quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Amor ao Liberalismo

Há duas formas de mandar um filho estudar na Universidade, quando a Universidade fica a 130 km de casa.

Uma, é, em 1990, chamar uma filha, com 18 anos, que nunca viveu fora de casa e perguntar-lhe: " - Quanto é que queres por mês?"
" - Casa X, alimentação Y, livros, deslocações, passe,60 contos".
" - Muito bem, serão 60 contos. Não me interessa se vives num palácio, ou debaixo da ponte, se gastas tudo numa semana ou num mês."

Quando se dá uma mensalidade a um jovem, para gerir com total liberdade, e em troca se pede uma licenciatura tirada com brio, muitas coisas podem suceder.

Para começar, o mais certo é fazer umas quantas asneiras. Gastar o dinheiro todo na primeira metade do mês, por exemplo. Em consequência, andar de trólei sem pagar, sem picar bilhete. Estragar cabines telefónicas a empurrar os cartões que já não têm crédito. Levantar a janela do quarto e entrar furtivamente na arrumação do restaurante do r/c para roubar umas garrafas de Grão Vasco que ficavam mesmo bem com a panela de feijoada para a malta.

Com o tempo, arte e engenho, também pode dar-se o caso de começarmos a pensar que já que a mesada não vai mesmo aumentar e que aconteça o que acontecer vai permanecer a mesma, sempre poderíamos pensar na melhor maneira de poupar uns tostões. Primeira medida, escolher uma casa mais barata. Vender livros usados, vender apontamentos, dar explicações, andar a pé, dividir contas até ao tostão, comprar roupa nos saldos da Zara. No final do mês ainda pode ser que sobre algum dinheiro para uma extravagância, ou para guardar para uma viagem.

A outra modalidade é diferente: espartilham-se as despesas. Casa, tanto. Alimentação, outro tanto, transportes, o mesmo, e outro tanto ainda para os livros. " - Oh pai, a casa está mais cara. É mês de livros, agora foi o passe que aumentou. "

Pois foi, pois é. E vai ser sempre.

Acredito em bom rigor que nesta modalidade, mais controlada e supervisionada, não se chegue ao extremo de tanta imprudência e asneira, ilícitos até, da primeira modalidade. Nem há necessidade disso, porque tudo está pensado, previsto e devidamente acautelado. Presumo, pelo muito que vi, que estas pessoas achem que os pais tinham a obrigação de lhes dar aquilo tudo, achando simplesmente que tinham esse direito.

Parece-me até que vão passar o resto da vida a fazer exigências, sem perceber que o tempo da faculdade já passou. E quando as coisas lhes correrem mal, até clamarão, por tudo e por nada, pelo sacrossanto princípio da igualdade.

Por mim, só concebo a vida de uma forma: a maior liberdade, com a maior responsabilidade. Ser livre de actuar e ser severamente responsabilizado, julgado e punido pelos meus actos, se for o caso.

Seja como for, espero que o dono do restaurante "Safari", na Rua dos Combatentes em Coimbra, não leia blogs. Mas se ler, sim senhor fomos mesmo nós, as quatro estudantes daquele T1, quarto e sala com 50 m2.

3 comentários:

Diogo disse...

Jon Stewart, do Daily Show - 700 mil milhões de dólares para os Bancos

Jon Stewart, do Daily Show, fala-nos do plano do secretário das Finanças, Henry Paulson, no valor de 700 mil milhões de dólares, para salvar a finança americana. Pelo meio, uma breve mas brilhante análise da situação por George Bush. Um curto vídeo que nos arranca um bom par de gargalhadas e que termina numa toada arrepiante:


Stewart: Com Wall Street em ruínas, o secretário Frankensteiniano das Finanças, Henry Paulson, correu a ajudar com um plano brilhante. Um plano governamental de 700 mil milhões de dólares para resgatar a indústria financeira. 700 mil milhões do vosso dinheiro.

Bem, 700 mil milhões de dólares é imenso dinheiro, será que o Paulson vai aceitar? Sim ele aceita mas só sob certas condições. Para o secretário Paulson aceitar o nosso dinheiro, as decisões dele têm de ser, e passo a citar:

- Não consultáveis e mantidas em sigilo, e não podem ser analisadas por qualquer tribunal ou organismo administrativo.

Ouçam, antes de darmos a um funcionário sinistro que nem sequer foi a votos 700 mil milhões de dólares para fazer o que lhe apetecer, há uma coisa que devem saber. Este guru financeiro foi apanhado de surpresa.

(Entrevista de Paulson na Fox News a 16 de Março deste ano - 2008):

Paulson: tenho imensa confiança no nosso mercado financeiro, nas nossas instituições financeiras, os nossos mercados são resistentes, são flexíveis. As nossas instituições e os bancos de investimento são fortes.

Stewart: Isto é que é ter visão! É a cabeça de Aquiles dele. Para mais informações vamos falar com o nosso analista John Oliver. Oliver, obrigado por estares connosco. Isto é espantoso... Um exemplo espantoso... Para esta Administração depois do Katrina, depois do Iraque...

Oliver: A prisão de Guantánamo?

Stewart: Sim, isso também nos colocou numa situação difícil…

Oliver: E a politização do sistema judicial?

Stewart: Sim, preocupante.

Oliver: O secretismo draconiano?

Stewart: Sim, está bem. Onde quero chegar é ao seguinte, nunca pensei que houvesse outra área onde estes tipos conseguissem dar barraca.

Oliver: Eu sei. E não foi fácil. Foi como tentar encontrar a veia num viciado em falhanços.

Stewart: Então... Isto é... Eu compreendo, quando a veia morre é difícil... Então esta crise económica é, digamos assim, a cobertura de bosta no bolo de merda desta administração?

Oliver: Muito bem… Duas coisas: primeiro, essa metáfora teve classe. E, segundo, não os dês por acabados, Jon. Ainda falta muito até Janeiro (de 2009).

Stewart: Então achas que ainda há mais para vir? O que é que resta para eles... desconseguirem, digamos assim?

Oliver: Bem, vejamos... Ainda tens casa? Sim? Bem, então aí tens. Os teus filhos tomaram o pequeno-almoço hoje de manhã?

Stewart: Tomaram, tomaram um bom pequeno-almoço.

Oliver: E foi alguma coisa que encontraram na rua?

Stewart: Estás a dizer que o Presidente só vai ficar satisfeito quando os miúdos americanos comerem animais atropelados?

Oliver: Quando lutarem entre si pelos animais atropelados. Quando os animais atropelados forem o prémio para os mais fortes.

Stewart: Mas... Porquê?

Oliver: O legado Jon. Ouve, todos sabemos que ele nunca será lembrado como o melhor Presidente. Mas ainda pode, se se esforçar bastante...

Stewart: Ser o pior?

Oliver: Ser o último!


Vídeo legendado em português:

Anónimo disse...

Só por curiosidade: sobrou alguma garrafita?

Sofia Rocha disse...

Sobraram sim. O stock era grande. Para além de que nós variávamos: também gostávamos de um Porta da Ravessa...