domingo, 6 de julho de 2008

A eternidade

Coucher de soleil sur la mer, Fernand Puigaudeau
Elle est retrouvée.
Quoi ? - L'Éternité.
C'est la mer allée
Avec le soleil.
Estes versos pertencem a um poema, L'eternité, de Jean-Arthur Rimbaud. Escreveu-o em Maio de 1872. Dois anos depois, retocou-o, escrevendo mêlée onde antes dissera allée.
Diminuirá a transcendência que exalam se soubermos que a razão prosaica que os inspirou foi a paixão de Rimbaud por Verlaine, a quem queria convencer a sair de casa, deixando a jovem mulher, para vir viver com ele? Um mês depois Verlaine deixou Mathilde. Mêlée onde antes estava allée.

2 comentários:

JP Guimarães disse...

Segundo me dizem (nunca vi) na lápide de Rimbaud está escrito "Par délicatesse j'ai perdu ma vie". Sempre entendi esta frase no sentido de que por (excesso de) cuidado com os outros teria desperdiçado a sua vida (ou não a teria aproveitado como devia ou podia). Confesso que este meu entendimento "não joga" com a tentativa (conseguida) de fazer Verlaine sair de casa...

Manuel S. Fonseca disse...

Rimbaud morreu cedo e viveu a mais paradoxal das vidas. Amante de Verlaine (que depois o baleou e se converteu ao catolicismo), Rimbaud por delicadeza ou incandescente desejo de aventura partiu aos 22 anos para a Etiópia onde (na apócrifa biografia de que eu gosto) traficou escravas, guardando algumas delas como amantes. As biografias mais rigorosas confirmam as amantes, mas dizem que era de armas e café o tráfico a que se dedicava, na expectativa de enriquecer de vez (a ganância de que Louçã agora acusa os empresários portugueses). Morreu jovem, aos 37 anos, por muito o amarem os deuses ou por, quem sabe, já não terem paciência para o aturarem.