domingo, 17 de agosto de 2008

Ter 115 anos não é sexy

Mae West: um reclinado conforto
Ter 115 anos não é sexy. Se estivesse viva, Mae West festejaria hoje esse aniversário. Temo que a ideia a encantasse.
Nascida em Queens e criada em Brooklyn, rosto redondo e corpo rectangular, com os qualificativos a valerem o que menos a uma mulher e à maior parte dos homens lhes interessa que valham, o certo é que Mae West se converteu num sex-symbol.
Começou cedo no teatro e cedo chegou à prisão. Em 1927, estreou Sex em Nova Iorque, acabando condenada a 10 dias de prisão por atentado à moral. Durante a penosa reclusão exigiu usar sempre roupa interior de seda. O director do estabelecimento, compreensivo e com inclinações artísticas, levou-a ao cinema todos os dias, menos dois, os que, por bom comportamento, já não cumpriu.
Hollywood, seduzida pela controvérsia, convidou-a para o cinema com a improvável idade de 38 anos. Não fez muitos filmes e talvez nenhum deles seja uma obra-prima. Mas com “She Done Him Wrong“ e “I’m no Angel” firmou uma reputação. Para mim bastaria a voz. Mas há quem, nela, veja outros altos valores. Por exemplo: os caracóis louros, o olhar malicioso, o corpo que talvez seja muito menos rectangular do que eu disse e muito mais próximo do reclinado conforto duma “chaise-longue” (o reclinado conforto é ideia minha, a “chaise longue” emprestou-ma o ensaísta David Thomsom) .
Repito, a mim bastar-me-iam as coisas que disse e a rouca maneira como as disse. Cito três das suas mais famosas réplicas:
“Tens uma pistola no bolso ou estás apenas contente por me voltar a ver?”, frase dela que o olhar discreto e baixo confirmava em “She Done Him Wrong”, parece ter sido o que, na vida real, disse ao polícia que, em L.A. a foi escoltar no regresso duma viagem.
Intraduzível (digo eu por timidez), é o que ela sugere a Cary Grant, no primeiro filme que fizeram juntos: “Come up and see me some time.”
“Quando sou boa, sou muito boa, mas quando sou má, sou muito melhor” constitui o momento mágico de “I’m No Angel”.
Estas réplicas, ditas como ela as disse, deram pela primeira vez substância à palavra libido, até aí um termo inútil.
Constrangida, Hollywood inventou o divertido Código Hays, que determinava o que se “podia” e o que “não se podia” fazer, fingir que se fazia ou dizer. Mae West reagiu bem: “Acredito na Censura. Fiz uma fortuna à conta disso.”



3 comentários:

Sofia Rocha disse...

Ou, como diria a minha avó, já quase centenária, uma "grandecíssima" atrevida!

Maria disse...

Ser sexy é não ter idade. Ou não será essa a ideia de preservar os ídolos em papiros, Posters, youtube e o que mais por aí virá

Manuel S. Fonseca disse...

Olá Sofia, tem razão. Era, era. de uma altíssimo atrevimento. E dizia: "O que conta não são os homens na minha vida, é a vida nos meus homens".
E, Maria, eu diria que ser sexy é apagar a idade. Apareça sempre. Mesmo depois do Verão. Vera e nuda!