Ergo sum
É muito curioso que o último artigo de Rui Ramos – dedicado ao eterno confronto entre pessimistas e optimistas. (vd. Público, 16 de Julho de 2008) – tenha soado a toque de trombeta... Mas o certo é que calou fundo na nossa inteligentsia.
Para só citar dois exemplos, Vasco Pulido Valente, sem surpreender na opção, fixa-se no pessimismo (vd. Público, 19 de Julho de 2008). José Miguel Júdice prefere análise mais ampla, em registo psico-cultural, com um pé em Cunha Leão, embora a pretexto confesso de referências de mais estrangeirada iconografia (vd. Público, 18 de Julho de 2008).
No fundo, um e outro sentiram que Rui Ramos falava deles. Ou também deles. Como, aliás, terão sentido os demais leitores.
Com a lucidez habitual, Rui Ramos revela-nos 'tipos' em que nos reconhecemos e reconhecemos os nossos próximos. Mais do que isso, 'tipos' em que reconhecemos o nosso caminho colectivo. Da descrença arreigada à desconfiança metódica, do entusiasmo emotivo à esperança ingénua, ali estamos nós. Na nossa histórica ciclotimia. Na nossa atávica construção de uma meta-realidade. Na nossa ancestral recusa de desafios concretos.
Seja como for, tal como no fundo da caixa de Pandora, et pour cause, há razões para alento. Ver a nossa inteligentsia tão atenta ao que Rui Ramos vai escrevendo é muito bom augúrio. Mesmo para pessimistas!
Para só citar dois exemplos, Vasco Pulido Valente, sem surpreender na opção, fixa-se no pessimismo (vd. Público, 19 de Julho de 2008). José Miguel Júdice prefere análise mais ampla, em registo psico-cultural, com um pé em Cunha Leão, embora a pretexto confesso de referências de mais estrangeirada iconografia (vd. Público, 18 de Julho de 2008).
No fundo, um e outro sentiram que Rui Ramos falava deles. Ou também deles. Como, aliás, terão sentido os demais leitores.
Com a lucidez habitual, Rui Ramos revela-nos 'tipos' em que nos reconhecemos e reconhecemos os nossos próximos. Mais do que isso, 'tipos' em que reconhecemos o nosso caminho colectivo. Da descrença arreigada à desconfiança metódica, do entusiasmo emotivo à esperança ingénua, ali estamos nós. Na nossa histórica ciclotimia. Na nossa atávica construção de uma meta-realidade. Na nossa ancestral recusa de desafios concretos.
Seja como for, tal como no fundo da caixa de Pandora, et pour cause, há razões para alento. Ver a nossa inteligentsia tão atenta ao que Rui Ramos vai escrevendo é muito bom augúrio. Mesmo para pessimistas!
3 comentários:
Dubito, Ergo Cogito, Ergo Sum -
Puisque je doute, je pense; puisque je pense, j'existe.
Dou por mim a "dubitar" da nossa incapacidade de "cogitar" de forma positiva, da nossa incapacidade de reinventar o país e acabar de uma vez por todas com uma geração “anterior a 60” que parece insistir em nos fazer acreditar o futuro não existe. A chave está numa geração de 60 que motive a geração de 70 para mudar de atitude. Para acreditar que a chave não está na estratégia mas sim na atitude. Que não é porque a geração de 50 se sente frustrada que temos deixar de acreditar. A chave está em acreditar que não há receitas milagrosas, mas sim pequenos passos e atitudes que nos façam criar mais empresas, mais trabalho, mais valor.
Contamos com a “Geração de 60” .
A "Geração de 70".
Breve mas óptimo diagnóstico dos pecados originais que cegam o nosso olhar sobre o futuro.
Um dos dramas estará na colectiva incapacidade de compreender que o problema não está na abordagem emocional dos problemas estruturais que condicionam o "progresso" (optimismo vs pessimismo) mas nas receitas escolhidas para a "praxis". Parece-me que a "geração de 70" não tem, na sua natureza, uma escolha consciente face ao bem comum, um "desígnio" que a oriente. É no estímulo individual face à procura da excelência - essa, sim, uma preocupação mais sensível aos que têm agora 20 e tal/30 anos - que estará a chave da questão. Na minha pespectiva, é positivo que a consciência comum do Portugal do futuro não se meça por grandes barreiras ideológicas. Já não o
é que vão desaparecendo os sinais ténues de uma consciência estratégica nacional. Mas talvez esse "egoísmo" e esse ensimesmamento da nova geração, desde que guiado pela procura da máxima qualidade, sector a sector, seja o melhor caminho para encontrar a luz num mundo socialmente varrido a cinzento denso.
Parece-me reducionista catalogar "pessimistas", para um lado, "optimistas" para outro. E muito mais ainda, indexar gerações a essas categorias. A natureza humana não se compadece com esse simplismo. Vejamos justamente Rodin. Há ano e meio vi uma exposição que reunia muitas das suas obras. À porta uma réplica das Portas do inferno, de tamanho descomunal. Lá dentro vários " Pensador", modelos em gesso e em bronze. O mesmo para o Beijo. No centro, a composição de várias figuras com dois metros de altura. A minha preferida, no entanto, é uma pequenina estátua de bronze, de trinta por trinta, com dois amantes entrelaçados, suspensos, etéreos, amorosos.
Seria Rodin pessimista ou optimista? E já agora, interessa muito?
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