Porcos a mais
A ARTE, televisão que já demonstrou mais de uma vez o seu filoturquismo, tendo mesmo chegado à vergonha de fazer propaganda sob capa de informação, não pode ser acusada de fazer campanha em denegrimento altaico.
Em fins de Maio de 2007 mostra uma reportagem em como o governo turco se aproveita das normas europeias para impor um programa islâmico. Como o Irão seu vizinho, quer expulsar todos os porcos da Turquia, para cumprir o comando muçulmano.
Para o efeito, deu apenas um ano aos criadores de porcos para se adaptarem às normas europeias de higiene, enquanto deu três anos à criação de todos os outros animais para o mesmo objectivo. O governo está a fechar uma por uma as criações de porcos sob o argumento que não respeitam as normas sanitárias europeias, embora não tenha a mesma preocupação com as criações de aves, que já deram problemas algo mais graves como a gripe das aves.
Este é um exemplo quase caricato de como a análise da realidade turca nada tem a ver com a de uma realidade europeia. Levar-nos-ia muito mais tempo, mas pode-se ser fundamentalista islâmico e favorável à adesão europeia, e laicista e totalmente contrário à adesão porque ferrenhamente nacionalista. Aliás essa está bem longe de ser uma excepção. Mas como não vou perder tempo com complexidades que assustam o vulgo, deixo aqui apenas esta pequena nota.
O governo turco acha que há porcos a mais na Turquia. Acusaria de racista quem o contraditar. Vergo-me à sua opinião e apenas o posso citar. Apoio fervorosamente o governo turco. Se assim o acha, passa a ser verdade oficial. Há porcos a mais na Turquia e têm de ser eliminados.
2 comentários:
Não esquecer todavia que o problema da adesão turca à União Europeia é também - se não sobretudo - um problema económico. Em geral, a História ensina que a convergência económica leva a ultrapassar divergências culturais. Quem imaginaria há séculos que os filhos de Henrique VIII e de Carlos V estariam hoje na mesma União política? Na Turquia há uma vasta e velha tradição ocidentalizada, sobretudo nas classses médias e altas, que é preciso seguir com atenção. Veja-se por exemplo o caso mais conhecido da família de Orhan Pamuk, prémio Nobel da literatura, cuja história ele conta na sua recente biogragfia.
Não deixa de ser irónico que a Turquia use a União Europeia para legislar sobre porcos. Independentemente da opinião que se tenha sobre a sua adesão (e eu tenho muitas dúvidas sobre a bondade desse propósito), parece-me que todos concordarão que a UE também passou os últimos anos a usar a Turquia (prometendo-lhe o que nunca tencionou cumprir) para brincar aos «diálogos de civilizações». É caso para se dizer que na Europa também há porcos a mais...
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