segunda-feira, 2 de março de 2009

DFA


Acabei de ler o segundo volume das “Memórias Políticas” de Diogo Freitas do Amaral, que se intitula “A transição para a democracia”. O texto cobre os anos pós-PREC de 1976 a 1982 e é um magnifico fresco desse período em que a democracia em Portugal dava os seus primeiros e periclitantes passos.

Confesso que ao ler estas memórias se apoderou de mim uma enorme nostalgia por esses anos e sobretudo pela memoria de uma esperança que hoje se encontra completamente ausente da minha existência e sobretudo de quase todo o discurso politico.



Os aspectos que mais achei de nota nestas memórias foram quatro.

1. O período coberto pelo livro foi caracterizado por aquilo que se podem descrever hoje como “Low Hanging Fruits” políticos. Não que estes fossem fáceis de colher mas eram relativamente óbvios para quem defendia a social-democracia e um modelo aberto e justo de sociedade. A necessidade da revisão da constituição, da extinção do conselho da revolução, da criação de uma lei da defesa e das forças armadas, da devolução do património nacionalizado, da verdadeira reforma agrária que a lei Barreto preconizava e da normalização das relações com as antigas colónias, eram em si factos políticos que embora difíceis de concretizar, e requerendo uma coragem politica e um músculo intelectual consideráveis, eram imperativos políticos e económicos evidentes. Penso que foi este facto que permitiu à AD criar um “roadmap” credível e transparente que deu aos eleitores a segurança de lhe dar a maioria absoluta por duas vezes.


2. Ao contrário do que talvez esperasse, o que transpira destas memorias não é o relato de um combate primitivo entre a direita e a esquerda mas sim de uma constante busca da parte dos elementos do centro moderado (de direita e de esquerda) de encontrar pontos de contacto e de opinião na tentativa de colher os já referidos “Low hanging fruits” e isolar com isso os extremos políticos (à direita e à esquerda). Parecem-me verdadeiramente diferentes os nossos dias em que a politica parece fazer-se nos interstícios da discórdia e em que direita e esquerda se degladiam numa ânsia patética de estabelecer elementos de diferenciação que não produzem nem proporcionam à sociedade qualquer tipo de valor e progresso.


3. Ao longo desse periodo, Freitas do Amaral foi convidado primeiro, em 1979 pelo PS para ser Primeiro-Ministro de um segundo governo PS-CDS (numa conversa surreal com Almeida Santos que entendia posicionar Diogo Freitas do Amaral como Vice Primeiro-Ministro de Mário Soares no dito governo, passando depois a Primeiro-Ministro em 80 com a hipotética eleição de Mário Soares à presidência - Ramalho Eanes viria a ganhar como sabemos) e depois em 1980 por Sá’ Carneiro e Adelino Amaro da Costa para ser o candidato presidencial da AD às eleiçoes desse ano (e em alternativa à figura parda e desconhecida do General Soares Carneiro que acabaria por ser o candidato da AD). Tinha 37 e 38 anos de idade respectivamente. Das duas vezes recusou (bem na primeira ocasião, possivelmente mal na segunda). Numa conversa com Adelino Amaro da Costa em que este ultimo critica a sua decisão de recusar a candidatura, Freitas do Amaral diz-lhe que o futuro lhes dirá se fez bem ou mal mas que pelo andar das coisas, ainda iria ter um futuro na vida política portuguesa. Confessa o autor num paragrafo triste, que em respeito a esta sua ultima afirmação se enganou, que afinal não viria a ter um futuro na vida política portuguesa e que “os frutos ou se colhem maduros das arvores ou apodrecem”.


4. Naqueles tempos, fazer política era excitante e adrenalinico. O discurso empolgante e envolvente deste livro é prova disso. Políticos jovens com ideais concretos, alguns mais convictos e realistas, outros mais experimentais e idealistas mas todos empenhados naquilo que pensavam ser a solução para um pais à beira de uma nova era. Hoje na política não me revejo e não encontro quaisquer pontos de estímulo e por conseguinte vou dedicando as minhas capacidades civis na tentativa de fazer funcionar o modelo democrático que pessoas como Diogo Freitas do Amaral na altura ajudaram a criar, ele sim com uma coragem e determinação políticas e humanas que nunca pensei vir tanto a admirar.

3 comentários:

Táxi Pluvioso disse...

O passado é vivido. O que dele se escreve é, enfim, história (que nem sempre é verdadeira).

Anónimo disse...

Freitas do Amaral é um loser.
Não ficará na história, e acaba vendido na forma e profissão ao socialismo tecno-socrático.
Smich

Diogo disse...

QUE FITA VAI HOJE? QUE TAL ESTE:

Jon Stewart - o apoio de Barack Obama aos bancos no valor de um bilião de dólares

Jon Stewart, do Daily Show, pergunta-se, com excelente humor, se será boa idéia salvar os bancos com um bilião de dólares (que, entretanto, já subiu para dois biliões e meio):

Durante a conferência de imprensa de segunda-feira à noite, o presidente Barack Obama delineou o seu plano de estímulo económico. Mas evitou entrar em pormenores sobre a segunda metade do plano de recuperação, o apoio aos bancos. Deixou isso para o seu secretário do tesouro, Tim Geithner:

Tim Geithner: Este fundo destinar-se-á aos empréstimos a bens que estão a sobrecarregar muitas instituições financeiras, fornecendo o financiamento que os mercados privados não podem agora garantir. Acreditamos que este programa deverá disponibilizar até um bilião de dólares [$1 trillion] de capacidade de financiamento...

Jon Stewart: Um bilião de dólares! Olhem, não sou economista e não trabalho em Wall Street, por isso acredito que as pessoas que nos meteram neste sarilho, ao menos, reconheçam o esforço do governo.

Canal de Televisão: Wall Street não gostou do anúncio de ontem...

CNN: Wall Street rejeitou o plano...

Fox News: Wall Street não mostrou agrado. Acha má idéia…

CNN Live: Wall Street detestou o que ouviu hoje...

Jon Stewart: Deixem-me ver se percebi. Wall Street não gosta dos pormenores dos apoios de um bilião de dólares para Wall Street? Não gostam da forma como um bilião de dólares vos será distribuído? Um bilião que vos vamos dar para substituir o bilião de dólares que perderam?

Deixem-me explicar rapidamente a relação entre quem salva e quem é salvo. Vocês, meus amigos, vocês estão a afogar-se, portanto sugiro que não se queixem se não forem à janela do barco de salvamento. Isto, porque já agora, o que é que estão a fazer na água? Vocês não são vítimas inocentes... Vocês são como um palerma que acha graça andar de parapente durante um furacão. E sabem qual é o mal dos tipos assim? Nunca têm seguro!

Vídeo legendado em português