbert e Lindemann.
A matemática é séria.
Será? Não me parece que o seja, nesta acepção enfadada. Só há pouco tempo descobri o delta de Kronecker. Confesso que ignorava o que fosse. O cenário é muito frequente na matemática. Surge uma definição que parece absolutamente arbitrária e a despropósito. E qual a primeira consequência? A propriedade de “sifting”, de peneira. Quando a vi ri-me com gosto. Porque só os matemáticos têm esta arte de nos levarem a implicações simultaneamente evidentes e inesperadas. A literatura contemporânea quando é inesperada é tonta e quando é evidente é enfadonha. Bem podiam os artistas contemporâneos retirar lições dos matemáticos.
Os matemáticos têm um sentido da narrativa, do drama, mesmo da situação cómica, que poucos têm na nossa época, tão destituída de sentido de humor. Melhor faríamos se aprendêssemos com a sua falta de “seriedade”, na acepção popular.
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