De preferência, sem consensos
Tenho muito, muito medo de consensos. Indo mais directa ao ponto, não acredito na possibilidade de radicar em consensos qualquer acção política efectivamente transformadora.
A política assenta numa certa visão do futuro, num determinado projecto de sociedade, num certo paradigma de felicidade individual e colectiva. Nesse registo – o único que me interessa –, para ser plena, a política tem de ser verdadeira e, para mobilizar, deverá ser profundamente convicta e coerente.
Ora, tal constrói-se em cima de valores, de princípios, de programas e de atitudes. Não apenas – e, sobretudo, não principalmente – em nome de uma lógica pragmática de eficiência.
É claro que o sucesso das políticas tem a maior relevância – nesse sentido, pode e deve ser medido. Mas só o valorizo realmente quando decorre de uma visão de futuro politicamente assumida e de um projecto de sociedade politicamente sindicável.
A política assenta numa certa visão do futuro, num determinado projecto de sociedade, num certo paradigma de felicidade individual e colectiva. Nesse registo – o único que me interessa –, para ser plena, a política tem de ser verdadeira e, para mobilizar, deverá ser profundamente convicta e coerente.
Ora, tal constrói-se em cima de valores, de princípios, de programas e de atitudes. Não apenas – e, sobretudo, não principalmente – em nome de uma lógica pragmática de eficiência.
É claro que o sucesso das políticas tem a maior relevância – nesse sentido, pode e deve ser medido. Mas só o valorizo realmente quando decorre de uma visão de futuro politicamente assumida e de um projecto de sociedade politicamente sindicável.
Se assim for, aliás, os tais consensos são mera expressão positiva da maturidade democrática, circunscrevendo-se ao mínimo ético que sustenta (e legitima) o sistema. Mas, se assim não for, como temo que sucedesse na apologia feita pelo Pedro Lains, os ditos consensos são uma perigosa rendição ao pragmatismo gestionário – gravíssima, desde logo, por só aparentemente ser neutra do ponto de vista político. Na verdade, à sombra desses consensos esconde-se, sempre, uma amplíssima coligação de interesses, também ela apostada em negar espaço à conflitualidade que é o contexto próprio da dinâmica política.
Dito isto, devo confessar que um hipotético Ministro das Obras Públicas próximo do PSD e com elevadas credenciais junto dos empresários e gestores me soaria ao mais puro oportunismo político. Não sei mesmo quantos de nós não acabariam a reconhecer-se num qualquer cartaz que assumisse, lá bem na frente do Palácio de São Mamede ao Caldas: volta Lino, estás perdoado!
Dito isto, devo confessar que um hipotético Ministro das Obras Públicas próximo do PSD e com elevadas credenciais junto dos empresários e gestores me soaria ao mais puro oportunismo político. Não sei mesmo quantos de nós não acabariam a reconhecer-se num qualquer cartaz que assumisse, lá bem na frente do Palácio de São Mamede ao Caldas: volta Lino, estás perdoado!
3 comentários:
"num certo paradigma de felicidade individual e colectiva"
Como diria Popper, a felicidade individual é com cada um, a felicidade colectiva não interessa e o que importa é diminuir o sofrimento individual e a violência sobre a nossa liberdade.
Um paradigma como qualquer outro, claro.
Cara Sofia,
O caso de sucesso que é a vizinha Espanha não terá, em parte pelo menos, resultado da criação de grandes linhas estratégicas que reuniram o consenso de adversários políticos e que evitaram constantes ziguezagues nas opções de desenvolvimento em função da alternância dos partidos e dos líderes na governação? Nâo sei se esses consensos foram gerados por calculado pragmatismo ou maturidade democrática, mas sabemos todos, pelos resultados, que aquela constância na acção, se não gerou a felicidade dos espanhóis, evitou-lhes pelo menos a sofrida depressão em que nós portugueses estamos enterrados.
Pois, o que importa é realmente a estratégia. Em Espanha, há - desde Adolfo Suarez e dos primórdios desta monarquia democrática. Na Alemanha, com Merkel, voltou a haver. Em França, tudo parece indiciá-la também, com os primeiros sinais dados por Sarcozy.
Mas em Portugal, não há. E, portanto, não havendo, a lógica dos consensos esgota-se no nosso tão típico centrão (em que o registo não é nunca o do projecto, mas o dos interesses).
É claro que não precisamos de ziguezagues, mas precisamos de clarificações. Sem elas, continuaremos ao sabor do vento, entregues à gestão do imediato, vulneráveis a todos os oportunismos.
Foi apenas isso que quis evidenciar. Sarcozy chama Kouchner ou Rachida Dati por razões que quer de fundo (a consistência - e o sentido estratégico - dessas escolhas encontra-se na consistência - e sentido estratégico - de outras escolhas, como Fillon, Juppé, Alliot-Marie ou Yade). Merkel tem um governo de coligação especialíssimo, conseguindo que o enorme sucesso do seu protagonismo pessoal ofusque tudo e todos - os consensos, aqui, são outros...
Por cá, não se entrevê um rasgo de estratégia. Nem má, nem boa. Por isso, os consensos, em contexto de vazio absoluto, seriam puro artifício, mera manobra de marketing e, claro, sempre cedência às habituais coligações de interesses.
Guterres chamou Sousa Franco à procura da credibilidade que precisava para as Finanças. Mas Sousa Franco evitava as reuniões do conselho de ministros e despachava em casa. Sócrates teve uma mesma tentação quando convidou Campos e Cunha, mas este cedo percebeu o que lhe seria imperativo fazer.
A constância na acção, caro Manuel, só acontecerá quando a política nos propuser um sentido de futuro.
Quanto à felicidade dos nossos vizinhos e à nossa sofrida depressão, talvez seja endémico mesmo. Fronteira entre um flamenco dansado com cores fortes e um fado cantado de preto...
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