Da Visão: o sacrifício de Lisboa
Who wants you?
No meio da crise financeira que abala o Mundo o mais provável é que a anunciada candidatura de Santana Lopes à Câmara Municipal de Lisboa, não comova nem o menino Jesus. E convenhamos que há, de facto, assuntos mais urgentes para nos ocupar a todos. Não obstante, vale a pena tirar deste facto algumas ilações sobre o estado do PSD.
Primeira ilação: o PSD aposta na falta de memória do eleitorado de Lisboa. Recordemos os factos: num gesto bem elucidativo da sua dedicação à cidade, Pedro Santana Lopes abandonou a Câmara em 2004 para dirigir, senão o pior, seguramente um dos piores governos que os portugueses conheceram no pós-25 de Abril. «Dispensado» pelas razões que se conhecem, recusou-se a encarar a realidade e foi esmagado nas urnas nas eleições legislativas, voltando a ocupar fugazmente o cargo de Presidente da Câmara numa penosa demonstração de apego ao poder que só muito dificilmente alguém poderá ter esquecido.
Não há mortes em política e Pedro Santana Lopes tem todo o direito a querer renascer das cinzas. Mas o facto do PSD o propor para «atacar» a Câmara de Lisboa não pode ter duas interpretações: o partido passou um atestado de menoridade aos cidadãos de Lisboa. Esperemos pela volta do correio.
Segunda ilação: o PSD «borrifa-se» na cidade de Lisboa. Ninguém de bom senso acreditará que a Dr.ª Ferreira Leite acordou subitamente para os méritos governativos de Pedro Santana Lopes. Ninguém acreditará que, generosa, esqueceu a sua passagem desastrosa pelo governo e a sua liderança errática da Câmara de Lisboa. Muito menos alguém acreditará que a Dr.ª Ferreira Leite está verdadeiramente convencida de que, para Santana Lopes, a Câmara é um fim em si mesmo, por oposição a um trampolim para mais e maiores voos políticos.
Não há anjinhos em política. E a Dr.ª Ferreira Leite tem todo o direito de decidir sacrificar Lisboa para tirar o incómodo Dr. Lopes do seu caminho. Mas mais uma vez não há aqui duas leituras possíveis: para o PSD a corrida por Lisboa é um instrumento de política interna. Esperemos, repito, pela volta do correio.
Terceira e última ilação: no PSD, por muito que se tente, não se vislumbra a sombra de uma verdadeira liderança. Pode até fazer-se, como sugeri acima, uma leitura perversa do processo de escolha do candidato do partido à Câmara Municipal de Lisboa. É bem possível que a direcção do partido veja em Santana Lopes uma opção que reputa de duplamente cómoda: se ganhar Lisboa, ganha o PSD; se perder Lisboa, perde Santana. Mas por muito sofisticadas que sejam as leituras, por muito maquiavélicas que sejam as jogadas, não vale a pena tapar o sol com uma peneira: a candidatura de Santana é uma tremenda cedência de Ferreira Leite à sua oposição interna. De tal forma tremenda, de tal forma estrondosa que, mais uma vez, não abre espaço a interpretações diversas: quem não consegue pôr ordem em sua própria casa não pode esperar que nela confiem para pôr ordem no país.
PS: escrevo ainda antes da reunião da Comissão Política do PSD que supostamente confirmará a candidatura de Santana Lopes. Pode portanto ainda acontecer que o bom senso prevaleça. Se tal suceder, é com gosto que engolirei as minhas próprias palavras.
No meio da crise financeira que abala o Mundo o mais provável é que a anunciada candidatura de Santana Lopes à Câmara Municipal de Lisboa, não comova nem o menino Jesus. E convenhamos que há, de facto, assuntos mais urgentes para nos ocupar a todos. Não obstante, vale a pena tirar deste facto algumas ilações sobre o estado do PSD.
Primeira ilação: o PSD aposta na falta de memória do eleitorado de Lisboa. Recordemos os factos: num gesto bem elucidativo da sua dedicação à cidade, Pedro Santana Lopes abandonou a Câmara em 2004 para dirigir, senão o pior, seguramente um dos piores governos que os portugueses conheceram no pós-25 de Abril. «Dispensado» pelas razões que se conhecem, recusou-se a encarar a realidade e foi esmagado nas urnas nas eleições legislativas, voltando a ocupar fugazmente o cargo de Presidente da Câmara numa penosa demonstração de apego ao poder que só muito dificilmente alguém poderá ter esquecido.
Não há mortes em política e Pedro Santana Lopes tem todo o direito a querer renascer das cinzas. Mas o facto do PSD o propor para «atacar» a Câmara de Lisboa não pode ter duas interpretações: o partido passou um atestado de menoridade aos cidadãos de Lisboa. Esperemos pela volta do correio.
Segunda ilação: o PSD «borrifa-se» na cidade de Lisboa. Ninguém de bom senso acreditará que a Dr.ª Ferreira Leite acordou subitamente para os méritos governativos de Pedro Santana Lopes. Ninguém acreditará que, generosa, esqueceu a sua passagem desastrosa pelo governo e a sua liderança errática da Câmara de Lisboa. Muito menos alguém acreditará que a Dr.ª Ferreira Leite está verdadeiramente convencida de que, para Santana Lopes, a Câmara é um fim em si mesmo, por oposição a um trampolim para mais e maiores voos políticos.
Não há anjinhos em política. E a Dr.ª Ferreira Leite tem todo o direito de decidir sacrificar Lisboa para tirar o incómodo Dr. Lopes do seu caminho. Mas mais uma vez não há aqui duas leituras possíveis: para o PSD a corrida por Lisboa é um instrumento de política interna. Esperemos, repito, pela volta do correio.
Terceira e última ilação: no PSD, por muito que se tente, não se vislumbra a sombra de uma verdadeira liderança. Pode até fazer-se, como sugeri acima, uma leitura perversa do processo de escolha do candidato do partido à Câmara Municipal de Lisboa. É bem possível que a direcção do partido veja em Santana Lopes uma opção que reputa de duplamente cómoda: se ganhar Lisboa, ganha o PSD; se perder Lisboa, perde Santana. Mas por muito sofisticadas que sejam as leituras, por muito maquiavélicas que sejam as jogadas, não vale a pena tapar o sol com uma peneira: a candidatura de Santana é uma tremenda cedência de Ferreira Leite à sua oposição interna. De tal forma tremenda, de tal forma estrondosa que, mais uma vez, não abre espaço a interpretações diversas: quem não consegue pôr ordem em sua própria casa não pode esperar que nela confiem para pôr ordem no país.
PS: escrevo ainda antes da reunião da Comissão Política do PSD que supostamente confirmará a candidatura de Santana Lopes. Pode portanto ainda acontecer que o bom senso prevaleça. Se tal suceder, é com gosto que engolirei as minhas próprias palavras.
9 comentários:
Leio o texto o pergunto-me:
1º: se a memória dos cidadãos, no que se refere à política, não tem prazo de validade e;
2º: se o grave, para o PSD, não passa por não ter mais alternativas, com "visibilidade", para lutar pela CML.
Quanto ao resto Santana Lopes já demonstrou ter 7 vidas (para além de as saber viver).
A candidatura de Santana parece-me muito inteligente.
1. Vem trazer de novo a terreiro a inconsistência das acusações que levaram às últimas eleições em Lisboa. Ao fim de dois anos não há qualquer resultado palpável de tais acusações.
2. Vai obrigar a esquerda a unir-se à volta de António Costa o que favorece o PSD nas legislativas onde o BE e o PCP ameaçam disputar os votos "caídos" do PS.
3. Também é verdade que não há grandes alternativas e, se Santana perder, MFL livra-se dele durante algum tempo.
F. Penim Redondo, Admito que a sua leitura faz sentido mas no fim do dia tudo se resume ao mesmo: «que se lixe Lisboa». Valores mais altos (será?) se levantam
Obviamente que a candidatura de Santana Lopes é importante para Lisboa. Mas no caso concordo consigo:desde que este se proponha a levar o mandato até ao fim,e com a cabeça a 100% no cumprimento das suas funções..
Talvez melhor do que Seara, e portanto melhor do que ninguém,Santana representa a melhor oportunidade de tirar a câmara a António Costa! O que não vai ser fácil..
Depois,obviamente Manuela Ferreira Leite "livra-se" de alguém que lhe podia causar alguns incómodos..
E se "legislativamente" o PSD anda pelas ruas da amargura,completamente desordenado,"autarquicamente" tal não acontece..E Santana Lopes pode contribuir para melhorar a situação!Eu acredito nele..
Cumprimentos, Futebol Total
" Não há anjinhos em política".
Não há anjinhos gestores, administradores, juízes, médicos advogados, se isso quiser significar que estamos a falar de pessoas maduras, realistas, que já viveram o suficiente para não serem inocentes ou ingénuas.
Pedro, parece-me que a frase, por si só, não faz muito pela dignificação da política e dos políticos porque é generalista e injusta.
Por mim, quero apenas cívica e responsavelmente ter o direito de participar no desenvolvimento do meu país.
Não quero ser anjo, muito menos ser um diabo em figura de gente.
12 de Maio de 2008 - PARA QUE AS PESSOAS SE LEMBREM.
MANUELA FERREIRA LEITE ESCUSOU-SE A RESPONDER SE VOTOU EM PEDRO SANTANA LOPES NAS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS DE 2005 em entrevista ao Jornal de Notícias.
«Obviamente que não lhe respondo», respondeu a candidata à presidência do PSD,.Santana Lopes está irritado por Manuela Ferreira Leite se ter recusado em revelar em quem votou nas legislativas de 2005, quando ele era líder do PSD e tentava continuar a ocupar o cargo de primeiro-ministro.
"É UMA DECLARAÇÃO QUE ULTRAPASSA OS LIMITES DO RAZOÁVEL E, PORTANTO, INACEITÁVEL". FOI DESTA FORMA QUE PEDRO SANTANA LOPES COMENTOU A ENTREVISTA DE MANUELA FERREIRA LEITE , onde a candidata à liderança do PSD se recusou a confirmar se votou no PSD nas últimas eleições legislativas.
Lisboa merece quem abram jardins como a 43 ha na Quinta das Conchas e dos Lilases no Lumiar e no Arco do Cego, em vez de terminais rodoviários; Lisboa precisa de reabilitar o edificado, como na Rua da Madalena e em São Bento, exemplos da inversão da tendência entre a nova contrução e a recuperação do edificado antigo; Lisboa pede bairros históricos fechados ao trânsito como Bairro Alto, Alfama, Santa Catarina e Bica; os nossos monumentos ganham em ser restaurados como as igrejas de Santa Catarina, Nenino de Deus, Mártires, São Nicolau, Encarnação e Conceição ou a Sinagoga do Rato; Lisboa pede parques de estacionamento para os moreadores no centro como Santos, Calçada do Combro, Portas do Sol, São Bento, Praça de Londres etc; Monsanto pode ser entregue às famílias como um espaço seguro e equipado para desporto e recreio; os grandes arquitectos internacionais, como Norman Foster, Jean Nouvel e Frank Ghery, podem assinar obras em Lisboa atraindo à Capital o cosmopolitismo para que está vocacionada; os ciganos do gueto do Vale do Forno também têm direito a casas; Pode ser reconhecido pelo Tribunal de Contas a recuperação das contas da CML (entre 2002-05)apesar na Lei das Finanças Locais de 2002, dos imperativos que excluem Lisboa e Vale do Tejo de benefícios europeus e do rombo deixado pela governação socialista na dívida da CML à Expo; Lisboa deve conduzir a união das cidades capitais que falam português com obras significativas que construam no terreno um novo universalismo lusófono; Lisboa pode atrair eventos internacionais como o Paris Dakar, o Rock in Rio, a Experimenta Design etc; Lisboa é obrigada a desenvolver uma vida de bairro com carrinhas LX-porta-a-porta para os que menos podem andar, com sete novas piscinas municipais e quatro mercados integralmente recuperados; Lisboa precisa de ver desenhados com qualidade os espaços imensos de Alcântara e do aterro da Belavista. Tudo isto - e mais, que em cima da hora não consigo lembrar-me - foi feito em apenas 3 anos por Pedro Santana Lopes. Digam o que disserem, tudo isto foi mesmo feito com uma determinação, visão e consequência a que Carmona e Costa não corresponderam. Contra estes factos, espero argumentos.
Caro Pedro Norton,
Que capacidade impressionante que tem a sua retórica em dissimular os factos e ocultar virtudes, no sentido de afirmar a verdade que melhor ressalta deste seu post – a de que não morre de amores pelo Dr. Santana Lopes.
Numa coisa concordaremos, a crise que vivemos no Mundo é muito mais importante que, a este tempo, discutir a possibilidade de PSL vir a ser candidato a Presidente da Câmara de Lisboa.
Mas agora, com o devido respeito por quem tem opinião diferente, vamos às ‘suas’ ilações:
- Primeira ilação: É por o eleitorado de Lisboa ter memória que se lembrará do contraste que foram os três anos de governação autárquica de Pedro Santana Lopes, quando comparados com o desempenho dos seus sucessores - principalmente António Costa, que enfada uma cidade cada vez mais cinzenta com a sua falta de visão, projectos e capacidade para os executar. Quanto aos três anos, nem me vou dar ao trabalho – depois de ler o comment de Inez Dentinho – penso que estará praticamente tudo dito – com o pragmatismo, objectividade e verdade - que estará certamente presente no eleitorado lisboeta, se lhe for dada a opção de ter de novo uma ‘Lisboa Feliz’.
Quanto há saída da Câmara e respectivo regresso, sobre o XVI Governo Constitucional e toda a conversa dos avaliadores e comentadores do costume, deixo um apelo há sua memória, pois do que me lembro é de um governo com excelentes ministros, com alguma descoordenação fruto do pouco tempo que teve para ser constituído e por ter ‘apanhado’ uma legislatura a meio, da escandalosa contra-informação dos media (alguns ainda a responder nos órgãos competentes), um governo de quatro meses mas que tomou medidas corajosas que ninguém contestou e que só foi embora, porque o partido socialista encontrou um comissário político na mais alta figura do Estado, isso sim, é que foi escandaloso.
- Segunda ilação: Se a candidatura de PSL for adiante, é uma sorte para o PSD poder contar com um dos políticos mais experientes e indiscutivelmente um dos seus melhores quadros, não só pela capacidade que tem e já demonstrou, mas também porque sempre esteve disponível para combater, ao contrário de outros que quando não têm a vitória certa se escondem e fogem.
Caro Pedro Norton, não lhe passa pela cabeça que num partido político que está na oposição, alguém (mesmo com um projecto e ideias diferentes) tem que trazer algum bom senso a isto, num tempo que tem necessariamente de ser de construção, dado que estamos a um ano de vários combates eleitorais, em que existe um adversário a derrotar, de seu nome, partido socialista.
- Terceira ilação: Cedência de Ferreira Leite à oposição interna ? Não será antes, capacidade de Ferreira Leite de federar o partido, e mobilizar os militantes – principalmente os que trazem valor acrescentado – apesar de terem estado em Maio último a apoiar outras candidaturas.
Já deu para perceber, sou militante do PSD, mas sou também autarca.
Sempre me inspiraram aqueles que lutam no lugar daqueles que se escondem, como sempre apreciei mais aqueles que fazem do que aqueles que prometem.
O PSD não se “borrifa”, mas sim reencontra-se, quando alguém vem lembrar que os combates se fazem em nome de projectos, em nome das pessoas que precisam de ser servidas.
Se vaidade é ter projectos e coragem para com eles se submeter a votos, então que venha essa vaidade. É dela que todos precisamos.
Se vaidade é fazer política em nome de princípios e de valores, e não em nome dos calculismos de conquista e manutenção de poder, então venha ela.
Sá Carneiro lutou muitas vezes com a incerteza da vitória. Perdeu - também perdeu eleições legislativas em 1976, mas ganhou-as uns anos mais à frente.
Não desistiu, e também coleccionou os seus inimigos. Também ele teve os seus detractores, não em tinta de revistas, mas em inscrições de tinta, hoje esbatida pelo tempo - que continua ainda em algumas dessas paredes de Portugal.
Mas ensinou-nos também a ter fibra e a não desistir de Portugal, um legado que muitos no PSD não alienam.
É certamente nesta linha, que PSL faz o seu caminho, com galhardia e com paixão, mas também com a admiração e reconhecimento de muitos.
Ricardo Campos
Militante do PSD 54869
Inês,
Agradeço, antes de mais, o seu comentário e a informação aí contida. O derradeiro argumento por que clama será o voto do Lisboetas. Talvez eles vejam a obra que você, que foi seguramente uma espectadora privilegiada, com grande pormenor e informação, descreve. Mas talvez, dê-lhes esse direito, vejam antes o político errático, talvez vejam o homem que parece depender da política, talvez vejam o homem que já um dia abandonou a câmara, talvez vejam o ex-primeiro ministro de um governo sem liderança, rumo ou coordenação, talvez vejam um percurso de longos anos cheio de contradições. Talvez, muito prosaicamente, já não confiem no político. Em 2005 os portugueses avaliaram o seu desempenho no governo (curiosamente os eleitores de Lisboa foram mais castigadores do que a média nacional)e entregaram o país ao Engº Sócrates. Agora, se os lisboetas forem chamados a fazê-lo no quadro de umas autárquicas, dirão o que acham. Talvez lhe dêem toda a razão. Não será é com o meu voto.
Ricardo,
Agradeço também o seu comentário. Mas permita-me que lhe diga que está a ser injusto com a sua insinuação. Se tivesse a pachorra para ler o que escrevo (virtude que não me atrevo a exigir-lhe) saberia que uma coisa eu não faço: esconder que não gosto de PSL como político. Não preciso de perder tempo em retórica inútil para o dizer com todas as letras. Quanto ao mais, é bem patente, as nossas ilações não podem ser mais divergentes. É essa a riqueza da vida em democracia.
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