Da Visão: Convicção e Coragem
1 - O tempo não está, já se sabe, para grandes dissidências políticas. Em bom rigor, o tempo, em Portugal, nunca está para grandes dissidências políticas. Desde há muito que as máquinas partidárias se transformaram em fábricas aperfeiçoadas de uniformização ideológica (se é que se pode chamar ideologia à repetição compulsiva de meia dúzia de verdades oficiais). Há muito tempo que os partidos, sobretudo os partidos no poder, excomungaram os livre-pensadores e se encheram de militantes ordeiros e acríticos. Há muito que os grupos parlamentares são uma espécie de massa uniforme de deputados teleguiados. Quase sempre foi assim e quase sempre assim foi em todos os partidos. Mas é em tempos de maiorias absolutas e de «claustrofobia democrática» que os mares se tornam verdadeiramente agrestes para todos quantos, em política, persistem em pensar pela sua própria cabeça.
Na entrevista que concede ao Expresso do passado sábado, Manuel Alegre, o fantasma que pairou sobre o «congresso de uma nota só» (como ele próprio chamou ao conclave socialista de Espinho), volta a cometer esse horrendo pecado capital da ortodoxia partidária. Insiste em dar mostras do seu inconformismo e não tem papas na língua quando se trata de reafirmar as suas profundas divergências de princípios com o PS de José Sócrates. Fala na «gente medíocre que se apoderou dos partidos», na falta de debate ideológico, no célebre «medo» de que também falou Edmundo Pedro. Afronta Soares e define a sua hipotética Presidência da Assembleia da República como uma «mordaça de luxo».
Dirão os seus detractores que Manuel Alegre tem sede de protagonismo. Que, desde que se deixou inebriar pela campanha presidencial, não tem parado de buscar as luzes da ribalta. Vasco Pulido Valente adivinha-lhe a ambição de voltar a bater-se por um lugar em Belém. Eu, que não concordo com quase nenhuma das suas ideias, continuo, pelo contrário, a ver convicção e coragem onde outros vislumbrarão traições, ambiguidades e incoerências. Eu, que não posso rever-me menos na sua «convergência da esquerda», continuo a admirar o homem e o lutador. Eu, que continuo a acreditar no mesmo liberalismo a que Alegre atribui boa parte dos males do Mundo, não estou menos convicto de que são homens incómodos como ele que fazem falta aos partidos e à democracia portuguesa. Especialmente em momentos de crise económica, social, ideológica e sobretudo em momentos de unanimismo político, à esquerda ou à direita, como é aquele em que, infelizmente, vivemos.
2 – E se homens como Alegre prestigiam a Democracia e o parlamento portugueses, são episódios como o da muito pouco dignificante troca de insultos entre os deputados José Maria Martins e Afonso Candal que mais contribuem para o seu descrédito. Não é tanto a grosseria que choca. Num assomo raro de condescendência, estou até disposto a aceitar que todos temos direito aos nossos «cinco minutos de infelicidade». Mas confesso que não consigo aceitar que o episódio não tenha consequências mínimas. É caso para dizer que fazem pior à imagem do Parlamento as orelhas moucas do Presidente da Assembleia da República do que as bocas desabridas dos senhores deputados.
9 comentários:
Pedro
Fico - sinceramente - contente ao reparar que estamos de acordo em quase tudo (excepção feita, já se sabe, ao liberalismo). Belo artigo!
Pedro, não concordo com a apreciação que faz de Manuel Alegre.
Até lamento o facto. Porque depois do meu comentário, possivelmente terá de ver na caixa de comentários ao seu post, algum comentário deselegante, não a si, mas ao meu comentário, sob a valentia do anonimato.
Quanto aos deputados,podemos e devemos pedir que sejam as pessoas mais bem preparadas a desempenhar o cargo.
Quanto ao grau de independência com que o exercem, obviamente também o têm de ter e opinião própria, certamente.
Todavia, quando fazemos parte de um todo, a que aderimos sabendo que é regido por regras, temos de as cumprir.
Com espírito crítico, afirmando descontentamento, opondo-se, se for preciso.
Não vamos trabalhar para uma empresa, fazendo o que bem nos apetece, não nos casamos desrespeitando o conjuge.
Se e quando já não concordamos com as políticas de um partido, com a gestão da empresa, ou com o estado do casamento, tomamos medidas, vamos embora.
Saír, ir embora, despedir-se, divorciar-se, custa, é penoso. Traz custos, corta relações, deixa-nos mais sós, mas é a única coisa decente a fazer.
Muitas vezes na vida, para ir embora é que é preciso convicção e coragem, não para ficar.
Manuel Alegre e o PS lembram-me um casal casado há mais de cinquenta anos. Nesses cinquenta anos, ela cozinhou, limpou, criou filhos, aturou as infidelidades do marido. Agora estão sós. Ela esperou cinquenta longos anos por este dia. Não lhe faz uma única refeição, não o ajuda. Ela não quer o divórcio, quer apenas que ele sofra.
Quanto a Manuel Alegre, pessoalmente acho um bocadinho embirrante a postura de Grilo Falante muitas vezes inconsequente. No entanto faz sentido aquelas criticas serem feitas de dentro. É importante que seja alguém do PS, uma personalidade histórica e respeitada, reconhecer que a mediocridade tomou conta da situação. É uma atitude de coragem e honestidade intelectual. Mak comparado, é um pouco como se o Rui Costa viesse dizer, "acordem benfiquistas, o Eusébio já arrumou as botas há 30 anos e os tempos são outros" (infelizmente :-(((). Os benfiquistas levariam isto tão a sério se fosse o Pinto da Costa a dizer?
Uma pequena observação (não é pedantismo, mas apenas por julgar que este texto foi publicado na Visão): é José Eduardo Martins, não José Maria.
Monty Python - A mais extraordinária aula de educação sexual já leccionada num secundário
Os criadores e intérpretes britânicos da série cómica Monty Python's Flying Circus oferecem-nos neste sketch do filme "The Meaning of Life" [O Sentido da Vida], uma aula de educação sexual inesquecível:
Professor: Bom, sexo. Sexo, sexo, sexo. Onde ficámos na última aula? Bem, já tinha chegado à parte em que o pénis entra na vagina?
Os alunos após alguma hesitação: Não senhor.
Professor: Já dei os preliminares?
Os alunos após alguma hesitação: Sim senhor.
Professor: Já que todos sabem tudo sobre preliminares, podem dizer-me qual o propósito dos preliminares. Higgs?
Aluno Higgs, [após grande hesitação]: Não sei. Desculpe.
Professor: Carter?
Aluno Carter: Era tirar a roupa?
Professor: E depois disso? O propósito dos preliminares é causar a lubrificação da vagina, para que o pénis possa penetrar mais facilmente. E, obviamente, causar a erecção e rigidez do pénis. Bom, dei os sucos vaginais na semana passada?
Professor: Presta atenção Wadsworth! Sei que é sexta-feira. Posso decidir fazer um teste este período.
Ouve-se um burburinho de desagrado entre os alunos.
Professor: Ouçam com atenção. Dei ou não dei os sucos vaginais? Digam-me dois modos de os fazer fluir, Watson?
Aluno Watson: Esfregando o clitóris?
Professor: ... Que mal tem um beijo? Porque não começar a excitá-la com um beijo? Não tens de saltar directamente para o clitóris como uma besta. Dá-lhe um beijo!
Um Aluno: Chupar o mamilo?
Professor: Sim, bem, pode ser...
Outro Aluno: Acariciar as coxas?
Professor: Sim. Acho que sim...
Um terceiro Aluno: Morder o pescoço.
Professor: Sim, bem. Mordiscar a orelha, massajar o traseiro e por aí adiante. Temos todas estas possibilidades antes de atacar o clitóris.
E a lição sexual continua num crescendo de humor até atingir um clímax inesperado...
VÍDEO legendado em português
Gonçalo: ainda não perdi a esperança de te converter.
Sofia: Efectivamente não estamos nada de acordo. Não concebo um partido como uma empresa, muito menos como um casamento. E é sobretudo para mim impensável que a militância partidária tenha de custar a liberdade de opinião. Talvez por isso não milite em nenhum. Talvez seja
comodismo meu. Talvez.
Jorge: tens toda a razão. O erro é meu.
O ambíguo Alegre no seu melhor:desfolhar rosas murchas...
Irremediavelmente de acordo com os princípios, só temo, Pedro, a inutilidade prática do exemplo. Seria interessante encontrarmos alguém – um líder político, claro –que discordasse da notória "nota só" socrática e que, por uma vez, nos seduzisse e aliciasse com uma alternativa empolgante. Pela eficácia, pela emoção ou pela beleza da coisa: de preferência pelas três razões juntas.
O problema é que, com a empertigada variante Alegre ou com a sorumbática variante Ferreira Leite, estamos perante uma dupla desolação: no primeiro caso, a de um passado carregado de ideologia e esquecimento coimbrão; no segundo, a de uma saloia ausência de modernidade.
Pedro,
Eu não disse que um partido era o mesmo que um casamento e também não disse que quem está num partido não tem liberdade de opinião.
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