quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Aos 30 - Sub vida

Tenho lido por aí que existe uma tendência, pelo menos em Portugal, de muitos adultos, muitos já à beira dos trinta, continuarem a viver em casa dos pais. Nesse grupo interessam-me sobretudo aqueles que trabalham. Como é sabido, aduzem para o efeito, os baixos salários, a crise, o conforto da casa dos progenitores, etc.
Mesmo admitindo que comparticipem na economia doméstica, facto nem sempre verificável, quando o façam não têm de certeza o grau de empenhamento necessário no pagamento da prestação da casa, da alimentação, de todas as despesas de que depende o funcionamento de uma casa e de uma vida.
Sobrará sempre dinheiro para um carro, telemóvel, roupas, livros, música, viagens.
Terão aos trinta anos, muita experiência em consumo, mas muito pouca experiência da vida.
Sobretudo no que ela tem de mais enriquecedor, que são as dificuldades. Quando no início da nossa vida adulta somos confrontados com algumas necessidades e dificuldades, como sejam ir ao supermercado a contar o dinheiro e não saber como se vai pagar a renda, ganhamos em maturidade e se não compreensão, pelo menos aceitação, do ponto de vista dos outros.
É como ir almoçar a casa da sogra por manifesta insuficiência de meios e juntamente com a colher de sopa, engolir também umas colheradas de política financeira, ou de como Salazar havia sido um grande político.
Cada vez mais ouço-os e leio-os - e escrevem muito, sobretudo em blogs - muito convictos e categóricos. Mas são tão desprovidos de experiência e de conhecimento da vida e revelam um tal desamor pela raça humana e pelos portugueses em particular que me pergunto se é aceitável tanto tremendismo.
Pergunto-me com que condições é que uma pessoa assim decide sobre a vida de outras, com que legitimidade emite tanto juízos morais?
Umas valentes colheradas, não digo de chá, mas de sopa e política financeira, talvez lhes fizesse bem.
Mas nunca em casa da mamã, bem entendido.

5 comentários:

Unknown disse...

Excelente comentário!

Manuel S. Fonseca disse...

Sophia,
Subscrevo (em particular a crítica ao tremendismo) e disponho-me a contribuir activamente para a colecta de compra das colheres.

Sofia Rocha disse...

Obrigada Manel, mas não mereço o ph.

diconvergenciablog disse...

Pois, esse facto de não terem quaisquer experiência de vida dificilmente o poderá comprovar.
Essas pessoas geralmente têm um curso superior e não se sujeitam a ganhar 400€ por mês, ficam em casa dos pais à espera de dias melhores. Os que partem para o mercado de trabalho geralmente imigram, c.civil etc... Não é censurável se contribuirem para as despesas como fala.
Decerto que esse estilo de vida é mt melhor do que se essas pessoas saissem de casa, se casasem e fizessem montes de filhos e os deixassem na miséria. (era isto que se fazia, viu-se que os resultados não foram os mais desejados).

diconvergenciablog disse...

Essas pessoas penso que vêm a sociedade de uma forma diferente e têm outras perpectivas de vida.
Têm uma noção de ser e classe e não (geralmente) se sujeitam às tradicionais formas de exploração.
Não vão com 11 anos trabalhar para a vinha com os seus pais, não vão para as obras não sei para onde, não têm filhos com 15 anos. . .
Têm outra sensibilidade social. Não se reproduzem como os coelhos, têm um projectos de vida... Profissão, carreira, emprego, só depois, com as condições necessárias pensam na reprodução.
O contexto em que nasceram foi esse. O facto de essas pessoas terem nascido no meio desta sociedade onde o dinheiro é rei não as faz pessoas sem valores, acriticas nem mecanizadas.
Estou, claro, a falar do povo, dos pobres...
São esses que se refere, os que estão em casa. . .
Os de boa condição social compram casa e ficam lá quietos! Vai dar ao mesmo!
Digo-lhe que, para ganharem 500€ por mês, após 18 anos consecutivos de estudos é ridiculo, fazem muito bem estar quietos em casa. É pena.
Não acredito que o gostem de fazer, mas as condições não dão para mais.
Os pais está claro têm os seus direitos, não têm que aturar os filhos eternamente. . . É um drama social.
Cada vez é mais recorrente.
Da geração de 80 não conheço ninguém que não viva com os pais.