sábado, 20 de setembro de 2008

Os traineeeeeeeeees

Existe uma categoria de candidatos a assessores, ou consultores, políticos ou de imagem, ou comunicação, de Ministro que, enquanto jovens, ou muito jovens, eu chamo traineeeeeees.
A estridência do nome provém do facto destes jovens candidatos a assessores serem de muita evidência. Assemelham-se enormemente entre si. Não muito altos, trajam todos o mesmo fato cinzento escuro, a mesma camisa azul e a mesma gravata encarnada. A qualidade e gosto na escolha do sapato costuma definir a proveniência social.
Usam acoplado ao ouvido um aparelho telemóvel, da mais alta tecnologia, o mais recente grito, portanto. Geralmente na mão esquerda, porque, de passagem, sempre exibem impanes, o grande relógio. Mãos transparentes de dedinhos finos treinados apenas nas novas tecnologias: soundbytes.

Sempre apressados, sempre aos magotes, muito conscientes, compenetrados e atentos às necessidades do seu Ministro, ou Secretário de Estado. Negoceiam tempos de antena com as tv´s, batem o pezinho pequenino, e saiem finalmente, em arrevoadas, conscientes de mais um dever cumprido. Parecem bandos de pardais à solta.

Suspeito que nenhum deles tenha frequentado estações de camionagem, ou de caminho de ferro, centros de saúde, hospitais públicos, usado transportes públicos, andado em escolas públicas, posto o pé na segurança social ou num centro de emprego,ou tenha ido ao interior, que é onde verdadeiramente anda, ou pára, o país que Portugal é.

Só da cabecinha desta gente pode ter saído um discurso que ouvi a um Ministro no qual comparava as performances da economia nacional e o problema energético com a selecção nacional, o Critiano Ronaldo e o recordista dos 100 m, sendo que Portugal ficava a ganhar.

Para esta gente, Portugal tem a distância que vai de Cascais à Bica do Sapato. De TGV. Ou de carro com motorista. Ou de táxi, em último caso.

2 comentários:

Gonçalo Pistacchini Moita disse...

E sabe o que é pior Sofia? São arrogantes. Já sabem tudo. Não querem aprender. Saem dos cursos para os gabinetes e começam a mandar em quem já lá está há muito tempo. E fazem-no sem tacto e sem educação. A vontade do Sr. Ministro é lei e eles querem agradar ao Sr. Ministro. Tornam-se maus. Na sua maioria, porém, tornar-se-ão, com o tempo, uns desgraçados. Já a restante minoria, com o tempo, desgraçar-nos-á.

Sofia Rocha disse...

Gonçalo: " Nothing will come of nothing" ( King Lear Quote)