Seis Pequenos Ódios
A Dobra do Grito, um estimável blog de pintura, desafiou-me a fazer o elenco dos meus 6 ódios favoritos. Os pequeninos ódios.
Faço-o com a condição de que a Sofia Galvão, a Inês Dentinho, o Pedro Norton, a Sofia Rocha, o João Luís Ferreira, aceitem o desafio de publicarem os deles. (E porquê só eles? O desafio é para toda a Geração de 60!!!)
Faço-o com a condição de que a Sofia Galvão, a Inês Dentinho, o Pedro Norton, a Sofia Rocha, o João Luís Ferreira, aceitem o desafio de publicarem os deles. (E porquê só eles? O desafio é para toda a Geração de 60!!!)
Ódio é, talvez, um termo excessivo, mas é verdade que detesto:
1. que digam “eles”. Na política, nas empresas, no quotidiano, quando alguém diz “eles”, cheira-me a fraqueza e a irracional auto-exclusão desculpabilizante;
2. que alguém se arrogue o “amor do cinema” ou o “amor da literatura” ou o “amor da pintura” para garantir uma qualquer forma de autoridade ao que tem a dizer sobre um filme, um livro, seja o que for;
3. o discurso anti-religioso apocalíptico. Sendo eu ateu (ou serei só agnóstico?), entendo como menoridade intelectual a incompreensão dos valores éticos e estéticos que estão associados às representações religiosas;
4. o puritanismo incapaz de se divertir, um bocadinho que seja, com o sexo, com os pecadilhos (e vá lá, de vez em quando, um pecadão) que com ele – o precioso sexo – fazem procissão;
5. a seriedade nata. Sabem como é, aquela que recusa o humor. Gente de fronte alçada que, para ser solene, tem de apresentar-se sempre com ar de dia de Finados;
6. a insensibilidade social. Aflige-me que, por superficialidade, pura tolice ou por cadavérico enquistamento, alguém perca o mais decente dos sentimentos, o da compaixão pelos seres humanos que caprichosamente a vida maltratou.
E detesto descobrir que, por mais implacável lucidez de que me reclame, não posso afinal dizer que “desta água nunca bebi ou beberei”. Fico aqui quietinho, contando que sejam mais magnânimos e misericordiosos do que eu..
8 comentários:
Manuel:
Sentindo-me obviamente excluído, lembro, aliás a propósito, um ódio tão escandalosamente assumido no centro da nossa cultura: «Ibant autem turbae multae cum eo et conversus dixit ad illos: Si quis venit ad me et non odit patrem suum et matrem et uxorem et filios et fratres et sorores adhuc autem et animam suam non potest esse meus discipulus.» (Lc. 14, 25-26).
Gonçalo, com tão terrível declaração, obriga-se a um post. Já. Por via das dúvidas e para os menos latinistas, o que o evangelista escreve é: "Ora, iam com ele grandes multidões; e, voltando-se, disse-lhes: "Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também à própria vida, não pode ser meu discípulo."
Manuel
Transcrevi o texto em latim porque, em primeiro lugar, não tenho à mão, na net, a citação em português (a não ser numa má tradução brasileira); e, em segundo lugar, porque o "aborrece" com que normalmente é traduzido o "odit" original, quanto a mim, redu-lo muito abaixo do seu terrível e radical significado.
Quanto à obrigação que me impõe, e até em vista de um outro post que neste momento estou a preparar, fico-me por um: odeio ser excluído! :)
Um abraço.
Por mim, está aceite o desafio! Mas com tolerância, porque parto AGORA para esse Porto longínquo e sem computador...
Eu explico-me aos "excluídos", eu explico-me. Este é o tipo de desafios que neste "jogo de linguagem" que é a net, se envia a 5 bloggers. Foi o que me fizeram, foi o que eu fiz. Fiz mal: na Geração de 60, tão liberaql, quando chega aos desafios ou todos ou nenhum: Erro meu, má fortuna, ódio ardente!
Não foi Deus que mandou odiarem-se uns sobre os outros?
Desafio interessante...
Mas acho que o desafio maior, no meu caso, seria ficar só nos 6 ódios. rs rs rs
Leio-os já faz um tempo e gosto imenso do humor e crítica dos escritores.
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