Imagens que dizem palavras
Depois de umas semanas de ausência regresso com uma sugestão para candidato a filme do ano: O Assassinato de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford. De uma beleza formal extraordinária o filme de Andrew Dominik é um caso raro no cinema de hoje: uma obra de adaptação de uma obra literária em que as imagens interpretam as palavras. Confesso que a certa altura pensei que o filme estava a ficar desprovido de sentido e se iria esgotar na sua extrema elegância formal. Estava enganado: com um ritmo narrativo que quase testa a nossa paciência, o filme vai-nos associando às personagens desta história sem, no entanto, permitir que com elas nos identifiquemos. Tudo isto, num estilo distante e apenas aparentemente frio, em que a distância do retrato acentua a dificuldade moral com que o filme se confronta. Um filme em que o cinema não fica subjugado à literatura. Tal como outra recente adaptação cinematográfica (Atonement, basado na obra de Ian McEwan) este filme é bem sucedido porque em vez de se limitar a ser um novo veiculo das palavras do escritor as procura interpretar em imagens. Em ambos os casos (O Assassínio de Jesse James e Atonement) a adaptação apenas procurou ser fiel à mecânica narrativa das obras e às emoções que transmitem. São adaptações bem sucedidas porque não abdicam de dar a posição de primazia ao cinema! Não me interpretem mal: no Assassínio de Jesse James a fidelidade às palavras e à composição literária são patentes, só que as imagens têm um tal poder e dimensão que sem eles não imaginamos as palavras.Realce, igualmente, para as grandes interpretações. Brad Pitt é excelente (ganhou o prémio de interpretação de Veneza por este filme) mas é Casei Affleck quem acaba por conquistar o ecrã. É o segundo filme com este actor (irmão de Bem Affleck) que vejo em pouco tempo e não tenho dúvidas em afirmar que é um dos grandes actores da nova geração.
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