IV. “Carpe diem” e power point
Mas qual a relação entre o diapositivo e o “carpe diem”?
Em suma, a de que as coisas não estão no seu sítio. O orador devia ser a fonte da “auctoritas”. Mas não é. Sabe que a fonte da sua autoridade está fora dele. No boneco. As coisas não estão no seu sítio. Rouba ao boneco a autoridade que sabe não ter ou que pelo menos não tem a certeza de ter. ao remeter para o boneco manifesta a sua impotência para ser o único centro de atenção. Para ele a citação não é raiz, mas galho onde se pendura. Sobretudo, a palavra vale pouco, numa substituída pela acção, noutra pelo boneco.
É significativo que a nossa época tenha travestido desta forma Horácio. Que o use e o distorça de um só golpe. Não era aristocrata, mas era autor aristocrático. Não é este o lugar para o demonstrar: todos os elementos que se consideram elementos de modernidade têm origem aristocrática (o pindárico “torna-te o que és”, a suposta libertação sexual, a libertação das mulheres, o relativismo à Calícles, a obsessão com a natureza). É no entanto significativo que seja um seguidor de Píndaro, que como este lembrava que não era escultor e que portanto era artista da palavra, da palavra que voa e não fica presa à terra, que seja o escolhido pela nossa época.
No reino da incerteza só pode imperar o salteador bem sucedido. O que vai buscar ao pomar alheio frutos que não cultivou e de que sabe ser não legítimo fruidor. Neste reino da angústia em que a excitação é aflita e o prazer fugaz é importante perceber qual é o pano de fundo que une sem o saber o cultor do “carpe diem” e o utente do diapositivo pedagógico de muleta. Do mesmo Horácio : “odi profanum uolgus” (ode III, 1 – odeio a multidão dos profanos). É do ódio que nasce esta incerteza, esta angústia. E a plena noção, salvo quando o ódio seja (raramente) fundado, de que se não é legítimo. Um mundo de bastardos, como era de esperar.
Alexandre Brandão da Veiga
Em suma, a de que as coisas não estão no seu sítio. O orador devia ser a fonte da “auctoritas”. Mas não é. Sabe que a fonte da sua autoridade está fora dele. No boneco. As coisas não estão no seu sítio. Rouba ao boneco a autoridade que sabe não ter ou que pelo menos não tem a certeza de ter. ao remeter para o boneco manifesta a sua impotência para ser o único centro de atenção. Para ele a citação não é raiz, mas galho onde se pendura. Sobretudo, a palavra vale pouco, numa substituída pela acção, noutra pelo boneco.
É significativo que a nossa época tenha travestido desta forma Horácio. Que o use e o distorça de um só golpe. Não era aristocrata, mas era autor aristocrático. Não é este o lugar para o demonstrar: todos os elementos que se consideram elementos de modernidade têm origem aristocrática (o pindárico “torna-te o que és”, a suposta libertação sexual, a libertação das mulheres, o relativismo à Calícles, a obsessão com a natureza). É no entanto significativo que seja um seguidor de Píndaro, que como este lembrava que não era escultor e que portanto era artista da palavra, da palavra que voa e não fica presa à terra, que seja o escolhido pela nossa época.
No reino da incerteza só pode imperar o salteador bem sucedido. O que vai buscar ao pomar alheio frutos que não cultivou e de que sabe ser não legítimo fruidor. Neste reino da angústia em que a excitação é aflita e o prazer fugaz é importante perceber qual é o pano de fundo que une sem o saber o cultor do “carpe diem” e o utente do diapositivo pedagógico de muleta. Do mesmo Horácio : “odi profanum uolgus” (ode III, 1 – odeio a multidão dos profanos). É do ódio que nasce esta incerteza, esta angústia. E a plena noção, salvo quando o ódio seja (raramente) fundado, de que se não é legítimo. Um mundo de bastardos, como era de esperar.
Alexandre Brandão da Veiga
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