A Pobreza
Referi, no meu post anterior, o artigo de João Pereira Coutinho sobre a polémica causada pelas declarações do cientista James Watson, sustentando que os brancos são mais inteligentes do que os pretos. Mas o “Expresso” tem, esta semana, outros acrescidos motivos de interesse.
A curta entrevista de John Horgan, autor de “O Fim da Ciência”, a propósito da Conferência sobre a Ciência promovida pela Fundação Gulbenkian, convida-nos a ler mais sobre o assunto. Promete-nos, acima de tudo, que as neurociências (actual Cristiano Ronaldo das ciências) resolverão o código neuronal e que esse será o avanço do conhecimento mais espectacular que podemos ambicionar nos próximos tempos. Mas avisa-nos de que não vale a pena ter ilusões demiúrgicas: restará, como sempre, o Mistério. Nem a origem do Universo, nem a origem da Vida estão, ou estarão, ao alcance dos nossos saberes.
Noutra dimensão, mais modesta mas porventura mais perturbadora, Joaquim Manuel de Magalhães escreve, no “Actual”, um artigo pungente e irrecusável sobre a forma como a conjugação da pobreza (ou de uma escassez financeira que está dela muito próxima) com a apatia e o desencanto estão a destruir a classe média portuguesa. Apontando uma “taxa de pobreza objectiva” que chega a 20% da população, e com 47% dos cidadãos nacionais a considerarem-se pobres, Joaquim Manuel de Magalhães pinta sobretudo o retrato quotidiano dos agregados familiares (ou pessoas sozinhas) atingidos, que vão de professores a médicos, de artistas a jovens no primeiro emprego. Não é um nenhum apelo ao “levantamento das massas” nem à decapitação de Maria Antonieta. É apenas um artigo lúcido, lógico e da mesma profunda humanidade que caracteriza a sua obra poética. Imperdível. No “Actual” do “Expresso”.
1 comentários:
Bom blog. A adicionar.
Enviar um comentário