quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Lo Lee Ta



O post do Manuel e particularmente o singular desenho que o ilustra, fez-me pensar no “Lolita” de Nabokov: “Lolita, light of my life, fire of my loins. My sin, my soul. Lo-lee-ta: the tip of the tongue taking a trip of three steps down the palate to tap, at three, on the teeth. Lo. Lee. Ta. “

Por coincidencia li hoje a excitante noticia que refere que depois de anos de publica indecisao, Dmitri Nabokov decidiu finalmente publicar o manuscrito de “Laura”, a ultima obra escrita pelo seu pai Vladimir. Este desconhecido e incompleto romance, que somente o biografo de Vladimir Nabokov, o proprio Dmitri e uma obscura professora universitaria de nome Lara (Laura?) tiveram a oportunidade de ler, encontra-se fechado na caixa forte de um banco na Suica rodeado de misterio e especulacao. Por um lado, Dmitri descreve a obra como o mais concentrado exemplo da creatividade de seu pai. Os curtos trechos que escaparam ao segredo sugerem um denso e rico enredo de obsessao e promiscuidade. No entanto, durante os ultimos anos , Dmitri anunciou publicamente e por varias vezes a sua intencao de queimar o dito manuscrito. Nabokov, no seu leito de morte tera’ pedido ao filho que destruisse “Laura” por considerar esta uma obra imperfeita e impropria para ser exposta ao mundo literario.

Deixo aos leitores(as) do Geracao o seguinte dilema: na pele de Dmitri, publicaria o romance permitindo ao mundo a leitura e o estudo da derradeira obra de um dos mais importantes escritores do sec XX, ou pelo contrario, por respeito filial e moral, queimaria o manuscrito respeitando assim o direito de quem cria de decidir a sorte e o valor das suas criacoes?

Desculpem a insistente falta de acentos. Faltam-me as teclas.......

3 comentários:

Anónimo disse...

Ora aqui está uma boa mistura de indisfarçável vaidade, inconfundível cobardia e perigosa perversão. Há heranças que não se deixam aos filhos. Vladimir que se dane!

Sofia Rocha disse...

Acho que não há herança mais pesada do que ser "filho de" Nabokov, como castigo já é o bastante.
Quanto à obra - obsessão, promiscuidade, perversidade - pois que venha!
Num mundo onde abrir um livro e ser surpreendido por um bom parágrafo, é bem raro, que venha depressa.
Como começará este livro?

JP Guimarães disse...

Pessoalmente não deixaria de corresponder a um pedido do meu Pai. Pegava nas folhas e lançava-lhes fogo sem qualquer problema. Para mais, o pai em causa já havia deixado ao mundo uma obra como Lolita - mais do que a maior parte de nós alguma vez fará (julgo que Dimitri incluído).