sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Universidade

O que é hoje a Universidade pública? O que queremos que seja?

Esta pergunta tem-me ocorrido com insistência nos últimos dias. Entrei na Faculdade em 1990 para me licenciar, em Coimbra. Reentro em 2008 para fazer o mestrado, em Lisboa. Separam estas duas Faculdades de Direito públicas, 18 anos e 200 km.

Por estes dias estão por lá afixadas faixas negras, onde se lê "vende-se" e coisas semelhantes.

Os estudantes parecem-me mais alunos de liceu do que eu recordava. São estupidamente novos, belos, sorridentes, esperançosos, idealistas, ainda na idade admissível para serem comunistas -talvez já não saibam o que é o maoísmo.

Os professores parecem-me cansados, desmotivados, céleres no fim das aulas e desejosos de voltar aos seus afazeres, aos seus gabinetes, estudo, ao seu trabalho. Presumo que muitos deles nem sequer gostem de dar aulas, se pudessem fariam só investigação.

Parecem-me anacrónicas as grandes secretárias de madeira no corredor, onde se senta a funcionária que, calmamente, lê a Maria, tricota ou fala ao telemóvel, tendo à sua frente o livro de ponto. Não sabia que ainda havia, no século XXI, livro de ponto, e uma funcionária diligente que dele cuidasse.

Tenho dado por mim a pensar como será a Universidade no resto da Europa? E livros de ponto, ainda usarão? Será que estamos a duzentos anos -luz de Bolonha?

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Sangue e tristeza

Tinha um bilhete para Mumbai. Partia segunda-feira. Recebi um email de Amarjit dizendo que as reuniões se deviam cancelar e que talvez pudéssemos adiar tudo para fins de Janeiro. Concordei claro. O tom da sua mensagem era amargo e de um profundo desalento. Ele esta bem naturalmente.

A tristeza leva-me a deixar-vos mais uma canção de Cammariere. Esta, tal como o email de Amarjit, acaba transpirando sangue e tristeza.

Desculpem o desabafo.

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Gostos

Posso comentar o nosso próprio blog? Não, não é para dizer que vamos ter um dos meses menos produtivos de sempre (também eu, por razões várias, contribuí para a queda a pique). Pelo contrário, é só para dizer que, sem precisar de concordar com tudo, gostei do que o Pedro Norton escreveu aqui e, por causa da inteligência fina e cordata, recomendo a leitura do comentário que o Vasco M. Grilo escreveu aqui. Por fim, gostei muito de ver nas livrarias um livro de Nuno Lobo Antunes, ex-blogger da Geração. Folheei, interessou-me e comprei logo. Leitura agendada para breve.

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LIberais


A turbulência financeira dos últimos tempos, como o reconheceu o próprio Greenspan, sacudiu com alguma crueldade um dos fundamentos essenciais do liberalismo económico. Imagino que o impacto, para os mais vinculados ideologicamente, seja semelhante ao que os comunistas devem ter sentido quando a União Soviética invadiu a Hungria.
Muitos velhos e empedernidos comunistas recusaram a realidade e agarrarm-se desesperadamente à sua cruz ideológica. E os liberais?

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quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Magalhães


Faz daqui a pouco, a 28 de Novembro, 488 anos que Magalhães, atravessando o estreito que viria a ter o seu nome, dobrou o continente Americano e entrou no Oceano Pacífico. Azar: estava é ao serviço de Espanha.

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Aconteceu comigo

Há uns tempos, escrevi neste blog um insignificante de um texto em que defendia uma obra que por aí se planeia. Essa defesa não se prendia com a obra em particular mas sim com a preocupação com que vejo os movimentos anti-obras neste país. Este país, se quer crescer, ainda precisa de muitas obras e temos ainda muito que sofrer, pois isto não vai lá com acácias à beira-mar plantadas.

Pois é, um dia, já há alguns dias, recebi um simpático telefonema que me perguntava se eu não queria escrever um artigo sobre isso. Eu disse que sim – nesta minha profissão diz-se sempre que si, até ver – e que me fosse enviado um email a fazer o pedido em concreto.

Logo a seguir, recebi um email de uma empresa de comunicação que trabalha para a empresa interessada na obra. O email vinha com três ficheiros anexos, uma brochura, um “Quadro de benefícios” e um PowerPoint assinado pelo presidente do conselho de administração da empresa obreira. Pedia-se um artigo meu para ser publicado num “jornal nacional”.

Fiquei uns dias sem saber o que fazer, embora soubesse logo o que não fazer. Nesses dias, a empresa de comunicação mandou-me alguns recortes de jornais, o que foi apesar de tudo bem feito. Entretanto, escrevi a um amigo a pedir um conselho, pois isto era areia de mais para a minha camioneta. E aqui estou a escrever isto, passados uns tempos.

Claro que quem encomenda não sabe o que sai (sim, não ponho a outra hipótese). Mas o cálculo de probabilidades leva-os a pensar que sairá o que querem que saia Eu para esse peditório não dei.

Será que há um mercado de colunas de opinião estimuladas por empresas de comunicação a defender determinadas coisas e aceites pelos jornais? Aqui não preciso de pedir conselhos a amigos para escrever que isso não devia ser assim.

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Da Visão. BPN: um caso de política







1 - Num país civilizado, o caso BPN seria catalogado como um triste caso de polícia. Em Portugal é, acima de tudo, um tristíssimo caso de política. Por muitas e variadas razões. Desde logo porque o caso se politizou na Assembleia da República com o PS, numa decisão que fez infinitamente mais pelo descrédito da Democracia do que as ditatoriais declarações da Dr.ª Ferreira Leite, a bloquear uma audição de Dias Loureiro e a revelar uma indisfarçável falta de entusiasmo com a constituição de uma comissão parlamentar de inquérito sobre o tema. Depois porque, numa eloquente demonstração da politização do modelo, as críticas à supervisão bancária, justas ou injustas, se fizeram com base em claríssimos alinhamentos partidários. Depois ainda porque os protagonistas desta história são quase todos agentes políticos. No activo ou na reforma mas todos com a mesma marca. De tal forma que, com a lista dos fundadores, administradores e membros dos vários órgãos sociais do banco quase se pode conceber um deprimente museu de cera do bloco central (ou um comboio fantasma comemorativo do pior que teve o cavaquismo). Finalmente porque a solução para toda esta embrulhada (refiro-me à nacionalização do banco) foi eminentemente política.
Dificilmente se podia arranjar um melhor «estudo de caso» sobre os males da nossa democracia para leccionar num qualquer mestrado de ciência política. Está lá tudo. Estão lá, bem expostas, as fragilidades da nossa cultura democrática, a falta de profissionalismo e a quase irrelevância de um Parlamento em tempos de maioria absoluta. Está lá o débil funcionamento (ou mesmo o funcionamento de fachada) do liberal princípio da separação de poderes. Estão lá as eternas suspeitas de condicionamento da justiça que parecem explicar o clima de total impunidade com que ainda se pode contar em Portugal. Está lá a enorme promiscuidade entre o domínio do público e do privado e está lá, sobretudo, o insustentável peso do Estado na economia (é particularmente útil afirmá-lo nestes tempos de desbragado saudosismo marxista). Peso esse que tem como corolário lógico o fenómeno da empresarialização dos políticos. Porque numa economia em que é o Estado que tudo decide e tudo condiciona, os políticos actuam como uma espécie de especialistas em Estado e constituem, de facto, perniciosas mais-valias na gestão das grandes empresas. E como se não bastasse, está lá ainda, posta a nu, a enorme fragilidade da sociedade civil. Que explica que assistamos, impávidos, à decisão sem escrutínio de nacionalizar uma instituição que, a fazer fé nos relatos vindos a público, só com muito boa vontade se pode convencionar chamar um banco.
2 – Regresso ainda às polémicas declarações de Manuela Ferreira Leite. Mas não julguem que me junto ao coro de virgens ofendidas que viram nelas o princípio do desabamento do edifício democrático em Portugal. Bem mais perigoso para a democracia do que os desabafos da líder da oposição, é a pulsão demagógica e o virtuosismo hipócrita que anima muitos dos que, no fundo no fundo, gostavam de ver todo e qualquer político ligado, 24 horas por dia, a uma espécie de polígrafo da virtude.

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terça-feira, 25 de novembro de 2008

O homem que roubou Portugal

E não é que era um aventureiro...
Leio os jornais e fico inquieto.

Temo que Alves dos Reis, figura grada da parte mais irreverente do meu imaginário, perca o seu lugar no pódium dos maiores burlões da história e seja atirado para o buraco negro do desconhecimento.

Alves dos Reis era um prodígio de imaginação e de iniciativa. Por falência da empresa funerária do pai, foi para Angola com a mulher e fez-se passar por engenheiro, o que, na altura, era um achado e era útil. Para o nobre e científico efeito forjou um diploma de uma das escolas – inexistente, mas muito bem inventada – de Oxford, onde nunca se dignou ir às aulas.

Em Angola prosperou, comprando empresas com cheques sem cobertura que cobria com o dinheiro sacado às empresas adquiridas. Ter-se-á distraído nalgum momento porque a sua irresistivel biografia o dá como preso, no Porto, em Julho de 1924.

O período sabático (curto) na prisão inspirou-o e deu asas à sua criatividade ímpar. Com engenho, preparou um contrato com o Banco de Portugal que o autorizava a fazer notas numa empresa licenciada para o efeito pelo próprio Banco. O contrato era falso; as notas eram fraudulentas como Judas mas irrepreensivelmente iguais às verdadeiras. E gordas: 500 escudos com a efígie de Vasco da Gama.

Gama descobrira o caminho marítimo para a India, Reis tinha descoberto um caminho seguro para a fortuna. Com a cumplicidade de banqueiros holandeses, espiões alemães, empresas britânicas e o envolvimento de diplomatas portugueses, Alves dos Reis montou uma operação de falsificação cujo montante atingiu 1% do PIB português. Criou o Banco de Angola e Metrópole e, por pouco, não chegou a controlar o Banco central, o Banco de Portugal, que era então um banco privado.

Mas se Vénus o protegia, como antes protegera o Gama, outros deuses lhe devem ter falhado (talvez Mercúrio, rei dos ladrões) e o jornal “O Século”, faz agora 83 anos, cheirou a marosca e começou a morder-lhe as canelas. Duas semanas depois, a 5 de Dezembro de 1925, “O Século” denuncia o caso em prosa impiedosa e no dia seguinte Alves do Reis é preso.

Cumpriu 20 anos de prisão. Quando saiu, propuseram-lhe emprego num Banco, actividade em que notoriamente era especialista. Faltou-lhe sentido de humor: não aceitou.

Leio os jornais e o meu coração, que se comove com histórias de infâmia dignas de um Jorge Luis Borges, entra em arritmia. Os jornais anunciam golpes e Bancos que não são – ou nunca foram – Bancos. Andam, digo eu, a tentar tirar um santo do altar. Com a falta de memória e de sentido de história que campeia neste Portugal do século XXI, ainda acabam por acreditar que qualquer ganancioso prepotente se pode comparar a um artista imaginativo, fascinado pela perfeição e pela ousadia poética dos seus golpes.

Que ninguém se esqueça do epitáfio do “The Economist” no dia da morte de Alves dos Reis. A melhor revista do mundo disse dele e dos seus cúmplices: "The perpetrators, however reprehensible their motives, did Portugal a very good turn according to the best Keynesian principles."

É mais do que pode dizer-se de muita gente honesta.
Publicado aqui, no Pnet Homem

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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Cup of tea


Algumas coisas inglesas de que gosto muito: Wallace & Gromit.


Vejam os filmes, sobretudo o fabuloso " The curse of the were-rabbit". Filmes para miúdos que só um graúdo de coração de pedra não gosta. Comprei-o ha dois anos e revejo-o sempre com gosto.


Ofereçam-no aos miúdos. Para ver, de preferência em família e acompanhado por um chá de tília.


É plasticinamente belo.

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Lá como cá

Sobre a disputa pela liderança do Partido Socialista Francês, li hoje no jornal Público:

"(...) É um partido "partido ao meio" avaliava o Parisien Dimanche, dividido entre duas linhas políticas dificilmente conciliáveis: a de Martine Aubry, "ancorada à esquerda e oposta a qualquer aliança com o centro", e a de Ségolène Royal, que advoga "flexibilidade de alianças e um partido de massas à americana."

A julgar pelas notícias que vamos lendo, não tarda o partido socialista português enfrentará exactamente a mesma questão. Oxalá não acabe também tudo em tribunal.

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Geometria à americana


Não, não me estou a queixar do estado lastimável do ensino da Matemática nem aqui nem nos EUA nem no planeta Marte. Hoje não.

Hoje apeteceu-me só, sem segundas intenções, partilhar esta pequena ironia do destino: a entrada da pequena localidade de Triangle, North Carolina, assinalada com a respectiva placa... rectangular.

Não resisto a acrescentar que existe em Triangle um bairro chamado Triangle Circle (podem confirmar através do Google Earth). Como será a placa que o assinala? Pentagonal?

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O berro e a gestão

Em Portugal já vi muita gente gerir ao berro. Como ao longo da minha vida nunca precisei de dar um único berro para disciplinar ninguém (nem aliás de dar uma ordem) a figura sempre me foi misteriosa.

Um tio meu sempre disse: “quem berra só fala dos pais”. É verdade. Pais horrorosos, mal-educados, que não souberam dar educação. Quem berra enquanto gere apenas diz: “os meus pais são horrorosos e não me souberam dar educação”. É a única coisa que eu consigo perceber quando ouço alguém a dar berros.

A origem é evidentemente social porque vieram directamente de palheiros para o poder hordas de plebeus mal assimilados pela civilização. Convenhamos: o problema não é o de onde a canalha veio, mas de onde nunca saiu. Apenas dourou as chapas dos carros e dos cartões de crédito.

A origem social explica a reacção e os modos. Mas não descreve na íntegra o mundo do que berra. Que sente essa criatura quando berra? Sente-se perdido. Não está segura. E porque não está segura? Porque ninguém lhe ensinou a exercer cargos de poder. E só em casa essa arte se encontra disponível de forma eficaz.

Sente-se insegura igualmente porque tecnicamente não domina as matérias. Para mostrar que a sua opinião tem volume, é o volume da voz que tem de aumentar. O volume que a sua voz tem compensa o pouco volume do que pensa.

No fundo mais não é que um animal acossado pelo exercício do poder. Encontra-se fora da lei porque se julga acima dela. Ou seja: não a sabe encarnar.

Platão nas “Leis”, Nietzsche no “Zaratustra” e uma longa tradição do pensamento europeu mostram como a dança é acto teológico por natureza. O Congresso de Viena pode ser por muitos considerado ridículo. Muita valsa se dançou. Mas manteve um continente em permanente ebulição numa paz relativa durante um século, dentro dos limites que a própria ideia de nacionalidade, tão injusta quanto perigosa muitas vezes, permitiu.

Pessoas que não sabem dançar, ou seja, não se sabem mover, compensam com o grito o que o pequeno gesto poderia transmitir.

Mas o berro é doença cíclica, como as antigas febres terçãs e quartãs. O detentor de poder que berra lembra-se por vezes de se resguardar na sua contenção. Vem-lhe à memória que é preciso ter alguma dignidade e um senhor e uma senhora não berram. E como mal ou bem mais não anseiam – não lhes basta à alma o cartão dourado – quando vão sendo promovidos aprimoram a gravata ou passam a usar colares de pérolas como as senhoras fazem. “É clássico”, esquecendo que a mera imitação desenquadrada é apenas ridícula.

Uma amiga minha belga, vinda de uma muito antiga família alemã, era das pessoas mais descontraídas que conheci. Uma conhecida nossa italiana, que se vestia de Armani de cima baixo para imitar a montra na íntegra, estava sempre contida, perna cruzada em posição hirta. Uma dia ela disse-me: “Sabes porque a G. não descruza as pernas?”. Não, respondi-lhe eu. “Porque tem medo que saia traque”.

A pobre criatura que berra por vocação, quando se contém, é pois flatulência que guarda na alma. O que de mais fundo produz anda-lhe pelas tripas. É natural que por isso não se possa conter por muito tempo.

O retrato está pois completo. Que faz quem, gerindo, berra? Diz que os pais são horrorosos e não lhe souberam dar educação. Palavra justa, vista nessa perspectiva. O cartão dourado não satisfaz enquanto não passa à pérola, o que é desenquadrado. E, quando se contém, é metano que se lhe introduz nas entranhas. Triste raça que para se expressar lança ao mundo o que de melhor tem. Não deixará rasto. Apenas cheiro.








Alexandre Brandão da Veiga

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sábado, 22 de novembro de 2008

Chá para dois













Gostava de dizer que já não me incomoda assistir ao espectáculo, mais ou menos irracional, de ataque aos políticos. Gostava de dizer que nem me arrefece e muito menos me aquece a irrupção de discursos arqui-justiceiros que convertem quem os faz em vestais e todos os políticos – sobretudo os que exercem na circunstância o poder – em seres diabólicos e geneticamente transformados.
Para ser franco, e dada a irrisão do exercício, de facto não me incomoda. Mas é com prazer que, por vezes, dou conta da diferença.
Hoje, ao ler o Expresso, e na semana passada (e na antepassada), a(s) crónica(s) de Miguel Sousa Tavares mostra(m)-me que ainda é possível falar-se (ou escrever-se) sobre a vida política, social e económica, a partir de um ponto de vista de compromisso. Ou seja, com a perspectiva “há um problema, talvez haja uma solução”. É que na esmagadora maioria o que se lê é sempre escrito ou dito de um ponto de vista absoluto, totalmente “fora do sistema”, de um ponto de vista que diz “isto é tudo...”. E depois pode acrescentar-se o qualificativo que se queira, “uma merda”, “uma corrupção nojenta”, que quem fala da sua torre imaculada terá sempre razão.
Miguel Sousa Tavares terá razão uma vezes, outras não – e por isso me interessa. Mas o que leio, e voltei a ler esta semana, é o texto de alguém que faz juízos sobre a realidade, arriscando-se ao mesmo tempo a ser avaliado. O que Miguel escreve é passível de verificação. Hoje, sustenta que “Manuela Ferreira Leite não tem um pensamento político sólido, nem estruturado para o país”. E justifica-se com clareza. A clareza que nos permite estar de acordo ou contradizê-lo.
Afirma também que o Governo recuou na avaliação dos professores (o que talvez, faço notar, não seja bom) e que a Fenprof, de Mário Nogueira, não vai pactuar com essa flexibilidade porque a sua natureza leninista lhe impõe como objectivo o “mata, mata”scolariano e não o diálogo (o que, digo eu, é péssimo).
Para mim, que reconheço a necessidade do país em que vivo ser governado (há quem pense exactamente o contrário), e não pressinto potencial governativo a não ser no PS e no PSD, o que me incomoda não é o fogo de artificio de exaltados abjeccionistas ou de destemperados ideólogos. O que me preocupa é ver mais lucidez num jornalista com irritante sentido cívico do que no partido a quem compete fazer uma oposição competente capaz de se converter em acção governativa. Haverá alguma hipótese de Manuela Ferreira Leite passar pela Bénard e tomar um chá com o Miguel? Só para ver se o deserto se anima...

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sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Um filme. Brevemente


Ah, e vem aí um filme.
A 4 de Dezembro.
Em 66 salas portuguesas.
Vejam o trailer com o som bem alto.


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quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Lo Lee Ta



O post do Manuel e particularmente o singular desenho que o ilustra, fez-me pensar no “Lolita” de Nabokov: “Lolita, light of my life, fire of my loins. My sin, my soul. Lo-lee-ta: the tip of the tongue taking a trip of three steps down the palate to tap, at three, on the teeth. Lo. Lee. Ta. “

Por coincidencia li hoje a excitante noticia que refere que depois de anos de publica indecisao, Dmitri Nabokov decidiu finalmente publicar o manuscrito de “Laura”, a ultima obra escrita pelo seu pai Vladimir. Este desconhecido e incompleto romance, que somente o biografo de Vladimir Nabokov, o proprio Dmitri e uma obscura professora universitaria de nome Lara (Laura?) tiveram a oportunidade de ler, encontra-se fechado na caixa forte de um banco na Suica rodeado de misterio e especulacao. Por um lado, Dmitri descreve a obra como o mais concentrado exemplo da creatividade de seu pai. Os curtos trechos que escaparam ao segredo sugerem um denso e rico enredo de obsessao e promiscuidade. No entanto, durante os ultimos anos , Dmitri anunciou publicamente e por varias vezes a sua intencao de queimar o dito manuscrito. Nabokov, no seu leito de morte tera’ pedido ao filho que destruisse “Laura” por considerar esta uma obra imperfeita e impropria para ser exposta ao mundo literario.

Deixo aos leitores(as) do Geracao o seguinte dilema: na pele de Dmitri, publicaria o romance permitindo ao mundo a leitura e o estudo da derradeira obra de um dos mais importantes escritores do sec XX, ou pelo contrario, por respeito filial e moral, queimaria o manuscrito respeitando assim o direito de quem cria de decidir a sorte e o valor das suas criacoes?

Desculpem a insistente falta de acentos. Faltam-me as teclas.......

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Um bom começo

Um bom começo ou um mau fim?
Todas as famílias felizes são iguais. Cada família infeliz é infeliz à sua maneira”. Se eu fosse autor destas duas frases, a minha crónica terminaria aqui. Mas não, não sou. A feliz conjugação saíu armada e imortal da imaginação de um russo, anárquico e prodigioso. É assim que começa “Anna Karenina”, um dos romances maiores (são todos) de Leão Tolstoi. Parafraseando o que em tempos disseram os nossos Correios, numa campanha ganhadora aliás, começar bem é meio caminho andado.

Há, na história da literatura, alguns começos extraordinários. D. H. Lawrence abria o seu controverso “O Amante de Lady Chatterley” com uma frase severa: “A nossa época é essencialmente trágica, por isso nos recusamos a levá-la a sério”. O livro encabeçado por esta frase, relatando no miolo a fusão tórrida de um guarda florestal com uma aristocrata, foi levado tão a sério que, publicado pela primeira vez, em 1928, na católica Florença, só em 1960 teve impressão autorizada no liberal Reino Unido. Claro que o facto da dita fusão ser, na prosa de Lawrence, reduzida a uma palavra inglesa com quatro letras explica em parte a trágica proibição.

Nas leituras adolescentes, um dos começos que mais me impressionou foi o da “Reivindicação do Conde Julião”, romance assinado por Juan Goytisolo. Em minúsculas – o estilo é o homem – Goytisolo punha na boca do seu narrador, que do alto de uma colina em Tânger se dirigia à Espanha de Franco, esta amargura anti-patriótica: “terra ingrata, espúria e mesquinha entre todas, jamais voltarei a ti”. À direita e à esquerda, poucos lhe pouparam a traição delirante que a invectiva supunha. A mim, esta maldição forçou-me a devorar cada página. Duma vez por todas, passei a corar sempre que lia a palavra patriotismo.

Conheci-a há oito anos. Era minha aluna”. Esta é, para mim, a melhor abertura de um romance de Philip Roth. “O Animal Moribundo”, um belo romance, não será o melhor do escritor. Mas o arranque anuncia uma glorificação do sexo que, à medida que viramos as páginas, nos leva a crer que a “verdade do orgasmo” talvez seja a única verdade capaz de suspender a morte. Ou precipitá-la?

O meu romance português preferido, “El-Rei Junot”, que Raúl Brandão escreveu em 1912, tem um arranque que rima com o tema pungente da invasão francesa: “A história é dor, a verdadeira história é a dos gritos”. Mais do que um romance histórico, “Junot” é o trabalho de um artista que pinta a tragédia humana com uma combinação improvável de farsa, grotesco, comicidade e metafísica.

Não sei se acabe com Jane Austen ou com James Joyce. No mais ilegível dos seus romances, “Finnegans Wake”, a primeira frase do irlandês contem todos os mistérios do mundo: “riverrun, past Eve and Adam’s, from swerve of shore to bend of bay...”, o que em português tentativamente dá “riocorrente, depois de Eva e Adão, do desvio da praia à dobra da baía...”. E poucas vezes a escrita terá fluído como este rio, ancestral e a abrir-se sobre o mar, de sibilante para redonda e doce aliteração (“from swerve of shore to bend of bay”).

Mas para acabar, acabar, escolho a epítome do amor romântico que é “Orgulho e Preconceito”, de Jane Austen. “É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro na posse de uma boa fortuna deve estar à procura de uma esposa.” Porque é que nada neste nosso mundo é já tão seguro e certo como os padrões desse velho mundo em que tudo era reconhecimento e segurança?

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terça-feira, 18 de novembro de 2008

Ora vejamos,

0 Financial Times acha que Teixeira dos Santos é o pior ministro das Finanças da zona Euro
+
eu acho que Teixeira dos Santos é o melhor ministro deste Governo
+
eu acho que o FT normalmente tem razão
=
logo, acho que este Governo...

Deixem estar, fica para outro dia.

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segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Ainda o anonimato

Uma vez que lancei o tema achei que devia voltar ao mesmo e fazê-lo na forma de um post para responder a muito do que foi dito de forma anónima ou não.
Não foi minha intenção propor ao blog que eliminasse todos os comentários anónimos mas apenas aqueles "de carácter pessoal e ofensivo" sem qualquer relação com temas públicos. Podemos ter opiniões diferentes sobre os méritos e deméritos de escrever sob anonimato na blogoesfera. Compreendo que as posições públicas ou funções profissionais de alguns não lhes ofereçam muitas alternativas para intervir no espaço público que não seja assumirem heterónimos ou o anonimato. E não podemos exigir que todos sejam heróis. Por outro lado, o anonimato elimina a consciência do nosso interlocutor e dificulta, dessa forma, um debate de iguais e informado. O mais importante, no entanto, é que, independentemente da nossa opinião a respeito do anonimato (podendo mesmo, como se vê, ter um debate forte e duro a esse respeito) a Geração de 60 sempre respeitou e tolerou (mesmo quando discordando) os anónimos que escrevem neste blog. Apenas exige o mesmo. O anonimato, quando justificado, é um instrumento de protecção de quem escreve e não de ofensa a quem lê. É por isso que, independentemente, da nossa opinião sobre o anonimato em geral na blogoesfera, é importante distinguir entre os comentários anónimos de natureza pública e os comentários anónimos de natureza privada. Os segundos são inadmissíveis e foram apenas comentários desse tipo que foram retirados. São esses comentários que privatizam a esfera pública e a instrumentalizam, debaixo do anonimato, aos ódios e conflitos privados de alguns. Os outros, podemos ou não concordar com eles, mas sempre aqui foram respeitados e penso que assim continuará a ser.

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domingo, 16 de novembro de 2008

Algo de profundamente estranho anda à solta no mundo da educação…


Ao longo dos últimos tempos, a agitação que envolve o mundo da educação tem-me levado a ler, a discutir e a pensar.

Mas, com esse pretexto, no meio de uma informação ciclópica, divulgada por uma dinâmica nova e eficaz (vd, por exemplo, os blogs de Paulo Guinote e Ramiro Marques), vou descobrindo um país fértil em motivos de inquietação.

Há sinais maiores e menores, do âmago das grandes reformas à cor das pequenas histórias concretas. Mas o tom geral assusta. O império do eduquês, a formalização dos discursos e das práticas, a burocratização dos métodos. Uma meta-linguagem aplicada a uma meta-realidade. Longe, longíssimo de qualquer preocupação genuína com o acto de ensinar. Longe, longíssimo de uma efectiva atenção à necessidade de aprender.

Vem esta desencantada conclusão a propósito de algo insólito. Ainda no quadro deste folhetim da avaliação de desempenho dos professores, algo que bem poderia passar despercebido, não fosse tão grave o que revela…

Ao que parece (ver aqui), em certa escola do distrito de Lisboa, com o aval científico-procedimental do Ministério da Educação, os professores-avaliadores têm de sujeitar-se a uma determinada acção de formação para poderem proceder à tarefa de avaliar os colegas. Chama-se a dita acção de formação: “As dinâmicas organizacionais da escola e o modelo de Avaliação do Desempenho”. Nesse âmbito, devem os ditos professores-avaliadores responder – usando a alternativa V(erdadeiro) ou F(also) – a um questionário intitulado “À descoberta do meu estilo de liderança!”. No final, espera-se que os mesmos professores-avaliadores analisem as respostas e descubram qual o seu perfil de líder…

Só que o ponto não é exactamente a perda de tempo. Ou o puro e simples ridículo da situação. É pior. E pior porque, no universo de perguntas feitas, algumas – demasiadas – indiciam uma matriz política realmente perigosa.

Ou não é angustiante saber-se que, numa acção de formação para a avaliação de colegas, os professores-avaliadores têm de concordar ou discordar (com absoluta honestidade, como recomendam as instruções) de afirmações como estas?!:

- Penso que o respeito pela autoridade é um dos pilares de um bom carácter.

- A ideia de uma relação exclusiva com uma pessoa, durante toda a vida, não me parece desejável nem realista.

- Um relacionamento para toda a vida com um companheiro romântico é um dos meus objectivos.

- Acredito firmemente que o divórcio se deve tentar evitar sempre que possível.

- No que diz respeito a gastar e economizar dinheiro, orgulho-me de ser mais poupado e menos irracional que a maioria das pessoas.

- Passo muito menos tempo que outras pessoas naquilo que considero passatempos sem sentido, como sejam ver televisão ou ir ao cinema, ler romances ou jogar jogos de cartas, computador ou de tabuleiro (damas, xadrez, etc.).

- Procrastino muito.

- Fico frustrado por a visão do mundo da maioria das pessoas ser tão limitada.

- Fico frustrado por a maioria das pessoas não estarem no meu “comprimento de onda”.

- Gosto de me dar com pessoas influentes e não me sinto intimidado por elas.

- Não tenho muito tempo ou paciência para longas reuniões familiares, tais como uma tarde inteira passada a celebrar o aniversário de alguém.

- Nunca me vestiria de uma maneira vistosa, boémia ou que chamasse a atenção de qualquer outra forma.

Ao leitor atónito, só lhe peço que releia. E que conclua.

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Obama e duas anedotas

Chega a primeira notícia do Obama real. Braço direito: Rahm Emanuel, também conhecido como “Rambo”; filho, dizem, de um antigo militante sionista. Vou informar-me, mas seja como for, e até por ter à minha frente o livro em que se conta a história do comunismo através de anedotas inventadas pelos que nele viviam, não resisto a ilustrar o episódio com anedota a propósito:
1950, em pleno estalinismo, um talho anuncia que no dia seguinte vai vender carne. Grandessíssima fila desde a madrugada. Às 9, o exemplar funcionário vem à porta e anuncia: “A carne vai demorar e é menos do que se pensava. Os judeus podem, por isso, ir para casa.” Ao meio dia, o zeloso funcionário proclama: “Há atrasos no circuito de distribuição e ainda há menos carne do que se pensava. Podem ir-se todos embora, menos os gloriosos veteranos da II Guerra”. Às 6 da tarde, a loja fecha, não sem que o dedicado funcionário avise: “Afinal, hoje não há carne. Para a semana anunciaremos o próximo fornecimento”. Queixam-se os esfalfados veteranos: “Vês, os judeus é que se safaram, são os privilegiados do costume!
Entretanto, Durão Barroso, em entrevista ao Expresso, entende que a vitória de Obama abre perspectivas políticas muito promissoras. Não é o único a pensar assim. Mesmo na esquerda europeia – e até nos velhos e novos herdeiros do comunismo – há quem veja na vitória de Barack um amanhã que canta. O que me leva a recorrer simbolicamente a outra anedota que se contava (verdade!) na solar União Soviética:
Dois patriarcas judeus estão na Praça Vermelha e um pergunta ao outro como é que estão os três filhos. Diz o pai, “Olha, o mais velho está em Varsóvia”. “A fazer o quê?" pergunta o outro. “A ajudar a construir o socialismo”.
E o do meio?”. “Esse vive aqui, em Moscovo”. “E trabalha?”Ah, sim, está a ajudar a construir o socialismo.” Querendo saber tudo, o amigo pergunta: “E o mais novo?” “Vê lá tu, teve um visto e foi para Israel” “E também lá está a ajudar a construir o socialismo?” Responde o pai: “Estás louco, achas que ele faria uma coisa dessas na nossa própria terra.

ah, este livro é imperdível


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sábado, 15 de novembro de 2008

As Meninas

Já não sei como foi, mas há 8 anos, mandatado pelos meus dois sócios da Três Sinais Editores, consegui que Agustina e Paula Rego aceitassem ser co-autoras de um livro chamado “As Meninas”. Ofereceram-me – creio que por pura piedade – os seus melhores talentos; uma a escrita, outra a pintura.
O livro, com o impressivo formato de 33x33 cm, capa de pano, papel fantástico, deixava correr, ombro a ombro, a pintura infantil e cruel de Paula Rego e um texto inqualificável e extravagante de Agustina. Com grafismo de Luís Miguel Castro, foi o mais belo livro que os meus amigos (os outros dois sinais) e eu já publicámos.


Era um belo livro, como ainda hoje me diz um dos homens com maior experiência editorial em Portugal; “o mais belo dos últimos 30 anos da edição portuguesa”, faz ele questão em sublinhar.
Publicámos e esgotou. Era para ser edição única, mas acabaram por ser duas. Esgotou outra vez e nunca mais se publicou, porque a raridade era conditio sine qua non.
Quem tem, tem, mas para quem não tem, agora que a Três Sinais é uma das colecções da Guerra e Paz, decidimos reeditá-lo, mantendo-lhe a intocável beleza, mas fazendo-o menos objecto, mais livro. Capa dura, lombada em tela, um grafismo clássico e nobre, “As Meninas” volta a iluminar as livrarias portuguesas. Até aqui limitei-me a publicitar, com fingida candura e insidioso interesse, uma nova aposta da minha editora. Não era preciso. “As Meninas” não é um livro. É, entre imagens e texto, um filme, um thriller. Basta ler: “As Meninas de todas as idades mostram-se na obra de Paula Rego, têm o rosto das criadas que andavam pela casa da Ericeira e que tinha duras mãos capazes de assassinarem alguém”.
Agustina escreve de forma insidiosa e violenta – “Ouvi a voz de Paula Rego ao telefone e a voz dela não me agradou”.

Para dizer o que se deve dizer, Agustina escreve um dos melhores textos que um homem de letras (devo dizer, nenhum homem de letras) já escreveu a partir da pintura. Tomara Diderot. Tomara o pobre do Breton. "O desenho é uma pronúncia, como a da fala”, argumenta Agustina. E depois: “A obra de Paula Rego parte das Meninas como um barco para o país da Utopia. É rodeada por toda a espécie de animais que a protegem e falam com ela. Paula dizia que, não tendo imaginação, precisava de a ir colher aos livros e às histórias dos outros, recebendo da infância uma enorme arca de mentiras e coisas extraordinárias de que fez o seu Jardim.” Não acreditem em mim, leiam.

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quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O Anónimo especula e inocula os concubinos!


Perdoem-me os anónimos menos anónimos do que os outros um bocadinho mais anónimos, mas existem na nossa literatura exemplos de frontalidade e nao anonimato que sao eternos e que por isso nao podem ser esquecidos na sua oportunidade......

Assim, "abridged" e adaptado ao momento aqui vai:

Basta pum basta!!!
Uma geração que consente deixar-se representar por um Anónimo é uma geração que nunca o foi.
É um coio d'indigentes, d'indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!
Morra o Anónimo, morra! Pim!
Uma geração com um Anónimo a cavalo é um burro impotente!
Uma geração com um Anónimo ao leme é uma canoa em seco!
O Anónimo é um cigano!
O Anónimo é meio cigano!
O Anónimo saberá gramática, saberá sintaxe, saberá medicina, saberá fazer ceias pra cardeais, saberá tudo menos escrever que é a única coisa que ele faz!
O Anónimo pesca tanto de poesia que até faz sonetos com ligas de duquesas!
O Anónimo é um habilidoso!
O Anónimo veste-se mal!
O Anónimo usa ceroulas de malha!
O Anónimo especula e inocula os concubinos!
O Anónimo é Anónimo!
O Anónimo é Júlio!
Morra o Anónimo, morra! Pim!
O Anónimo fez uma soror Mariana que tanto o podia ser como a soror Inês ou a Inês de Castro, ou a Leonor Teles, ou o Mestre d'Avis, ou a Dona Constança, ou a Nau Catrineta, ou a Maria Rapaz!
E o Anónimo teve claque! E o Anónimo teve palmas! E o Anónimo agradeceu!
O Anónimo é um ciganão!
Não é preciso ir pró Rossio pra se ser pantomineiro, basta ser-se pantomineiro!
Não é preciso disfarçar-se pra se ser salteador, basta escrever como o Anónimo! Basta não ter escrúpulos nem morais, nem artísticos, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas e com as opiniões! Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicado, e usar coco e olhos meigos! Basta ser Judas! Basta ser Anónimo!
Morra o Anónimo, morra! Pim!
O Anónimo nasceu para provar que nem todos os que escrevem sabem escrever!
O Anónimo é um autómato que deita pra fora o que a gente já sabe o que vai sair... Mas é preciso deitar dinheiro!
O Anónimo é um soneto dele-próprio!
O Anónimo em génio nem chega a pólvora seca e em talento é pim-pam-pum.
O Anónimo nu é horroroso!
O Anónimo cheira mal da boca!
Morra o Anónimo, morra! Pim!
O Anónimo é o escárnio da consciência!
Se o Anónimo é português eu quero ser espanhol!
O Anónimo é a vergonha da intelectualidade portuguesa!
O Anónimo é a meta da decadência mental!
E ainda há quem não core quando diz admirar o Anónimo!
E ainda há quem lhe estenda a mão!
E quem lhe lave a roupa!
E quem tenha dó do Anónimo!
Morra o Anónimo, morra! Pim!

O belissimo original de um que tambem era contra e nao era anónimo aqui

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Anónimos

Alguns anónimos (ou será só um?) decidiram atacar este blog. Reclamam o direito à liberdade de expressão e negam à administração do blog o direito a apagar comentários ad hominem ofensivos e não provados. Por removermos os comentários sem rosto que publicam, acusam-nos de estarmos, afinal, a falar em circuito fechado e umbiguista
Pode ser que tenham razão.
Mas não resisto a perguntar-lhes:
Escrever sob anonimato não é a primeira e mais elementar forma de recusar a liberdade de expressão?
Fazer comentários ad hominem, ofendendo a integridade de terceiros sem assumir pessoal e publicamente a acusação, não legitima sempre a suspeita do boato, sobretudo quando vivemos num estado livre e de direito?
Quando um anónimo (ou até mesmo alguém que só se nomeia através de um nickname) me comenta, ao responder-lhe estou a falar com “alguém” ou com “ninguém”? Muito mais do que quando os comentários são feitos entre co-bloggers, ao dialogar com um anónimo – com “ninguém” – não me arrisco a estar a falar sozinho e no mais fechado dos circuitos?
Embora aí, meu bravos e corajosos justiceiros, mostrem lá esse semblante esplendoroso e juntem à esplêndida virtude de tão putativas razões o rabisco da vossa graça.

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quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Da Visão: A América não mudou

Varridos os confetis, enxugadas as lágrimas, apagadas as luzes e recolhidas as canas, permitam-me uma reflexão mais ponderada sobre os resultados das recentes eleições americanas. Apesar do aparente unanimismo que por aí ferve, acredito que há algo de profundamente paradoxal na vitória de Barack Obama: o facto de ela poder ser entusiástica e genuinamente festejada na Europa por razões muito diferentes, senão mesmo antagónicas.
Muitos Europeus vêem nela, de facto, a mudança que ardentemente desejavam para a América. Festejam, acima de tudo, o fim da era Bush, o fim do unilateralismo americano, a derrocada dos neo-cons e a derrota desse papão estranho que nunca ninguém se dá ao trabalho de definir e que dá pelo aterrador nome de neo-liberalismo. «A América mudou», «nunca mais será a mesma», repetem, com o indisfarçável alívio de quem exorciza um fantasma ainda demasiado real. No fundo, no fundo, gostam de acreditar que o tempo lhes deu razão e que a América se aproximou agora do auto-santificado modelo europeu.
Eu, que tenho a pretensão de não poder ser confundido com um «obamista» de última hora, deito os foguetes por razões muito diferentes. Festejo, imagine-se, porque a América não mudou. Porque, no essencial, provou que se mantém fiel à matriz ideológica dos seus «founding fathers». Festejo a vitória de um «american dream» que não é senão a vitória de uma fé inabalável e centenária na igualdade de oportunidades. Festejo o sentido de justiça de uma sociedade que honra a sua Declaração de Independência («all men are created equal») e em que, de facto, é cada vez menos relevante nascer-se branco ou negro, homem ou mulher, pobre ou privilegiado. Festejo a plasticidade do seu tecido social e a meritocracia que é a sua marca mais profunda. Festejo, em suma, o Liberalismo. Que é, gostemos ou não da ideia, seja este ou não o tempo para o afirmar, o principal fundamento da cidadania americana.
E porque os motivos do meu festejo são claramente diferentes dos da maioria, não alimento ilusões. Na eleição de Barack Obama não vejo uma suposta aproximação da América aos beatificados valores europeus. Vejo, muito pelo contrário, claramente marcadas, as abissais diferenças entre dois modelos sociais e políticos. E se ganho alento para acreditar que um dia podemos também vir a sonhar com uma sociedade menos rígida, menos conservadora, menos imobilista, sei bem que a hipócrita «excepcionalidade europeia» se alimenta ainda muito de preconceitos raciais e sociais, de profundo desprezo pelo mérito, de dramáticas desigualdades de oportunidade. Ou será que, em consciência, alguém acredita que, apesar de todas as declarações balofas em sentido contrário, podemos ter, nos tempos mais próximos, um negro na chefia do Estado ou na presidência do governo em Lisboa, Londres, Paris ou Berlim?
Será, com toda a certeza, muitíssimo útil festejar a queda de George W. Bush. É absolutamente higiénico que se festeje a condenação de Guantanamo e de Abu Ghraib. Mas não seria seguramente menos proveitoso que aproveitássemos este momento histórico para realizar o quanto temos ainda para aprender com a América.

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A Geração de 60 e os anónimos que gostam de publicidade…

Desde o inicio que o Geração de 60 que se assumiu como um espaço de liberdade, "um espaço público em que, de modo livre e incondicionado, sem preconceitos, sem dogmas (…) se confrontam teorias e concepções distintas, ideias e visões opostas". Esta atitude exige tolerância. Tolerância mesmo para com opiniões de que profundamente discordamos e mesmo quando assumem uma forma profundamente desagradável. É esse o preço a pagar para multiplicar as vozes que se ouvem num espaço público. Mas um espaço público não pode confundir-se com um espaço de divulgação pública de ódios e conflitos privados. Pelo contrário, tal seria permitir a privatização deste espaço.
A liberdade de expressão existe ao serviço da construção de um espaço público e não para proteger ofensas privadas que em nada se relacionam com a esfera pública. O Geração de 60 deve permanecer um espaço da máxima liberdade mas não podemos confundir tolerância com ausência de regras. Sempre que um comentário anónimo neste blog for de carácter puramente pessoal e ofensivo ele deverá poder ser retirado. Só assim permaneceremos fieis a uma verdadeira cultura de espaço público e tolerância.

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Inclusão – desafios entre a retórica e a prática


Pierre N’Gahane é, para nós, um nome desconhecido. Trata-se do novo Prefeito de Alpes-de-Hautes-Provence, hoje nomeado por Nicolas Sarcozy (ver aqui).

De origem camaronesa, tem 45 anos e é doutorado em Gestão. Há cerca de um ano, abandonou a vice-presidência da Universidade Católica de Lille para desempenhar funções públicas relativas à promoção da igualdade de oportunidades.

Com a nomeação de Pierre N’Gahane, Sarcozy dá mais um passo. Não anuncia nada, não começa nada. Apenas continua um caminho.

Filho de imigrante, Sarcozy é profundamente inovador nesta sua proactividade. Para ele, a visibilidade é relevante. Porque acredita que só o exemplo pode romper, eficazmente, o círculo vicioso da exclusão e da falta de horizontes.

Sarcozy conhece as minorias e dá-lhes atenção. Mas, para ele, a inclusão é, sobretudo, um desafio prático. Sarcozy quer promover a igualdade a partir da diversidade e assenta aí uma certa ideia de França – uma França diversa e plural, multicultural e multiétnica, mas ainda e sempre necessariamente francesa nos valores e nos princípios.

Pierre N’Gahane é, afinal, o último pretexto para que, também nós, pensemos politicamente nas minorias. Um pouco mais a sério do que é hábito. Com um pouco mais de verdade e de coragem. Para lá da facilidade de retóricas estafadas.

Da próxima vez que nos indignarmos com acontecimentos numa qualquer Quinta da Fonte, Cova da Moura ou Quinta do Mocho, lembremo-nos de quantos governantes, deputados, magistrados, altos-funcionários, governadores-civis, autarcas, professores, gestores, quadros, oficiais militares, polícias temos, entre nós, de raça negra ou cigana. Talvez a resposta nos ajude a perceber a perspectiva de vida que oferecemos a milhares de pessoas que, por opção ou contingência, fazem parte integrante do nosso projecto colectivo.

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Ratio do sol e da chuva

Não percebo a perplexidade dos jornais, do Público em particular, com as notícias relativas ao Banco de Portugal.

Parece que dos 1700 funcionários públicos do BP, só 60 se dedicam a tarefas de inspecção/controlo/prevenção da actividade bancária.

Então mas não foi o Público que aqui há uns dias rejubilava com a contratação de 135 vigilantes e recepcionistas para os museus, ainda que não fossem contratados técnicos superiores de conservação e restauro, como medida positiva em tempos de desemprego?

A culpa não é do Público, é desta mentalidade que quer sol na eira e chuva no nabal.

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Paris


Paris de Cédric Kaplisch é um filme sobre os parisienses. Não é um filme que nos traga as profundezas da alma dos parisienses ou mesmo de Paris, mas é uma expressão de Paris de hoje. Serão assim os franceses de Paris? E o que nos diz o filme que eles são?

Dois tópicos iniciais: a aparência e a alma. A ideia é a imaginação de um personagem, num estado consciente de morte eminente, sobre a vida dos outros, que espreita da sua janela. A Pierre, representado por Roman Duris, é-lhe diagnosticado um problema no coração que o levará à morte. Não se pode esforçar e vive num andar alto de onde não pode sair porque não se pode cansar e o elevador, indispensável, está regularmente avariado. A sua casa é a sua prisão, a sua doença o seu carrasco, a janela que se abre para a rua e para as janelas dos prédios em frente são uma perspectiva libertadora, a única que lhe resta para se manter em contacto com o mundo livre, daqueles que nem sabem a sorte que têm em não sentir a presença inibitória e imobilizante da morte. A sua imaginação elabora-se através do seu desejo de vida, projectado na vida dos outros, e a partir das aparências que lhe chegam pelo olhar exterior e invasivo dos seus movimentos e das suas rotinas. O filme dura entre o momento do diagnóstico e a viagem para o Hospital para uma intervenção que o pode salvar ou não.

Desta situação da personagem, deste sentimento de quem se separa do movimento e o observa na procura de uma omnisciência frustrada, se parte para uma deambulação por vidas de parisienses que se cruzam e afastam, se reconhecem e perdem. E que parisienses são esses? São personagens onde se abre um conflito entre a aparência onde se desenrola a vida social — onde cada um actua como se respeitasse um contrato que não permitisse a invasão da privacidade e assim deixasse a cada um a definição da sua imagem exterior — e uma intensa vida secreta, povoada de desejos e fantasias, memórias, inibições, frustrações, presunções — onde imagens interiores conduzem tramas e estratégias de sedução e de reconhecimento mútuo.

O próprio multiculturalismo afrancesado é disso expressão. As personagens têm múltiplas origens mas em Paris vivem sob as regras de Paris. Como os produtos que chegam aos grandes armazéns. Vêm de todos os cantos do mundo, mas quando são apresentados, seja nas montras das lojas, seja nos mercados de rua, eles já são parisienses. Têm já uma aparência que os afasta das suas origens para se apresentarem no banquete de todos os sortilégios e de todas as encenações. Em Paris tudo ganha uma nova alma, uma nova identidade, uma nova vida.

O filme fala-nos das rotinas dos parisienses. Há um constante reencontro, um regresso aos lugares anteriores, ou de sempre. Mas há, também, a imigração que Paris atraí e à qual dá…Paris: uma nova esperança, um novo cânone, uma nova vida e uma nova oportunidade. Paris gosta dessa atracção mútua dos diferentes e é um palco de partilhas. Mas sempre por detrás de uma fachada que pode recusar qualquer avanço, qualquer atrevimento, qualquer ousadia, que seduz através de um mensagem de telemóvel, de meias palavras e de olhares num mercado e em que cada um arrisca e se entrega sem perder a sua individualidade e a sua autonomia. Paris não é piegas, não é sentimentalista, mas é cheia de sentimentos latentes e à espera de um desenlace.

Os grandes planos mostram essa cidade que alberga, acomoda, isola e protege, que vive 24 horas entre as entranhas da noite e as manhãs e as tardes dos dias claros. Os grandes planos mostram o corpo de uma cidade onde o corpo de cada um se dilui e se espraia, que cada um contempla e em que se contempla.

É assim Paris, pelo menos segundo Kaplisch.

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terça-feira, 11 de novembro de 2008

" Públicas virtudes, vicíos privados"

Anda o mundo entretido e a penar com dois fenómenos que tiveram epicentro nos EUA. A crise do sub-prime e Obama.

Extraordinariamente os americanos conseguiram exportar dois fenómenos de escala planetária. Dir-me-ão, é um problema de escala. Discordo. A questão não é de quantidade, é de qualidade.

A inteligência europeia tem um preconceito anti-americano. Sente-se em relação aos americanos aquele vago embaraço que sentimos em relação ao (Sr. Comendador) Joe Berardo. Desde logo, porque a língua de Camões não escorre, escorreita. Antes a fluência se expressa num misto de português, madeirense,vernáculo e inglês, com pronúncia sul-africana. Ou como dizia, há uns meses José Miguel Júdice, preferia Cavaco Silva para Presidente da República e Manuel Alegre para almoçar.

A inteligência europeia, que ía até aos Urais, já que não havia russo ou polaco bem nascido que não falasse francês, acha que todos os americanos usam meias brancas, sem ser para jogar ténis, não sabem pegar nos talheres, e, claro, não sabem falar francês.

De modo que a esquerda europeia anda eufórica a explicar o sucesso de Obama ( já agora se eu votasse, também teria votado Obama), não percebendo como é que aquele homem chega a Presidente. Sobretudo não percebem como é que um país que dá Obama, também dá a crise do sub-prime.

A leitura que fazem será sempre a leitura de um europeu, "públicas virtudes, vicíos privados", assente nos pilares da cultura judaico-cristá, sendo que à sua luz Obama é a virtude, o bem, por oposição a Wall Sreet, o mal, o vício. A esta luz, Obama será sempre um milagre.

Nada de mais errado, basta viver num país anglo-saxónico para perceber as diferenças.

Obama e Wall Street são uma e a mesma coisa, ou seja são ambos produtos do mesmo regime e do mesmo sistema.

De um sistema que tem uma fé cega na autonomia e força do indivíduo e por conseguinte na autonomia privada. Ali educam-se pessoas fazendo crer que apenas com base no mérito se pode chegar ao sucesso pessoal, profissional e até a uma riqueza sem limites. O risco é admitido e incentivado.

Dizia-se que Portugal estava a salvo de grandes calamidades porque a banca era conservadora e não comprara produtos tóxicos, que era avessa ao risco e era prudente. Dizia-se isso com um sorriso de auto-complacência.

Pode até ser verdade, mas em países assim nunca haverá Obamas. Porque Obama é o triunfo da vontade, do risco, da improbabilidade, da audácia.

Características que em Portugal morrem de morte matada à nascença. É que em Portugal não gostamos de produtos tóxicos.

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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Gostei

Retratos de Miguel Baltazar.

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Chinesices da crise

No meio dos comentadores económicos e políticos surgiu mais um lugar comum. Sinólogos feitos à pressa lembram-nos que o ideograma chinês para crise significa risco e oportunidade. Seja, mas depois de ser dito isto, esperamos que saia qualquer desenvolvimento mais das suas cabeças.

Nada. Era tudo o que tinham para dizer. Depois de o dizerem concluem com um sorriso cúmplice e alvar. Nada mais. Um pouco como a Roxane do Cyrano de Bergerac quando o cavaleiro se lhe declara. Ele diz: amo-vos. Ao que ela responde: esse é um bom começo. E...? Ao que ele continua: Amo-vos muito. Ao que ela aquiesce dizendo. É uma boa continuação... E?

E mais nada. Não tem mais nada a dizer. O sinólogo revela-se apenas salteador de curiosidades alheias. Traz consigo um saque que roubou na estrada, mas está como o Neandertal que tivesse roubado um telemóvel. Está contente com o furto em si, mas desconhece a utilidade do conceito.

Sendo “crise” uma palavra de origem grega lá vou eu ao meu Bailly ver o que ele me pode ensinar. Consoante as épocas e os contextos “krisis” em grego significa: acção ou faculdade de distinguir, de escolher, escolha, decisão, contestação, luta, processo acusação, acção de decidir, julgamento (sobre uma questão, uma dúvida) condenação, fase decisiva de uma doença, explicação, interpretação de um sonho.

A crise na acepção que agora usamos surge de um conceito que significava primeiro destrinça, a este se segue um julgamento, e só assume a natureza algo preocupada que lhe conhecemos porque na medicina se começa a falar em fases decisivas de uma doença, os momentos decisivos, críticos, a crise. Enriquecido o conceito pelo seu uso médico, foi este em grande medida que herdámos. Mas o conceito de crise pela via europeia que recebemos já incorpora o que de humano se tem de fazer perante ela: distinguir, cuidar, decidir, interpretar, lutar, agir.

Não preciso de uma sabedoria chinesa de importação para perceber que a palavra crise é tudo menos simplista, depressiva ou impedimento à acção e à destrinça. Quem desde criança conviveu com móveis e adereços chineses antigos, digamos assim os “verdadeiros”, não se fascina com o plástico a imitar marfim, ou o candeeiro em estilo chinês “pimba”. Só precisa de recorrer a uma sabedoria chinesa de baixa importação quem desconhece o original chinês, mas sobretudo quem desconhece a sua própria cultura.

A estratégia é conhecida. A Europa já se sabe que não tem cultura nenhuma, é fora dela que temos de ir buscar referências de sabedoria. Problema de formulação, porque o drama está no sujeito. Não é a Europa que não tem cultura nenhuma, mas muitos europeus quem, tendo-lhes sido conferido um título académicos, se sentiram isentos de ter de pensar.

Este é um entre muitos exemplos da fraude que impera no espaço público. Antevejo a objecção, no entanto: porque razão teria de ser especialista em sinologia o comentador? Sem dúvida. Mas nesse caso que não a cite. Se na casa dele nunca se pensou o que a crise significa é um problema da casa dele. Em boa verdade o que ele está a dizer é o seguinte: “na minha casa nunca soubemos o que era crise, e foi preciso uma chinesice para lhe dar espessura”. Confissão triste, mas evitável, e que todos agradecíamos que não nos visse parar aos ouvidos. Que se lembre que do mundo de onde vem nem todos tiveram ocupação secular de cuidar de batatas e que nem toda a espessura é puré.


Alexandre Brandão da Veiga

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domingo, 9 de novembro de 2008

A Geração de 60 – uma opinião no momento

“Elogio em boca própria é vitupério” dizia o Senhor Professor durante as aulas, imediatamente antes de se gabar…

No entanto, neste momento, sinto-me apenas um observador e, nessa qualidade, não vou resistir e faço questão de afirmar, em alto e bom som, que este blog é mesmo interessante.

Não é nada que não soubesse já, bem entendido. Mas por vezes, como todos sabemos, a realidade tem momentos em que se expõe de forma mais clara. Faz-nos ver o que já conhecíamos mas com outra definição – com melhor definição. Dá aos desenhos linhas mais marcadas, por assim dizer. Empresta cores ao que antes passava (apenas) a preto e branco.

Acabei há pouco de fazer uma viagem pelos últimos posts e mal dei pelo tempo passar. Li e reli, deixei-me passear, entretive-me e, verdadeiramente, aprendi. Mas não só. Sorri. Desconfiei. Confirmei. Recostei-me para trás e apreciei o estilo - e o pensar - daqueles que aqui escrevem. Reconheci o perfil de uns e recortei o de outros (há sempre uma primeira vez).

E não me refiro (apenas) aos bloguistas residentes. Os nossos visitantes são do melhor que há. Que comentários interessantes! Que cultura! Que graça! Que diferenças! Que magnífica companhia!

Obrigado.

Só lastimo os anónimos. Gente que não se expõe. Que, ao vivo e a cores, diz baixinho (e para o lado) ou não diz de todo. Que num grupo em discussão guarda em silêncio opiniões e grita, mas só para dentro, “eu faço e aconteço”, “comigo seria assim e assado” mas que, em tempo real e no espaço dos homens, se mantém apenas na sombra de si própria. Gente sempre escondida atrás de um biombo com medo que este caia e a luz do dia lhes exponha as partes sabujas.

Credo.

Mas ao que interessa, que dos fracos não reza a história. Alguns exemplos do que mais me entreteve:

Começo pelo post do Pedro Norton que – e ainda bem! – teve direito a contraditório imediato do próprio visado pelo texto (no caso, Pedro Santana Lopes). A liberdade do Pedro, o nosso, ajuizar da forma que melhor entende uma entrevista do Pedro, o outro (sem desrespeito), é fundamental e inerente a qualquer meio de comunicação. Mas o facto deste meio, em particular, permitir que se responda com igual liberdade e nos mesmos termos, mantendo toda a actualidade, torna-o, sem dúvida, especial. Se isto não é a essência de um blog, então não sei qual é.

“Recebi” o tentador convite da Inês Dentinho para uma visita ao Palácio da Independência e li-a a escrever sobre o que Carlos Reis falou a propósito d’ El Rei D. Carlos. Mas que conjugação de nomes! É como ter uma especialista sobre a Rainha Isabel chamada Isabel Rainha (ou Elizabeth Queen, for that matter).

Fiquei extasiado (e não é caso para menos) com o nível técnico e o conhecimento expresso nos comentários ao excelente post do Pedro Lains sobre o porto de Lisboa, com vários Comandantes a opinar, com todo o a propósito e sem qualquer cerimónia. Foi de tal maneira que agora navego à bolina por cima desse mar batido que é a questão dos contentores e estou pronto para fundear a âncora em torno de qualquer debate sobre tão intrincado assunto.

Fiquei com vontade de gastar umas lecas (talvez umas 101…) com os “101 Heróis”, da Guerra & Paz, editora do nosso Manuel Fonseca, ele próprio certamente um herói – quem é que duvida da coragem necessária para se ser editor numa altura destas?

Ler sobre a grandeza dos outros faz bem a qualquer alma e alimenta o espírito que sofre pela sua pequenez. Recomendo o livro, em particular, aos “nossos” anónimos, como fonte de inspiração e instrumento catalisador de uma eventual mudança, mesmo que não desejada. É que a grandeza é contagiosa. Pega-se por proximidade.

E é por tudo isto (mas não só) que vale a pena entrar aqui

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Uma questão de estilo?

Li hoje, com toda a atenção, a entrevista que Pedro Santana Lopes dá à revista Pública. Interessava-me perceber melhor o que o movia neste novo desafio político. Interessava-me entender que projecto tinha para Lisboa. Interessava-me pôr à prova as minhas próprias reservas a essa candidatura. Fi-lo com a obrigação de quem «opina» mas fi-lo também por interesse genuíno. No político e na cidade. Mas fi-lo debalde.



São cinco páginas de entrevista e nenhuma ideia para Lisboa. Não é força de expressão. É uma questão de contabilidade. Não são duas, nem uma. É nenhuma ideia para Lisboa. Fala-se do passado, exorciza-se a passagem pelo governo, fala-se de ataques e de conspirações. Fala-se, sobretudo, do estilo. Corrijo: fala, sobretudo, do estilo.



Pedro Santana Lopes tem exigido aos seus opositores, com inteira legitimidade, que sejam capazes de distinguir o homem da sua obra, o político do seu estilo. Tem sugerido (e neste entrevista volta a fazê-lo) que os seus detractores se fixam na «forma» sem se dar ao trabalho de avaliar o «conteúdo». Em nome de um debate sério, de um debate que se saiba fixar acima dos ódios e das antipatias pessoais, faz todo o sentido que o faça. É de debates substantivos que se deve alimentar a Democracia. E é precisamente por isso que esta entrevista é uma confrangedora desilusão.

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quinta-feira, 6 de novembro de 2008

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

4 de Novembro de 2008 - Dia histórico

4 de Novembro de 2008

É um dia histórico.


Com maior ou menor tranquilidade.


Quebrou-se uma barreira, um preconceito, um mito.


O Sporting passou aos 1/8 de final da Liga de campeões.

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Radicalómetro

Quando o Muro de Berlim caiu, Álvaro Cunhal achou que estava tudo na mesma, quanto aos princípios. A populaça e a democracia estavam a pôr em causa o passado? Não, a populaça e a democracia estavam era erradas. Foi o melhor momento para medir as ideias e os princípios de Cunhal no radicalómetro, onde bateu na escala máxima. Este exemplo é bom, porque este era um homem simultaneamente culto e inteligente. Agora podemos finalmente medir no mesmo instrumento a posição daqueles que escreveram durante os últimos quatro ou oito anos em defesa do muro derrubado ontem pela populaça e pela democracia norte-americanas. Será que vão olhar para trás com outros olhos? Vamos ver. Esse exercício será interessante sobretudo quando aplicado ao que os mais cultos e inteligentes nos vão dizer.
Desculpem o desabafo, mas isto passa depressa. Tanto mais que o futuro para já não é muito brilhante.

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terça-feira, 4 de novembro de 2008

O candidato “wiki”


Em 2004, Howard Dean, hoje líder do Partido Democrata, não chegou a ganhar as primárias a John Kerry, mas fez história ao mobilizar milhões de dólares e milhares de voluntários através do seu site. Nesse mesmo ano de 2004, Barack Obama era eleito Senador pelo Estado do Illinois. Escassos quatro anos volvidos, um candidato outrora desconhecido não só arrasou o poderoso establishment da invencivel Hilary Clinton como irá (estamos a horas de o confirmar) prestar juramento como 44º Presidente EUA, no próximo dia 20 de Janeiro de 2009.

Já quase foi dito sobre as razões do espectacular sucesso de Barack Obama. A sua capacidade oratória, o seu carisma e capacidade de sedução, a genialidade da sua campanha, o apoio entusiástico da juventude, a vontade de mudança e a conjuntura económica. Tudo isso é verdade. Mas tenho para mim que um dos mais espectatulares sucessos de Obama está na forma como revolucionou a utilização da internet numa campanha politica. O que Dean tinha inaugurado, Obama levou a um patamar nunca visto. Nada será igual nas campanhas.

Primeiro: o impacto da internet no financiamento da campanha. Enquanto as campanhas do passado dependeram sobretudo do apoio de pequenos circulos de "wealthy and well-connected patrons", Obama recebeu donativos de dois milhões de americanos, a maior parte dos quais de pequeníssimos montantes através da internet (como apoiante registado, fui assediado semanalmente a contribuir). Esta mudança tem um inegável significado politico: a habilidade de um candidato angariar dinheiro de pequenos doadores é já um importante sinal da sua legitimidade política. A partir de agora, um candidato que não conseguir angariar dinheiro desta forma será visto como largamente dependente de grandes financiadores (e dos seus “vested interests”).





Segundo: pelo uso magistral das redes sociais (Web 2.0). Por exemplo, o numero de apoiantes de Barack Obama no Face Book atingia hoje 2,438,270 supporters. O site do candidato vai ao ponto de disponibilizar um simulador, que permite que cada um calcule o impacto da sua politica fiscal no seu orçamento familiar.

Terceiro: mais que um mero site, estamos perante uma plataforma colaborativa, aberta e descentralizada. Onde cada um pode desempenhar um papel, organizando eventos de campanha, encontrando apoiantes seus vizinhos, etc. O site de Obama não só permite como encoraja cada aderente a desempenhar um papel na campanha. Uma mobilização a uma escala sem precedentes que só o cariz descentralizado e aberto da web 2.0 permite – num mundo “comando e controle” isso seria impossivel.

Transparência, participação, poder descentralizado. O paradigma da colaboração, da criação colectiva, da “wikipedia” e do “open source”, aplicados a politica. Não é de democracia directa que estamos a falar, é de melhor democracia representativa. A web 2.0 alia três dimensões de participação, de intensidade crescente: partilha, colaboração e accção colectiva.

A lógica de rede e da rede permite menos barreiras à entrada e a emergência de uma nova liderança política. São boas notícias para a democracia. Há menos barreiras à entrada, há mais liberdade.

Acredito cada vez mais no fim do paradigma do lider político como um “rambo” obcecado com o comando e controlo, que usa o “spin” e todo o poder (real e projectado) para impor o seu rumo. Esse tipo de liderança impressiona pela sua eficácia e será sempre do agrado de alguns. Não tem sucesso nas empresas e tem sucesso limitado na política. É um modelo do passado, que cria dependências, tolhe a iniciativa, inibe a sociedade civil “não controlada”, na qual cria um lastro de cresente desconforto.

O nosso tempo pede líderes diferentes, que prefiram a “orquestração” ao “comando e controlo”. Que se vejam mais como sensores do que como magafones. Que prefiram a verdade ao “spin”.

Líderes assim são capazes de captar a imaginação, de atrair gente de todos os quadrantes, ansiosa por participar, disponível para dar o seu contributo.

Líderes assim vão dominar a política do Século XXI.

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Lições do Snob


Há dias, a meio do serão, entrei no Snob, o bar/reduto de jornalistas na rua do Século, em Lisboa. E lá estavam - intactos - grandes amigos, gente que só conheço do écran ou da assinatura e outros sempre desconhecidos. Parte de mim sente-se ali em casa, jornalista que fui durante 18 anos. Outra parte, uma intrusa, tendo deixado de o ser há meia dúzia de anos para servir o poder. Acredito firmemente que esta sensação se pega aos meus colegas que alternam entre a genuína simpatia dos velhos tempos e as palavras subitamente medidas porque ali está alguém «de fora».
Discute-se política. Ou melhor, sem entrar em detalhes - que não me pertencem - discutem-se os telefonemas para Manuela, o que o Sarmento quis fazer e o que o Pacheco ouviu depois de falar «assim» em frente do Costa na quadratura. Lá fora, a crise financeira e a recta final da campanha para as eleições americanas não têm a mesma pimenta que a possibilidade de Santana vir a ser novamente candidato à Câmara de Lisboa, dentro de um ano.
O calor aquece a discussão. Simpaticamente, suspendem a reincidência da crítica para se indignarem, em bloco, com os media que «não foram ao Costa» pedir explicações sobre as cheias em Seterios (não tendo o autarca posto os pés na poça lá criada pela falta de limpeza das sarjetas). E, solidários, nem comentam! o painel de quatro jornalistas entretanto escolhido por António José Teixeira para discutir esta candidatura na Sic-Notícias - um esquadrão para atirar a matar «no Santana». Nele, o director do Expresso sentiu-se institucionalmente autorizado a dizer três vezes: «Não gosto do Santana! Pronto, não gosto!». Está no seu direito. Mas, por alguma razão, nunca ouviríamos Francisco Balsemão, ou qualquer outro director de uma publicação respeitável, comprometer, desta forma, a linha editorial do seu jornal, em antena aberta, na televisão.
As palavras de Henrique Monteiro autorizam-nos a pensar que a leitura errónea dos resultados de uma sondagem sobre as Eleições Autárquicas 2009, em Lisboa, publicada na edição do Expresso de Sábado passado (1/11/08), é uma manobra parcial, pouco digna daquele jornal. Na verdade, sob o título «Maioria recusa Santana Lopes», a notícia adianta - e bem - que 54% dos entrevistados preferem que o antigo Presidente da Câmara não volte a concorrer. Mais acrescenta que «já» Passos Coelho recolhe 47,3% dos apoios à sua candidatura entre «os que disseram não» a PSL. Ora basta fazer as contas: se assim é, Passos Coelho tem apenas 25% de apoio contra os 34,4% de PSL .
O ponto é que, da forma como a notícia é escrita, nessa tarde televisiva Passos Coelho é entrevistado como preferível a Santana, por «ter» 47,3% e não 25% que realmente recolheu na sondagem. No dia seguinte, na página 24, o DN explica melhor este resultado mas já não é suficiente para esclarecer o desequilíbrio forjado pelo Expresso.
O que quero dizer é que muito do que se diz - e escreve e pensa - se decide ainda pelos estados de alma de meia dúzia de acalorados que deixaram de distinguir a intimidade dos seus sentimentos legítimos do dever de informar quem tem o direito a ser bem informado.
Essa meia dúzia que vá até ao Snob, onde o desabafo parece não afectar o profissionalismo.

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O que Maomé não diz do toucinho



Ontem, na SIC notícias, Bagão Félix disse mais ou menos o seguinte (cito de memória): «desde a criação do Euro, o Banco de Portugal só serve para duas coisas: fazer previsões macro-económicas e assegurar a supervisão bancária. Nas previsões falha sempre, na supervisão parece um carro-vassoura, chega sempre atrasado».

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Um fim de semana bizantino

Vale a pena ler isto:




E (imagino) visitar isto:




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segunda-feira, 3 de novembro de 2008

AB

Descobri que o António Barreto tem um blog. Fiquei feliz por duas razões: posso lê-lo de vez em quando e a blogosfera fica mais culta. Boa!

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Lisboa e o seu porto

Sou insuspeito: gostei do último artigo de Miguel Sousa Tavares no Expresso e não vou votar António Costa. Mas esta luta contra a expansão dos terminais de Alcântara parece-me totalmente descabida. Vi umas fotografias áreas mandadas publicar pela empresa em causa e achei normal o que querem fazer.

Queremos Lisboa como? Para turistas? Eu não. O turismo é uma actividade justa e necessária e todos um dia o somos. Mas é uma actividade altamente consumidora do meio ambiente, desde os aviões ao espaço que ocupa, até à descaracterização das áreas que lhe são dotadas.

Lisboa precisa de um porto e de um porto a crescer. Precisa de actividade económica deste tipo. Lisboa é um porto e será sempre um porto e quanto mais porto melhor. Para além disso, este tipo de investimentos pode ser usado para se exigirem contrapartidas para melhorar as áreas envolvidas. E também se pode exigir que façam as obras à suíça, sem mexer muito com o dia-a-dia de quem frequenta a zona. O processo terá sido seguramente mal conduzido. Então, que Miguel Sousa Tavares use o seu poder mediático para que os negócios sejam melhores para Lisboa. Isso sim seria um bom serviço. Mas não façam de Lisboa uma cidade de turistas. Não há pior nos dias que correm.

Não sou muito de petições, mas recomendo os argumentos de uma petição sobre isto, citada neste blog.

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VÃO AO PALÁCIO DA INDEPENDÊNCIA


Por pudor ou preguiça, tenho-vos poupado ao anúncio do longo programa 2008 da Comissão D. Carl0s - 100 anos, evocativo da vida e obra do monarca quando passa um século sobre a sua morte. Tem sido um percurso extraordinário que me ajuda a conhecer melhor o actual regime, o Povo de sempre, o equilíbrio das potências da época, o tamanho do esforço e a fragilidade do momento. Quisémos dar a conhecer a história desse reinado, sem adjectivos nem omissões tão comuns à propaganda das III Repúblicas e antes da euforia desenhada no programa de Vital Moreira para o Centenário da República, agora arrefecida pelo sopro de Cavaco Silva e pelos avisos do Cardeal Policarpo na Homilia de 1 de Fevereiro de 2008.

A exposição sobre a vida do Rei, (co-autoria de Rui Ramos) esteve nos moopies do Terreiro do Paço durante todo o Inverno e circulou depois pelo País acompanhada por conferências, debates e passagens de documentários sobre a época (agora em Viseu, para a semana na Golegã). Estivemos, por exemplo, na Faculdade de Ciências de Lisboa onde o anfiteatro foi pequeno para ouvir Carlos Reis e ver o filme do Museu do Mar sobre as campanhas oceanográficas do Rei; organizámos o primeiro congresso internacional sobre os Mares da Lusofonia, tendo convidado especialistas de todos os países que falam português a discutirem os actuais desafios das suas imensas Zonas Económicas Exclusivas (haverá Jornadas D. Carlos de 2 em 2 anos); honrámos a memória deste Chefe de Estado morto em funções a 1 de Fevereiro de 1908, no Terreiro do Paço, com silêncio, flores, uma oração e o toque de corneta de três bombeiros (já que Nuno Severiano Teixeira proibiu este ano a habitual presença do Regimento de Lanceiros e do Colégio Militar, dos quais o Rei era Comandante honorário); estivemos no Open do Estoril e em múltiplas provas de desportos praticados e/ou inaugurados por D. Carlos em Portugal, como o ténis ou o futebol; divulgámos os dotes artísticos do Rei e as suas qualidades como gestor da imensa casa agrícola que herdou hipotecada, ainda como Duque de Bragança, e que soube transformar num exemplo extraordinário de gestão empresarial com lucros ainda hoje colhidos pela Fundação da Casa de Bragança.

Mas foi o Chefe de Estado, o diplomata e o político que mais me impressionou neste ano de eventos que termina em Janeiro de 2009 (com um novo ciclo de conferências organizado em parceria com a Universidade Católica Portuguesa).

Esse perfil está agora mesmo a ser discutido, com o maior interesse, no colóquio anual da Comissão Portuguesa de História Militar, no Palácio da Independência, em Lisboa. Até ao fim da semana, ali se dá a conhecer a ordem internacional daquela época que dobrou mal a esquina do novo século e assim viria a sofrer duas Guerras Mundiais. Por ali se descreve, de forma estruturada e sem calores, a geo-estratégia europeia em África, a influência da Guerra Hispano-americana na gestão de novas alianças que ajudaram Portugal; o sucesso das lanchas canhoneiras nos territórios ultramarinos; o perfil do nosso diplomata Soveral; o sucesso do contacto pessoal do Rei com o Presidente francês, o impassível Kaiser, o miúdo espanhol ou o já velho Príncipe herdeiro inglês. Uma série de boas conferências devolve-nos a realidade das campanhas africanas, o poder da imprensa ou, helas!, o impacto da crise financeira provocada também pelo excesso de endividamento que as grandes obras públicas do fontismo anterior provocaram à geração vindoura. Não percam.

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sábado, 1 de novembro de 2008

Levantamento militar em curso

Ah, eu não sabia, mas a par do levantamento militar subterrâneo a que o general Loureiro dos Santos terá aludido, o livro "Porto vs Lisboa" do António Costa Santos e do António Eça de Queiroz, já está a desencadear escaramuças regionalistas graves.
Com o exército sossegado nos quartéis, foram observados movimentos de milícias populares armadas (o pau de marmeleiro em grande evidência) para defesa das urbes ofendidas. Pela evolução das hordas bairristas é previsível que haja confrontos a 13 de Novembro, às 21, na FNAC de Matosinhos, estando o empresário Manuel Serrão profundamente implicado. Combates aguerridos são igualmente esperados na alfacinha FNAC do Vasco da Gama, às 18:30 de dia 17, com o actor Miguel Guilherme comandando um corpo expedicionário de Alfama e Madragoa.
Têm dúvidas? Vejam os documentos:


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