quarta-feira, 20 de agosto de 2008

O desporto, a Pátria e os mínimos olímpicos


Há uns anos, quando Fernando Mamede desistiu na corrida olímpica dos 10 mil metros, José Miguel Júdice apressou-se escrever na coluna de opinião que tinha no «Semanário» o título, «Somos um País de Mamedes!».
Hoje, como ontem, proliferam conclusões generalistas e cáusticas sobre os resultados obtidos pelos nossos atletas nos Jogos Olímpicos.
É normal. A excitação mediática dos dias da véspera favorece a desmesura das nossas expectativas e, no «day after», os mesmos protagonistas - jornalistas, políticos e público - procuram uma explicação para o desencontro no desfecho.
Tenho ouvido as declarações avulsas da última semana, sem ordem nem constância. Alguma me terá falhado. Registo em particular o «atleta» que dizia que as suas manhãs estavam mais calhadas para estar «na caminha» mas, de todas as que chegam, a que mais me impressionou foi a de Vanessa Fernandes.
Com os pés ainda quentes do pódium disse que havia colegas que não se esforçavam; que tinham ido para Pequim em passeio, que não sabiam o que estavam ali a fazer; que era preciso sentir lá dentro (como ela, apertando a mão contra o peito) o amor ao desporto e à representação de Portugal.
Concordo com o que disse a Vanessa Fernandes mas a galardoada devia ser a última a falar sobre este assunto. Havia demasiadas provas a decorrer para que um dos atletas, com a medalha garantida, surgisse a fazer queixas públicas sobre a motivação dos seus pares. Mais: nada a autoriza a supor a motivação dos outros. E, o que é pior, parece-me manifestamente injusto não fazer qualquer distinção entre os atletas que ali foram. Os fracos resultados da Naide Gomes, logo depois, podem agora ter mais uma explicação, ainda que improvável. Já a desistência das competições do velejador que ficou a um ponto do Bronze está seguramente ligada ao ambiente de purga que se gerou na selecção portuguesa de Pequim.
Bem pode Vanessa bater com a mão no peito e dizer que ali sente Portugal; bem pode doar o seu prémio ao menos favorecidos, bem pode explicar num programa televisivo «auto-biográfico» que «tem a simplicidade que muitos não têm». Pede-se mais do que uma medalha de cada desportista que ali foi. Pedem-se mais do que os mínimos olímpicos para concorrer.
Exige-se verdadeiro espírito desportivo e consideração por Portugal.

1 comentários:

Sofia Rocha disse...

Inês, simplesmente existem demasiadas coisas mal feitas para que o resultado final possa ser outro.
Sabem há quanto tempo o máximo responsável pelo CO é alto dirigente do mesmo? Há trinta anos.Alguém sabe dizer quantas pessoas viajam habitualmente nestas comitivas? Dezenas! Farão as pessoas alguma ideia do que são as federações desportivas de utilidade pública? Centenas de pessoas que ocupam os lugares há dezenas de anos e onde já trabalham famílias inteiras. Funcionários públicos requisitados e destacados são a regra, sobretudo docentes de educação fisíca.
Os centros de alto rendimento, que envolvem centenas de treinadores e atletas produziram que resultados?
Tristemente Portugal faz uma coisa muito simples: emprega centenas de milhar de funcionários públicos, paga-lhes mil euros por mês, não avalia, não exige, não despede.
Dá umas dezenas de bolsas para atletas, também de mil euros, não avalia, não exige, não despede.
Se for melhor trabalhador ou atleta terá, frequentemente, de emigrar.
Já agora, alguém sabe há quantos mandatos está o nosso Secretário de Estado do Desporto no Parlamento? Eu sei. Quatro.