segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Só sei que nada sei

Tenho lido o que se tem escrito, ouvido tv, sobre o caso Freeport.

Quem tem responsabilidades públicas, políticas, diz o que tem de dizer, que a justiça fará o seu trabalho. Ou não comenta. Parece-me bem e o adequado face ao caso.

No entanto, nos outros casos, jornais, comentadores, opiniadores, parece-me que deixam escapar uma questão fundamental: a natureza da corrupção, e sobretudo a de grande escala, a forma como opera.

Estas pessoas têm da corrupção uma ideia cinéfila: uma conversa explícita, comprometedora, de preferência gravável, uma mala cheia de dinheiro. Tal e qual como no filme português Call Girl. Tudo muito óbvio e para a posteridade. Provas, muitas e para todos os gostos e todos os ordenamentos jurídicos.

Agora, por causa disso, nos media procura-se afanosamente o dinheiro, muito dinheiro, todo juntinho.

É claro que quem se dedica a estas questões sabe como é que estas coisas efectivamente se passam.

Sabem que quase sempre há poucas conversas, nada escrito, nem sempre o preço é dinheiro, mas sim trocas cruzadas de favores, uma terceira entidade que é beneficiada, favores pessoais, emprego, cargos, visibilidade, chantagem com questões do foro pessoal, e muitos técnicos especializados ( em leis, fiscais, contabilidade) envolvidos.

Nestes casos, a fronteira entre legalidade e ilegalidade é sempre ténue - e nem sequer é por acaso.

Talvez fosse bom ouvirmos especialistas nesta área -corrupção- para que tivessemos maior conhecimento sobre o fenómeno e se deixasse de imaginar malas cheias de dinheiro.

Só para dar um exemplo: nos EUA foi desmantelado um cartel que funcionou durante muitos anos. Havia quatro empresas que concertaram os preços e fizeram-no durante anos. Nunca houve acerto de contas, nunca houve contactos.

Sabem como? De acordo com a fase da lua. Em cada fase da lua, cada uma delas era raínha absoluta, ditando o seu preço.

Simples,engenhoso e eficaz, não?

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