Uma proposta que ( não ) se pode recusar
Noticia a TSF que na reunião de ontem no Largo do Rato, para discutir as moções do PS, Edmundo Pedro, histórico do partido, disse que havia medo no partido, que os militantes tinham medo de falar.
Augusto Santos Silva ter-se-á escusado a falar sequer sobre o assunto, "desviando as atenções para o exterior", ao mesmo tempo que exprimia o seu desprezo por "sujeitos" e "sujeitas" que à direita e à esquerda se opunham à governação socialista.
A linguagem e a postura lembraram-me vagamente a tirada serena, certa do seu efeito: " Faço-lhe uma proposta que ele não pode recusar..."
Ao Sr. Edmundo Pedro gostaria de deixar o seguinte pensamento: Por mais que nos sejam façam propostas que não são para recusar, podemos sempre recusá-las.
E não digo que não haja motivos para ter medo, digo apenas que nunca o devemos mostrar.
7 comentários:
Sofia, também ouvi e confesso que fiquei chocado. Edmundo Pedro, no entanto, não falou no medo que as pessoas têm de falar dentro do Partido Socialista, referindo-se antes ao medo de falar que existe, de um modo geral, na Administração Pública, o que, francamente, me parece bastante mais grave.
Augusto Santos Silva, por outro lado, em surdina, com aquela voz que, por si só, nos confirma o medo de que falava Edmundo Pedro, também disse muito mais. Desviando, de facto, as atenções para fora do PS (que era o que alguns militantes ali queriam discutir, o que ele, absolutamente, não permitiu) disse que do que gostava mesmo era de malhar (sic) nas pessoas da direita; e especialmente naquelas que, fingindo-se de esquerda (PCP e BE), eram as mais conservadoras que alguma vez tinha encontrado. Nessas - disse o Sr. ministro -, não só gostava de malhar, como, quando o fazia, isso lhe dava um especial prazer (sic).
Convenhamos que, seja em nome do que for, nunca ninguém ouviu nada parecido da boca de António de Oliveira Salazar. Hà que ter medo!
Não faltava mais nada a Edmundo Pedro senão ouvir o conselho de que não deve mostrar medo - mesmo que o sinta. É estultícia da dr.ª Sofia. Edmundo Pedro foi preso pela pide aos 14 anos e amargou, juntamente o pai, no Tarrafal. Venha de lá a imberbe Sofia falar-lhe de medo. Sabe o que lhe digo? Cito-lhe o prof. Orlando Carvalho: "Jurista que só sabe de Direito, nem de Direito sabe".
Sócrates e Santos Silva podem faze o que quiserem no seu partido. Implantar uma ditadura, PIDE, etc. Mas não podemos deixar que façam o mesmo no país. Este Portugal não lhes pertence.
Ó Gonçalo, valha-o Deus. Comparar o País de hoje com o de Salazar é uma brincadeira de mau gosto - e um insulto para todos os que combateram a ditadura. Só lhe faço notar que Santos Silva apenas malha pelo verbo (o que é do mais legítimo em democracia)nos adversários políticos - enquanto Salazar mandava malhar mesmo. O que há de mais no que disse Santos Silva? Pense lá um bocadinho. A expressão "malhar", no debate político, foi muito utilizada por Eça e nas câmaras parlamentares da monarquia constitucional e da república. O último parágrafo do seu post é manhoso. Ou você não sabe nada sobre os anos do Estado Novo - ou, sabendo, está a dizer a quem não sabe que vivemos tempos parecidos. Do que eu tenho medo, meu caro, é de tipos como você.
E, no entanto, meu caro anónimo, quem fez a comparação não fui eu, mas Edmundo Pedro, que, como lembra o seu primo anónimo, aqui em cima, foi um dos que conheceu por dentro a ditadura.
Quanto ao resto, de mim não tenha medo, que desconheço mais do que sei e estou sempre disposto a aprender.
O meu querido amigo Edmundo Pedro nunca, mas nunca, terá a tentação de comparar o nosso tempo com o do Estado Novo - porque é um homem sério e conheceu a ditadura. Só quem não sabe do que fala - ou sabe e fala com má-fé - pode comprar o que disse Santos Silva com o dr. Salazar. Lei o releio o que disse homem e não encontro nada por aí além. Parece um menino de coro ao lado, por exemplo, de parlamentar como Afonse Costa. Quer que lhe cite algumas passagens dos discursos do chefe dos republicanos no parlamento - ou vai procurá-los nos livros. Também posso fornecer-lhe a bibliografia. É só dizer. Estou aqui para ensinar - desinteressadamente, é claro!
PS. Não vale dizer que estou aqui anonimamente por medo. Não tenho medo. Não possuo nenhuma identidade na net e não estou para ter essa maçada. O meu nome é António Vedoria Salavador.
Obrigada pelos comentários.
Provam que o tema é pertinente.
Reitero que vejo por estes dias muitos mensageiros a quererem fazer propostas aparentemente irrecusáveis.
E constato que apesar do calibre das propostas e da qualidade dos mensageiros, há sempre quem as recuse.
É corajoso aquele ou aquela que denuncia bem alto tamanho embuste.
Não desconhecia o passado de Edmundo Pedro, muito pelo contrário.
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