quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

I. Journey to Italy – Rossellini


Realmente uma trama de ironias.

A viagem a Itália de dois ingleses, uma paródia do Grand Tour. Mas em muitos aspectos virada do avesso. Em primeiro lugar, não é viagem de adolescentes solteiros. As regras são outras. Trata-se de um casal, e de meia-idade. Em segundo lugar, não é viagem para marcar o resto da vida como experiência interior e estética, mas a abandonar na prática quotidiana quando se volta a Inglaterra. É viagem definitiva.


Segundo grupo de ironias. Os ingleses do Grand Tour iam para Itália para aprender, acabando por reprimir o essencial. Ficava o estético, a memória, um parêntesis de vida. O casal que viaja no filme não viaja para aprender. Ele para tratar de uma burocracia, de uma herança. Ela com uma intuição de comunicar com o marido, senão de salvar o casamento. A ironia é a de que o conhecimento nos apanha de surpresa, pelo menos neste caso, e talvez seja melhor não se focar demasiado no objectivo para se atingir o essencial.

Terceiro grupo de ironias: parece tratar-se de um drama conjugal, de uma crise. Como tantas outras. Seria assim se Rosselini tivesse terminado a história com uma ruptura. Seria bem mais fácil. Mas – obscena solução se a há: termina bem. Quase temos medo de o dizer.

E quarto grupo de ironias: em vez de ser a perspectiva do homem que prevalece é a da mulher. Muda tudo. Rossellini parece estar a dar uma lição a duzentos anos de tradição britânica no Grand Tour, dizendo-lhes que perderam o essencial. Onde está ele? Veremos.


É evidente que existe aqui um desequilíbrio. Ambos têm classe, mas Ingrid Bergman ofusca pela sua beleza George Sanders. Não bastara a história ser contada sobretudo na experiência feminina, em acréscimo a nossa atenção fixa-se bem mais nela que no marido.

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