II. Les Indo-européens, Histoire, langues, mythes, Bibliothèque historique, Payot, Paris, 2005 Bernard Sergent
Para mim muitos mistérios se mantêm.
Em primeiro lugar, embora não se possa dizer que o autor esqueça a natureza plástica e adaptável do trifuncionalismo (que permite desdobramentos: quatro Varnas na Índia e não três; passagens: entre o nobre e o sacerdote, por exemplo) nem a relativa autonomia do ser humano em criar soluções para os problemas (outras culturas arranjaram soluções trifuncionais) para mim continua em pé o enigma do êxito do trifuncionalismo. Se obedece a impulsos muito primários do ser humano, se se adequa a dados básicos do homem, porque outras culturas não adoptaram esta ideologia? Explica isto o maior sucesso das culturas indo-europeias em relação a outras?
Em segundo lugar, o que levou ao sucesso, não apenas de uma família, linguística (o indo-europeu) mas igualmente da sua ideologia (o trifuncionalismo)? E a História tem-nos mostrado que a conquista linguística não depende apenas do domínio económico, militar ou político. Nem sequer de domínio cultural. Os assírios e turcos dominaram sem deixar a sua língua. De igual forma a imensa cultura alemã deixou marca, mas não alastrou a sua língua por forma a apagar as outras da sua zona de influência.
O domínio de uma língua pode decorrer de predominância cultural (não forçosamente superioridade), política, económica. Mas o domínio substitutivo, que leva à substituição das línguas anteriores, só ocorre por duas vias: a expansão demográfica e a substituição civilizacional.
Na História só conheço próximos de nós dois fenómenos de grande expansão linguística de substituição. Em grau menor, a expansão semítica do árabe, embora em zona limitada ao Mediterrâneo meridional e oriental, sem dúvida. Mas acima de tudo a expansão da família indo-europeia, a mais extraordinária que a História já viu.
A expansão do proto-indo-europeu continua para mim à ser um mistério. Com avanços e recuos (o oriente mediterrânico já foi integralmente grego ou quase), a verdade é que as vagas de expansão desta família parecem nunca acabar. Pensando só na época histórica, a expansão do grego na parte oriental do mediterrâneo, que já referi. A expansão do Latim no sul da Europa, a expansão de muitas línguas europeias pela via colonial em todos os continentes. E ainda hoje em dia a expansão do inglês como língua franca (língua de sobreposição e não de substituição).
É verdade que a formação de línguas francas mostra um grau de adesão menor que a da substituição linguística. O chinês que fala inglês não deixa de ser chinês. E por isso o avanço das línguas europeias é História que ainda continua por definir. Muito mais misterioso é o fenómeno da substituição linguística. Que leva povos inteiros a mudar de língua? Que levou os povos do Sul da Europa a falar latim e seus derivados? De certa forma as invasões bárbaras tiveram efeito mais mitigado nessa zona porque não conseguiram mudar a língua e formaram um sistema com especialidades, dentro da civilização europeia, no âmbito da Europa latina.
Em primeiro lugar, embora não se possa dizer que o autor esqueça a natureza plástica e adaptável do trifuncionalismo (que permite desdobramentos: quatro Varnas na Índia e não três; passagens: entre o nobre e o sacerdote, por exemplo) nem a relativa autonomia do ser humano em criar soluções para os problemas (outras culturas arranjaram soluções trifuncionais) para mim continua em pé o enigma do êxito do trifuncionalismo. Se obedece a impulsos muito primários do ser humano, se se adequa a dados básicos do homem, porque outras culturas não adoptaram esta ideologia? Explica isto o maior sucesso das culturas indo-europeias em relação a outras?
Em segundo lugar, o que levou ao sucesso, não apenas de uma família, linguística (o indo-europeu) mas igualmente da sua ideologia (o trifuncionalismo)? E a História tem-nos mostrado que a conquista linguística não depende apenas do domínio económico, militar ou político. Nem sequer de domínio cultural. Os assírios e turcos dominaram sem deixar a sua língua. De igual forma a imensa cultura alemã deixou marca, mas não alastrou a sua língua por forma a apagar as outras da sua zona de influência.
O domínio de uma língua pode decorrer de predominância cultural (não forçosamente superioridade), política, económica. Mas o domínio substitutivo, que leva à substituição das línguas anteriores, só ocorre por duas vias: a expansão demográfica e a substituição civilizacional.
Na História só conheço próximos de nós dois fenómenos de grande expansão linguística de substituição. Em grau menor, a expansão semítica do árabe, embora em zona limitada ao Mediterrâneo meridional e oriental, sem dúvida. Mas acima de tudo a expansão da família indo-europeia, a mais extraordinária que a História já viu.
A expansão do proto-indo-europeu continua para mim à ser um mistério. Com avanços e recuos (o oriente mediterrânico já foi integralmente grego ou quase), a verdade é que as vagas de expansão desta família parecem nunca acabar. Pensando só na época histórica, a expansão do grego na parte oriental do mediterrâneo, que já referi. A expansão do Latim no sul da Europa, a expansão de muitas línguas europeias pela via colonial em todos os continentes. E ainda hoje em dia a expansão do inglês como língua franca (língua de sobreposição e não de substituição).
É verdade que a formação de línguas francas mostra um grau de adesão menor que a da substituição linguística. O chinês que fala inglês não deixa de ser chinês. E por isso o avanço das línguas europeias é História que ainda continua por definir. Muito mais misterioso é o fenómeno da substituição linguística. Que leva povos inteiros a mudar de língua? Que levou os povos do Sul da Europa a falar latim e seus derivados? De certa forma as invasões bárbaras tiveram efeito mais mitigado nessa zona porque não conseguiram mudar a língua e formaram um sistema com especialidades, dentro da civilização europeia, no âmbito da Europa latina.
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