Chá para dois
Gostava de dizer que já não me incomoda assistir ao espectáculo, mais ou menos irracional, de ataque aos políticos. Gostava de dizer que nem me arrefece e muito menos me aquece a irrupção de discursos arqui-justiceiros que convertem quem os faz em vestais e todos os políticos – sobretudo os que exercem na circunstância o poder – em seres diabólicos e geneticamente transformados.
Para ser franco, e dada a irrisão do exercício, de facto não me incomoda. Mas é com prazer que, por vezes, dou conta da diferença.
Hoje, ao ler o Expresso, e na semana passada (e na antepassada), a(s) crónica(s) de Miguel Sousa Tavares mostra(m)-me que ainda é possível falar-se (ou escrever-se) sobre a vida política, social e económica, a partir de um ponto de vista de compromisso. Ou seja, com a perspectiva “há um problema, talvez haja uma solução”. É que na esmagadora maioria o que se lê é sempre escrito ou dito de um ponto de vista absoluto, totalmente “fora do sistema”, de um ponto de vista que diz “isto é tudo...”. E depois pode acrescentar-se o qualificativo que se queira, “uma merda”, “uma corrupção nojenta”, que quem fala da sua torre imaculada terá sempre razão.
Miguel Sousa Tavares terá razão uma vezes, outras não – e por isso me interessa. Mas o que leio, e voltei a ler esta semana, é o texto de alguém que faz juízos sobre a realidade, arriscando-se ao mesmo tempo a ser avaliado. O que Miguel escreve é passível de verificação. Hoje, sustenta que “Manuela Ferreira Leite não tem um pensamento político sólido, nem estruturado para o país”. E justifica-se com clareza. A clareza que nos permite estar de acordo ou contradizê-lo.
Afirma também que o Governo recuou na avaliação dos professores (o que talvez, faço notar, não seja bom) e que a Fenprof, de Mário Nogueira, não vai pactuar com essa flexibilidade porque a sua natureza leninista lhe impõe como objectivo o “mata, mata”scolariano e não o diálogo (o que, digo eu, é péssimo).
Para mim, que reconheço a necessidade do país em que vivo ser governado (há quem pense exactamente o contrário), e não pressinto potencial governativo a não ser no PS e no PSD, o que me incomoda não é o fogo de artificio de exaltados abjeccionistas ou de destemperados ideólogos. O que me preocupa é ver mais lucidez num jornalista com irritante sentido cívico do que no partido a quem compete fazer uma oposição competente capaz de se converter em acção governativa. Haverá alguma hipótese de Manuela Ferreira Leite passar pela Bénard e tomar um chá com o Miguel? Só para ver se o deserto se anima...
Para ser franco, e dada a irrisão do exercício, de facto não me incomoda. Mas é com prazer que, por vezes, dou conta da diferença.
Hoje, ao ler o Expresso, e na semana passada (e na antepassada), a(s) crónica(s) de Miguel Sousa Tavares mostra(m)-me que ainda é possível falar-se (ou escrever-se) sobre a vida política, social e económica, a partir de um ponto de vista de compromisso. Ou seja, com a perspectiva “há um problema, talvez haja uma solução”. É que na esmagadora maioria o que se lê é sempre escrito ou dito de um ponto de vista absoluto, totalmente “fora do sistema”, de um ponto de vista que diz “isto é tudo...”. E depois pode acrescentar-se o qualificativo que se queira, “uma merda”, “uma corrupção nojenta”, que quem fala da sua torre imaculada terá sempre razão.
Miguel Sousa Tavares terá razão uma vezes, outras não – e por isso me interessa. Mas o que leio, e voltei a ler esta semana, é o texto de alguém que faz juízos sobre a realidade, arriscando-se ao mesmo tempo a ser avaliado. O que Miguel escreve é passível de verificação. Hoje, sustenta que “Manuela Ferreira Leite não tem um pensamento político sólido, nem estruturado para o país”. E justifica-se com clareza. A clareza que nos permite estar de acordo ou contradizê-lo.
Afirma também que o Governo recuou na avaliação dos professores (o que talvez, faço notar, não seja bom) e que a Fenprof, de Mário Nogueira, não vai pactuar com essa flexibilidade porque a sua natureza leninista lhe impõe como objectivo o “mata, mata”scolariano e não o diálogo (o que, digo eu, é péssimo).
Para mim, que reconheço a necessidade do país em que vivo ser governado (há quem pense exactamente o contrário), e não pressinto potencial governativo a não ser no PS e no PSD, o que me incomoda não é o fogo de artificio de exaltados abjeccionistas ou de destemperados ideólogos. O que me preocupa é ver mais lucidez num jornalista com irritante sentido cívico do que no partido a quem compete fazer uma oposição competente capaz de se converter em acção governativa. Haverá alguma hipótese de Manuela Ferreira Leite passar pela Bénard e tomar um chá com o Miguel? Só para ver se o deserto se anima...
5 comentários:
Concorde-se muitas vezes ou não com o MST, tem mais sentido de Estado que os políticos da última década.Fazia falta o chá não só a MFL mas a toda a classe politica, mais que não seja para aprenderem a ter causas e defendê-las para além do próprio umbigo e da cor que os acompanha.
O caçador Sousa Tavares, com um colarzito de pérolas, fica igual à Sr.ª Leite.
Concordo com MST muitas vezes, mas discordo da forma como o faz.
Não tem moral, nem obra, nem idade, nem experiência para falar com o tom com que por vezes fala.
Aparte disso, o que diz sobre MFL demonstra que MST não tinha jeito nenhum para ser político.
E provavelmente é mesmo por isso que nunca o foi...
Manel, vai um mundo de diferença entre fazer crítica, de política, de literatura ou de cinema, e fazer a obra propriamente dita. Alguém pode ser excelente ou muito bom a fazer crítica, mas incapaz de fazer com que os outros adoptem as suas políticas, ou fazer um livro capaz de ganhar o Nobel ou o um filme merecedor de um Oscar.
Tomemos o exemplo da Educação.
Pode um jornalista dizer que os professores em Portugal não querem avaliação, nem esta nem nenhuma.
Agora suponhamos que um político o faz. E que mais tarde, tenha funções nessa área, como irá ser respeitado, ouvido, seguido?
Seria como alguém "pegar" numa equipa de futebol dizendo são um bando de ineptos, não querem treinar, são toscos e não têm espírito de equipa...Ou um general que vai para a guerra dizendo que só leva fracos.
Um líder tem uma visão, um projecto, uma estratégia, jamais dirá publicamente que os seus liderados não querem ou não sabem, (se o fizer fá-lo-á internamente, no seio do grupo).
Fico muitas vezes com a certeza que quem escreve publicamente, jornalistas mas não só, nunca na vida teve de liderar, obter resultados e ser julgados por eles.
Um treinador tem sempre a melhor equipa e um general os melhores soldados.
Sofia, não quero, nem creio que seja essa a vocação dele, propor o MST para o governo, tanto o de Sócrates, como o cada vez mais improvável governo de Manuela.
Acontece é que o zigue zague de posições de MFL e o desatino de algumas afirmações retirou tanta lucidez à sua Oposição que uma amena cavaqueira com "outro ponto de vista" não lhe faria mal nenhum.
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