Freitas vs Soares
Sem que nada o fizesse prever, 1986 foi um grande ano.
Portugal era um país enfadonho e antiquado, ainda a contas com uma ditadura e um PREC. Quando Freitas começou a campanha ninguém duvidava da sua vitória.
Eu tinha 14 anos e nunca esquecerei o comício que ele fez em Peniche e a que fui com o meu pai. Escusado será dizer que naquela terra foi o delírio quando Soares por lá passou. Sei, porque fui espreitar.
Naquele ano de 1986 eu usava, com garbo, uma cabeleira imensa e desgrenhada que era motivo de apreensão familiar. Isso e uma grossa camisa de flanela amarela e preta aos quadrados que vestia imensa como se fosse um casaco. Havia também a versão encarnado e preto e azul e preto.
No dia da votação estava agendada a dita para depois de almoço. Fazia parte do programa votar, tomar café e passeio de carro. Todo um programa.
Antes do almoço, o meu pai:"- Sofia, já te penteaste?". Resposta pronta:"- O meu cabelo só é penteado quando lavado, por causa dos caracóis". "- Vai-te pentear".
Lá fui, esforcei-me para dar o meu melhor que era, no caso, quanto pior melhor.
Escovo, escovo e o meu cabelo ascende a uma dimensão transcendental, muito para além de um Hendrix, muito para além de uma juba de leão.
Depois de almoço, o meu pai lapidar: "- Tu ficas". A família bate a porta e eu fiquei sozinha em casa a tarde toda.
Nunca esqueci esse dia. Aprendi que a petulância paga-se cara e ainda que na política e na vida não há vencedores antecipados.
E se de repente alguém lhe oferecer um ano de 2009 atrevido e desafiante, isso é política não é?
2 comentários:
o meu ÚNICO comício em Portugal foi na FIL para ver Mário Soares. Ia perder para todos. Para o Freitas, Pintassilgo e Zenha. Soares tinha 8% de intenções de voto. Nos territórios por onde entao andava era tudo pintassilguista. Apostei, contra Zenha e Pintassilgo, todos os jantares que pude em Soares. Ainda hoje estou à espera de que mos paguem. Cheira-me que Freitas seria o único a querer pagar-me uma ceia. E com gosto.
Foram as primeiras eleições que vivi a sério. Tinha 12 anos e estive na maior enchente política que alguma vez vi em Olhão. Dois dias depois da cena da marinha grande Olhão estava todo naquela avenida. Estava com o meu pai e nunca me esquecerei daquele ambiente. Eles ainda têm esperança de em 2009 se vingarem do resultado daquela 1ª volta mas não me parece. O problema da extrema esquerda é não ter compreendido o pulsar da história.
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