terça-feira, 5 de agosto de 2008

II. Os intelectuais

Cada um destes tipos gera perigos específicos. O rei-sacerdote tende para o totalitarismo. O conselheiro tende para se tornar um esbirro, um bajulador, um serviçal. O profeta tende a ser extremista, fechado sobre si mesmo, e de tanto dizer aos outros como devem viver a sua vida esquecer-se de como deve sequer viver a sua. O monge tem como perigo a indiferença. O giróvago o de transformar-se num mero palhaço.

Feito o balanço final, a História foi escassa em reis sacerdotes. Todos os outros tipos existiram em graus diferentes na História.

Qual é o intelectual que se encontra em decadência na nossa época afinal? Qual o destruído pela vitória (escassa e ilusória) do mundo ocidental contra o comunismo? O intelectual a que se referem quando falam desta queda é o profeta. O que anuncia os novos caminhos da humanidade. O que explica como se deve fazer a revolução, como no tristemente célebre e esquecido episódio em que Sartre vem a Portugal ensinar como se deve fazer uma revolução proletária para ser conforme aos ditames da dialéctica.

O giróvago continua a existir placidamente, sem ser incomodado. É o que se vê nas galerias de arte, é o palhaço caro a quem se pagam pinturas e instalações ou se deixa fazer poesia a que não se dá estatuto constitutivo, mas apenas lúdico.

O monge continua intocado, sobretudo na ciência, ou sob o estatuto do erudito, do estudioso, que faz livros que interessam apenas a outros monges. É no fundo irrelevante para o público em geral, entendido como figura menor, sem gerar excitação, apenas suscitando alguma condescendência. No fundo, é visto como o seria um espécime antropológico. Como o Bororó, é assim porque é assim, suscita alguma curiosidade dominical vespertina, nada mais. Nisso em nada mudou o seu estatuto desde há muito tempo.

O conselheiro desapareceu desde De Gaulle. Para que exista é preciso que haja soberanos.

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