segunda-feira, 16 de julho de 2007

O que é um estúpido?

Muito haveria a dizer a propósito. Mas achei curioso ver nas “Etimologias” de Isidoro de Sevilha (X, 247, para aos mais curiosos) que estúpido é o que se espanta frequentemente. Ora, dizia o bom do Aristóteles, o espanto é o começo da filosofia.

Quem tem razão? Ambos. O estúpido espanta-se muito, com tudo e sem critério. Como em algumas doenças neurológicas segue ao tremor o estupor. Exactamente: palavra com a mesma origem. O tremendum passa a ser mera privação: afasia, apatia, abulia, os “a” privativos que houver em elenco.

O estúpido espanta-se com todas as culturas, com a riqueza de tudo, com a inteligência de todos e mesmo com a estupidez de todos. O estúpido tende a ser igualitário. Exactamente porque superou a capacidade de diferenciação. De tanto tremer de admiração com tudo e sobretudo com nada, não distinguindo o valor do desvalor, o estúpido “sta fermo”. Quando age é perigoso, e parado encontra o seu escopo.

O estúpido é em suma o exagero da vida. A sua solidez ou a sua flexibilidade andam desencontradas. Tem uma e outra nos sítios errados, no momento errado. Não erra. É um erro. Que ao estúpido seja dado direito de palavra é uma generosidade da nossa civilização. Mas que se perceba que a prenda não é conquista. E desta ele só conhece a forma da rapina.

O estúpido está exactamente no começo da filosofia e fica-se por aí. Deixado no porto das ideias grita aos barcos que passam que estes se afastam da verdade. Ou que não há verdade. Não é sedentário, mas estacionário. Que se viaje, é para ele crime de abandono. Faz por isso da feira portuária exemplo máximo da diversidade. Quer outro mundo, porque este não o dotou. Tudo para ele pode ser Europa porque para ele a ideia de limite é apenas prisão. Limitado a gozar o pôr-do-sol sempre do mesmo ponto de vista esquece-se de que há quem veja mais longe. E perceba por isso que o limite conduz, e sem ele não há viagem. Mas dessa ele nada sabe.





Alexandre Brandão da Veiga

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